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Reflexo

A noite era escura e silenciosa, um véu de tranquilidade cobrindo as ruas desertas. Nas casas ao redor, as pessoas dormiam profundamente, envoltas em sonhos despreocupados. Para elas, o amanhã já estava planejado: trabalho, estudos, ou até mesmo um dia de descanso. Essas pessoas, aquelas que puderam decidir seus próprios destinos, foram as mais sortudas do mundo.

Esse pensamento ecoava na mente de um jovem rapaz enquanto ele se esgueirava pelas sombras. Vestia-se inteiramente de preto, da cabeça aos pés, com apenas os olhos expostos. Mova-se com cuidado, tentando evitar qualquer coisa que pudesse trair sua presença. Apesar de seu esforço, sua velocidade era lenta, quase desajeitada, resultado de um corpo frágil e mal alimentado. Felizmente, naquela noite, ele não estava sendo perseguido — ainda.

Seu objetivo era claro: furtar o suficiente para sobreviver mais um dia. Dinheiro e comida eram tudo o que importava.

Após virar vários cantos e manter-se sempre nas áreas mais escuras, o jovem chegou à frente de uma frutaria. Parou, escondido na penumbra, e observou o prédio por alguns momentos. Seu coração batia rápido, e sua respiração era ofegante, abafada pela máscara improvisada que cobria seu rosto. Ele pressionou a mão contra o peito, enganando-se.

Finalmente, deu um passo, depois outro, até estar diante do portão de ferro que protegia a entrada. Preso ao portão, um cadeado robusto o separava de seu objetivo. Ele se agachou, escondendo-se das luzes próximas, e retirou do bolso um pequeno estojo improvisado. Dentro, havia apenas duas ferramentas: um tensor e um gancho.

Com cuidado, ele modificou o tensionador na base da fechadura, aplicando uma pressão leve para simular o movimento de uma chave. Depois, inseriu o gancho na parte superior, inclinando-o levemente para encontrar os pinos internos.

Primeiro passo: sentir o mecanismo.

O ladrão moveu o gancho de metal lentamente, tocando cada pino. Um por um, eles resistiram, exigindo ajustes cuidadosos. Ele começou pelo primeiro pino, aplicando uma pressão leve com o gancho enquanto mantinha o tensionador firme. Um pequeno clique ecológico. Sinal de progresso.

Segundo passo: paciência.

O segundo pino era mais resistente. Ele ajustou a força do tensionador, evitando a pressão. Movendo o gancho em um ângulo diferente, aplicou uma pressão consistente até ouvir outro clique.

"Dois."

O ladrão limpou o suor da testa, mesmo com o frio da noite. Ele sabia que, se forçasse demais, quebrasse a ferramenta ou danificasse o mecanismo, chamaria atenção necessária.

Terceiro passo: precisão.

Com movimentos metódicos, ele encontrou o terceiro e o quarto pino. Estas eram mais simples, quase como se as técnicas fossem realizadas no mecanismo. Ambos cederam com facilidade, um após o outro, e não puderam evitar um sorriso.

Por fim, chegou ao último pino, sempre o mais traiçoeiro. Este parecia emperrado. Ele relaxou o tensionador e ajustou o ângulo do gancho, tentando encontrar o ponto exato de pressão. Depois de alguns segundos, senti um leve movimento. Ele girou o tensionador lentamente e, finalmente, reuniu a pressão de um clique final.

O cadeado se abriu com um leve clanc.

O ladrão o retirou, examinando-o por um instante antes de colocá-lo no chão. O portão estava livre, e ele o empurrou lentamente, tomando cuidado para não fazer barulho.

Na escuridão do beco, ele desapareceu, tão silencioso quanto havia chegado.

O cheiro doce das frutas tomou conta do ambiente. Apesar da escuridão, ele podia ver prateleiras repletas de bananas, maçãs, mangas, uvas e outras frutas que ele mal sabia o nome. Seus olhos brilharam, e sua fome, antes contida, veio à tona com uma força avassaladora.

Jogando a máscara de lado, ele começou a devorar as frutas mais próximas, mastigando apressado, como se temesse que fosse tirado dele. Ele sabia que não deveria comer demais, que seu corpo frágil não aguentaria, algo que havia aprendido, era que comer demais depois de passar longos períodos de fome, era letal, e poderia facilmente levá-lo à morte, mas ele não conseguia se controlar completamente.

Depois de algum tempo, sua fome cedeu, embora ainda houvesse espaço para mais. Ele se obrigou a parar. “Não vim aqui só para comer”, lembrou si mesmo.

Caminhou até o fundo da loja, onde sabia que seria seu verdadeiro objetivo. Sob uma mesa, escondida pelas sombras, havia um cofre de ferro. Era pequeno, mas pesado, com um disco de combinação que brilhava à luz fraca que entrava pelas frestas.

Ele passou os dedos pelas bordas da fechadura, sentindo cada umidade e imperfeição. Arranhões ao redor de alguns números no disco de combinação chamaram sua atenção, acompanhados de marcas mais sutis. Ele franziu a testa, armazenando a informação.

