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Tentativa falha

Longe dali, Lucien respirava com dificuldade, o peito subindo e descendo de maneira descompassada enquanto ele se encostava na parede fria do túnel. Seu corpo doía, as pernas estavam trêmulas, e seus pulmões queimavam com a corrida frenética que havia acabado de fazer. O caminho pelo túnel subterrâneo foi longo e exaustivo, mas ele não tinha escolha—ficar na mansão teria sido sua sentença de morte.

Ele fechou os olhos por um momento, tentando controlar a respiração. Tudo aquilo… para nada.

Lucien sentiu um gosto amargo subir pela garganta. A raiva fervilhava em seu peito, mas por fora, ele permanecia imóvel, o rosto escondido na penumbra do túnel. Seu plano, aquele pelo qual se dedicou por semanas, havia desmoronado diante de seus olhos. Cada risco calculado, cada mentira bem contada, cada façanha impossível… tudo tinha sido inútil.

A Lágrima de Aether havia desaparecido.

Seus dedos se fecharam em punhos, as unhas cravando na palma da mão até a pele arder. Como? Como Elias fez aquilo? Ele nem estava presente, e ainda assim, de alguma forma, o baú que Lucien abriu com tanto esforço estava vazio agora. Ele sentiu-se um tolo. Um rato tentando roubar o queijo bem debaixo do nariz de um predador que nem precisou aparecer para vencê-lo.

Lucien respirou fundo, reprimindo a frustração que ameaçava dominá-lo. Ele não podia se permitir ceder ao desespero agora. O que estava feito, estava feito. Mas uma coisa era certa—o inferno estava prestes a se instaurar. Aquela não era uma simples joia ou um item valioso qualquer. Não, a Lágrima de Aether era algo muito maior, algo que ninguém deveria ver desaparecer sem levantar suspeitas.

A guarda real já devia estar à caça dele. Cada segundo perdido significava que o cerco se fechava um pouco mais.

E, pior do que isso… Lucy.

Seus olhos se arregalaram levemente ao lembrar dela. Ele tinha que voltar para casa o mais rápido possível. O risco de os guardas começarem a interrogar crianças com sua descrição era real. Se Lucy fosse envolvida nisso, ele jamais se perdoaria.

Forçando-se a se mover, Lucien endireitou a postura e caminhou com passos apressados pelo túnel. Ele precisava desaparecer. Precisava tirar o foco dele e de sua irmã antes que tudo desmoronasse de vez.

Uma nova peça havia sido movida no tabuleiro. E, agora, Lucien não sabia mais quais eram as regras do jogo.

Lucien emergiu do túnel, os pulmões ainda lutando para recuperar o fôlego. O ar fresco da noite preencheu seus pulmões, mas não trouxe alívio algum—pelo contrário, sua mente já trabalhava no próximo passo. Ele não podia perder tempo ali. Cada segundo parado era um risco.

Ele olhou ao redor, certificando-se de que ninguém o seguia. O túnel o levou para uma área mais afastada da cidade, um pequeno bosque nos arredores da mansão. As árvores balançavam com o vento noturno, e a luz pálida da lua iluminava apenas o suficiente para que Lucien enxergasse o caminho entre as folhagens.

Ele estava prestes a correr. Seus músculos tensionaram, prontos para disparar em direção a sua casa.

Foi quando ele sentiu.

Um arrepio subiu por sua espinha, e um suor frio se espalhou por sua pele. Seus instintos gritavam em alerta, sua respiração ficou pesada.

Ele não estava sozinho.

Lucien não conseguia ver ninguém, mas a sensação era clara—alguém o observava. Não era um guarda, não era um cavaleiro. Ele teria ouvido o som da armadura ou notado a postura rígida e disciplinada dos soldados.

Não. Isso era diferente.

Era como se a própria escuridão estivesse respirando ao seu redor.

E então, ele viu.

A princípio, era apenas uma sombra entre as árvores, imóvel como uma estátua. Mas, conforme os olhos de Lucien se ajustavam, a figura ganhou forma.

Alto e esguio, um homem parado a poucos metros dele. Sua silhueta era alongada, os músculos magros, mas definidos—não a força bruta de um cavaleiro, mas o corpo esculpido de alguém acostumado ao silêncio e à precisão mortal. Seu rosto era parcialmente coberto por um capuz escuro, mas seus olhos…

Frio.

Era isso que Lucien sentiu ao encarar aquele olhar. Não havia raiva, nem ódio, nem sequer curiosidade. Apenas um vazio cortante, como se estivesse olhando para algo que não o via como uma pessoa, mas como um simples detalhe irrelevante naquela noite.

O estranho não segurava uma lâmina, mas Lucien sentia como se já estivesse com a garganta sob uma lâmina invisível.

Ele não precisava perguntar quem era. Ele já sabia.

Um assassino.

E, pior do que isso… alguém que já estava ali, esperando por ele. Como se soubesse exatamente onde ele iria sair.

Lucien tentou engolir em seco, mas sua boca estava seca. O silêncio era absoluto entre os dois.

O assassino não se moveu.

Mas Lucien sentia que, ao mesmo tempo, ele já estava em movimento.

O silêncio entre Lucien e o assassino parecia se estender por uma eternidade. O garoto não ousava mover um músculo, cada fibra de seu corpo gritava para correr, mas ele sabia que seria inútil. Aquela presença… Ele sentia que, se fizesse um movimento errado, seria morto antes mesmo de perceber.

Seus pensamentos giravam em um turbilhão caótico. Como isso era possível? Como aquele homem sabia que ele sairia exatamente ali?

Somente ele possuía a planta da casa. Somente ele sabia do túnel. Nem mesmo os guardas, nem mesmo os servos—ninguém parecia conhecer aquela passagem secreta. Ele havia confirmado isso em seus preparativos, estudado cada detalhe, cada caminho.

E, ainda assim, alguém estava esperando por ele.

Lucien sentiu o estômago revirar. Não podia ser coincidência. Não podia ser azar.

Então… quem mais sabia?

A resposta o atingiu como um soco no peito.

O homem sem nome.

Ele foi o único a dar a planta. O único que sabia do trabalho, do cofre, do artefato. O único que sabia que Lucien usaria o túnel.

Foi ele.

Lucien sentiu um gosto amargo na boca. Ele deveria ter imaginado. Não importava o que aquele homem havia prometido, não importava o que ele havia dito—no fim, Lucien não passava de uma peça em um jogo que ele nem sequer entendia.

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Mas o que isso significava? O que aquele assassino queria com ele?

O olhar frio do homem à sua frente permanecia inalterado, como se estivesse apenas esperando. Como se estivesse estudando cada pensamento que passava pela cabeça de Lucien naquele momento.

Traído.

A palavra ecoava em sua mente, e com ela veio uma única certeza.

Ele precisava sair dali. Agora.

Lucien respirou fundo, tentando controlar a onda de emoções que o assolava. O suor frio escorria por sua nuca, e seus músculos estavam tensos, prontos para reagir a qualquer movimento. Mas ele sabia que não poderia fugir. Não ainda.

Então, ele fez a única coisa que podia. Falou.

— Quem é você?

O silêncio que se seguiu foi pesado, sufocante. O homem à sua frente não reagiu de imediato. Apenas ficou ali, parado, observando-o com aqueles olhos frios e impassíveis. Era como se estivesse analisando cada traço, cada batida acelerada do coração de Lucien, cada resquício de medo que tentava esconder.

O garoto engoliu em seco. Aquele homem não era um cavaleiro real. Não vestia nenhuma insígnia, nenhuma armadura. Suas roupas eram escuras, justas, próprias para movimentos rápidos e discretos. Seu corpo era alto, esguio, mas musculoso—não com a brutalidade de um guerreiro, mas com a letalidade de alguém acostumado a matar com precisão.

Lucien sentia algo estranho nele. Algo que não fazia sentido. O homem estava parado diante dele, e ao mesmo tempo… não estava.

Era como se sua presença oscilasse entre o real e o irreal, como se seus olhos o percebessem, mas sua mente se recusasse a acreditar que ele estava ali.

Lucien respirou fundo, ignorando o arrepio que subia por sua espinha.

— Você já sabia que eu viria por aqui, não é? — Sua voz soou mais firme do que esperava. — Isso significa que alguém te disse.

Nenhuma resposta.

— Foi o homem sem nome?

Ainda nada.

A frustração crescia dentro dele. O desespero tentando se infiltrar em sua mente. Ele não tinha tempo para enigmas.

— O que você quer comigo? — Ele finalmente perguntou, dando um passo para trás, mantendo os olhos fixos na figura imóvel.

Dessa vez, houve uma reação.

Um pequeno tilintar de metal.

Lucien viu quando o homem ergueu uma das mãos e, lentamente, puxou uma adaga de sua cintura.

Um sorriso frio—quase imperceptível—se formou em seu rosto.

— Você já sabe a resposta. — A voz do assassino era baixa, arrastada, carregada de algo que Lucien não conseguia definir.

Era um aviso.

Era uma sentença.

Era o início de um jogo mortal.

Lucien correu. Correu como nunca antes.

O ar cortava seu rosto, os pulmões queimavam e seus músculos gritavam de dor, mas ele não parava. Não podia parar.

Seus passos eram rápidos, precisos, impulsionados pelo puro desespero. O instinto de sobrevivência berrava em sua mente, dizendo-lhe que fugir era a única opção. Ele não tinha chance alguma contra aquele homem.

Mas, no fundo, uma dúvida martelava sua mente—e se ele fosse um mago?

O pensamento o fez estremecer. Se aquele assassino fosse um mago, então correr era inútil. Não importava sua velocidade, não importava sua astúcia, não importava sua experiência nas ruas… ele morreria em um instante.

A incerteza pesava sobre ele, mas Lucien não hesitou. Ele continuou correndo.

Seus olhos se moveram rapidamente para trás, e foi então que seu sangue gelou.

O assassino ainda estava parado, olhando para ele.

O sorriso frio permanecia em seu rosto, como se estivesse se divertindo com a tentativa desesperada de Lucien de escapar.