"Esses números foram girados mais vezes do que os outros. Isso é mais do que coincidência."

Ele se abaixou, posicionando o próximo ao cofre, e começou a girar o disco lentamente para a esquerda. Um leve "tic" ecológico ou no silêncio, quase imperceptível. Ele invejoso de canto.

"Os pinos internos estão respondendo. Perfeito. Agora só preciso de paciência."

Continuando com movimentos suaves, ele girou o disco para a direita, depois para a esquerda, testando cada número com atenção. Cada vez que ouvia um clique sutil, ele fazia uma pausa, gravando o ponto exato na memória.

"Sete… depois nove… talvez o último seja três. Mas a ordem... precisa ser precisa."

Com cuidado, ele pegou seu gás e inseriu na fenda da trava. Ele aplicou uma tensão delicada, apenas o suficiente para sentir quando os pinos começavam a se alinhar.

Girou para a esquerda novamente.

Primeiro número: sete.

Depois para a direita.

Segundo número: nove.

E, por fim, girou para a esquerda mais uma vez, parando no número três.

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Ele segurou a respiração por um momento, os dedos ainda mantendo a tensão no mecanismo. Então, finalmente, um som diferente ressoou — um clique mais profundo, mais definitivo. O jovem soltou o ar que nem havia percebido ser delicado, enquanto um sorriso satisfeito surgia em seus lábios.

O alarme não havia sido disparado.

Ele pensou brevemente: às vezes, força bruta era supérflua. Inteligência, no entanto, era indispensável.

A porta do cofre varia ao abrir. Lá dentro, moedas de prata e ouro reluziam. Ele pegou dez moedas de prata e duas de ouro, colocando-as no saco que carregava. Mas ele não poderia ir embora ainda. Ainda preciso de comida.

Antes de sair, enchi o saco com frutas, mas cometi um erro: ao fechar o cofre, deixei a porta bater com força. O som metálico ecoou pela loja, e ele congelou no lugar.

O alarme havia sido disparado, todo o lugar agora estava gritando e chamando por atenção. Ele sabia que tinha poucos minutos antes de alguém aparecer. Sem pensar, correu para a saída, pegando mais frutas no caminho. Seu corpo parecia mais leve, como se a adrenalina tivesse lhe dado forças.

Quando atravessou a porta e desapareceu na escuridão, podia ouvir passos ao longe. Guardas estavam vindo.

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Minutos depois, sete homens armados com espadas e usam armaduras brancas pesadas, com o brasão de uma ave descansando sobre o coração, chegaram à frutaria. No entanto, encontrei apenas uma porta arrombada, frutas espalhadas pelo chão e um cofre vazio.

— Se espalhem, procurem por cada canto e por cada lugar… não permitirei que um ladrão viva no Reino de BellSoul — Disse o cavaleiro responsável pela patrulha noturna.

Assim, os guardas se espalharam, cada um deles com avanços diferentes, leste, oeste, norte e sul. Porém, por mais que procurem, não acharão nada, nem uma pista sequer do bandido.

O cavaleiro fez uma carranca, já havia feito se passadas duas horas desde o início da perseguição. Chamar aquilo de perseguição parecia até exagero, eles nem sequer sabiam onde e como uma pessoa que havia furtado uma simples loja de frutas tinha ido parar.

Ele chamou novamente seus guardas pela magia rúnica que cada cavaleiro do reino carregava em seu peito, permitindo a comunicação por grandes distâncias.

Essas runas foram escritas por um grande mestre, e ela já havia sido útil durante anos, ajudando o reino a se manter seguro. Porém hoje, um mero ladrão, havia sido mais esperto e mais rápido que um cavaleiro real com acesso à magia rúnica.

— O ladrão deve ser alguém ágil, capaz de desaparecer antes mesmo que percebamos sua presença. Parece que estamos lidando com alguém experiente, alguém que conhece bem as sombras e os caminhos da noite. Mas não temam! Ele pode ser rápido e astuto, sim, mas nós somos mais fortes, mais determinados. E isso, meus homens, é tudo o que importa! Na próxima oportunidade, não falharemos. Esse crime, seja ele quem for, cairá diante de nós. Não há lugar seguro para quem ousa desafiar a ordem real.

O cavaleiro falou com firmeza, tentando esconder a vergonha que a corrosão por dentro. Permitir um furto sob sua supervisão foi um golpe duro para sua honra. Sete homens, treinados e armados, não foram suficientes para capturar um simples ladrão. A única forma de preservar sua dignidade era refletida em habilidades extraordinárias, dignas de um adversário formidável. Afinal, era mais fácil engolir o orgulho quando o inimigo era exaltado como alguém à altura de sua força e treinamento.

— Ele virou-se para a loja, emitindo uma ordem firme aos guardas:

— Verifique novamente o local. Desta vez, faça-no com atenção redobrada. Procurem qualquer vestígio, por menor que seja.

Os guardas acataram a ordem, entrando no estabelecimento para inspecioná-lo cuidadosamente. Enquanto isso, o cavaleiro convida do lado de fora, algo chama sua atenção.