Um arrepio subiu pela espinha do garoto.

Lucien virou o olhar para frente e seu coração parou.

Ele estava lá.

O homem, que segundos atrás estava parado ao longe, agora estava diante dele, na sua frente, bloqueando o caminho.

Era impossível.

Lucien travou os pés no chão, deslizando pela terra úmida ao tentar parar seu próprio corpo.

Seu coração disparou ainda mais forte. Ele sequer havia piscado.

A única explicação era terrível demais para ser verdade.

Lucien engoliu seco e, tentando manter a calma, falou:

Se é a Lágrima que você quer, eu não a tenho... Não consegui roubá-la, então que sentido tem em me matar?

O assassino ergueu uma sobrancelha, como se aquelas palavras tivessem lhe causado um leve incômodo.

O silêncio se estendeu por um segundo.

Então, com a mesma calma de antes, o homem puxou um pequeno dispositivo do bolso de seu traje.

Lucien o observou atentamente.

O assassino pressionou algo no artefato e murmurou algumas palavras. A resposta veio quase que imediatamente.

Uma única voz.

Uma voz que Lucien conhecia muito bem.

O tempo parou.

Lucien sentiu o chão sumir debaixo de seus pés.

Sua mente travou.

Seus olhos se arregalaram.

Aquela voz...

Não... Não pode ser…

O mundo ao redor de Lucien pareceu encolher, o ar ficou pesado, e sua visão se estreitou, como se tudo ao redor perdesse a importância. A adrenalina que corria em suas veias gelou no instante em que aquela voz ecoou pelo dispositivo do assassino.

Era impossível. Não podia ser.

Seus músculos ficaram rígidos, seu coração martelava dentro do peito, e sua respiração ficou presa na garganta. Ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar—uma voz que nunca deveria estar ali, naquele momento, naquele contexto.

O assassino, por outro lado, manteve-se impassível. Seu olhar frio analisava cada expressão que se passava pelo rosto do garoto. O sorriso sombrio ainda estava lá, mas agora carregava um quê de curiosidade.

Lucien sentiu o desespero crescer dentro de si.

Ele conhecia aquela voz.

Cada instinto gritava para correr, para fugir, para escapar daquela armadilha que, sem perceber, havia sido tecida ao seu redor. Mas seus pés estavam colados ao chão. O medo o impedia de se mover, mas não era apenas isso—era o choque.

Seus lábios se entreabriram, e um sussurro quase inaudível escapou:

— …Não pode ser…

O assassino guardou a adaga com uma calma que fez um arrepio percorrer a espinha de Lucien. Então, com passos lentos, deu um único passo à frente.

— Você ouviu. — A voz do homem era arrastada, carregada de uma frieza cortante. — E, pelo seu rosto… diria que não estava esperando por isso.

Lucien não respondeu.

Ele não conseguia responder.

Seus pensamentos estavam caóticos, girando em círculos, tentando encontrar uma explicação lógica, tentando negar a realidade. Mas nada fazia sentido.

Por que aquela voz?

Por que agora?

O assassino levantou o dispositivo novamente, aguardando mais instruções.

— E então? — perguntou ele, com uma calma irritante.

Do outro lado da linha, a resposta veio sem hesitação.

Fria.

Certeira.

— Traga-o. Vivo.

Lucien sentiu um arrepio violento percorrer todo o seu corpo.

Seus punhos se cerraram com força, suas pernas queriam reagir, correr, mas para onde? Não havia escapatória.

Ele não sabia para onde seria levado.

Mas tinha certeza absoluta de uma coisa:

Não queria descobrir.

Lucien mal teve tempo para reagir.

Ele viu o assassino guardar o dispositivo e dar um único passo em sua direção. Um único passo.

Foi o suficiente para Lucien sentir um pavor instintivo, como se estivesse diante de algo que ia além de sua compreensão. Aquele homem não era um guerreiro comum.

Ele recuou um passo, os músculos tensos, pronto para correr de novo. Mas foi nesse exato momento que tudo ficou borrado.

O assassino desapareceu de sua visão.

O ar ao seu redor pareceu se distorcer.

E então, uma dor aguda explodiu na base de seu crânio.

Lucien sequer conseguiu pensar.

Seu corpo inteiro travou por um segundo, os olhos arregalados, o cérebro incapaz de processar o que havia acontecido. O impacto foi preciso, brutal e ao mesmo tempo… cirúrgico.

A força não foi exagerada, mas o local atingido -o ponto exato onde a medula espinhal se conecta ao cérebro-garantiu que o efeito fosse imediato.

Seu corpo perdeu toda a força.

Sua visão escureceu.

E em menos de um segundo, Lucien já não estava mais ali.

O assassino, sem demonstrar qualquer emoção,

segurou o corpo inerte do garoto antes que ele caísse no chão. Como se carregasse algo leve e insignificante, o lançou sobre o ombro e, sem pressa alguma, deu meia-volta.

A noite engoliu sua silhueta enquanto ele se afastava, desaparecendo na escuridão.

Lucien havia sumido.