Um balde de lixo tombado jazia na frente da loja. Ele franziu a testa, o olhar fixo no objeto fora do lugar. Sua memória não o traía: ao sair em perseguição ao ladrão, aquele balde estava em pé.

— Um gato de rua, talvez? — murmurou para si mesmo, mas sua intuição sussurrava outra coisa. Algo não estava certo.

Ele se move lentamente, os olhos atentos a cada detalhe ao redor. Apesar da explicação plausível, sua mente se recusava a aceitar que fosse apenas um acaso. Um pressentimento inquietante crescia em seu peito, como um tambor silencioso marcando o ritmo de sua desconfiança.

Parou diante do balde e, agachando-se, começou a inspecioná-lo. Era pequeno, e não havia lixo algum dentro, o que fazia sentido: a coleta havia sido feita naquela tarde. Ainda assim, algo brilhou no fundo, chamando sua atenção como um farol em meio à escuridão.

O cavaleiro esticou a mão com cautela, os dedos roçando o metal frio. Quando você finalmente segurou o objeto, o visual foi à luz e prendeu a respiração.

Era uma moeda de prata, deixada para trás como uma marca silenciosa da ousadia do ladrão.

Seu corpo ficou tenso, os dentes cerrados em frustração. Ele segurou a moeda com força, como se o metal fosse a única coisa impedindo-o de gritar de raiva.

E então, em um tom baixo e carregado de fúria, murmurou:

— Filha da puta.

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Algumas ruas adiante, o responsável pelo furto ficou encostado em uma parede de pedra fria. Seu peito subia e descia de maneira descompassada, ou entra com dificuldade em seus pulmões. Seu corpo magro tremia de exaustão, e suas roupas estavam encharcadas de suor. Ele precisa se mover, mas suas pernas feitas de chumbo, mal o obedecendo.

O que ele havia feito não era apenas ousado; era calculista. A adrenalina ainda corre por suas veias, mantendo-o alerta mesmo que seu corpo protestasse. Ele não tinha força para enfrentar os guardas armados, nem velocidade suficiente para fugir sem ser prático. Então, confiou em sua única arma verdadeira: a manipulação.

Antes de deixar a loja, ele havia planejado cada detalhe de sua fuga. Atirou frutas ao chão e deixou a porta entreaberta, criando uma cena que gritava "fuga às pressas". A intenção era clara: enganar os guardas, fazer com que acreditassem que ele havia saído correndo ao ouvir o alarme.

Quando os guardas chegaram, resgataram o caos que ele havia deixado para trás. O chão coberto de frutas espalhadas, a porta aberta escancarando o crime. Sem hesitar, dividiram-se em várias direções, cada um seguindo um caminho na esperança de capturá-lo rapidamente.

Mas nenhum deles percebeu o maior erro que cometeram: o ladrão nunca deixou a loja.

Escondido dentro de um balde de lixo vazio, ele aguardava pacientemente. O recipiente, previamente preparado para sua fuga, o encobria completamente. Sua respiração era mínima, o coração batendo forte contra o peito escutava enquanto os passos apressados dos guardas deixavam o local.

O tempo passou lentamente, cada segundo parecia uma eternidade. Quando o silêncio finalmente tomou conta, ele sabia que era seguro se mover. Com cuidado, abriu o balde e saiu, empurrando-o no processo. O som metálico do objeto tombando ecoou pela noite, mas ele foi focado demais para se importar.

Sem olhar para trás, escondido nas sombras, movendo-se furtivamente por cada canto escuro, evitando qualquer fonte de luz que pudesse traí-lo. Ele era metódico, quase uma sombra no ambiente, mas sua mente não deixava de registrar cada batida de seu coração frenético.

Agora, horas depois, ali estava ele, encostado na parede. Seu corpo protestava, exausto pela tensão e esforço, mas sua mente insistia em um único pensamento: havia conseguido. Ele acabou de realizar o que, para ele, era o crime perfeito.

Logo ele forçou-se a continuar, virando duas esquinas até chegar em casa. Uma construção minúscula, feita de madeira velha. Aquela era sua casa.

Entrando em silêncio, colocou as frutas nas prateleiras vazias e conferiu o saco de moedas, ele havia pego dez moedas de prata e duas de ouro, no entanto, uma moeda de prata estava faltando, o que não o deixou nada feliz. Após conferir, ele escondeu o saco de moedas atrás do espelho no armário. O som das moedas tilintando despertou alguém.

— Lucien? — Uma voz infantil chamada.

Ele se virou e encontrou a irmã mais nova, Lucy, esfregando os olhos. Seus cabelos negros estavam bagunçados e suas roupas estavam amassadas.

— O que você está fazendo acordado? isso não é hora de criança acordar! — Disse ele, tentando parecer zangado.

A garota, no entanto, retribuiu, fazendo uma careta e olhando para ele ferozmente.

— Você também é criança. Por que você está acordado?

Lucien ficou olhando para ela por alguns segundos, mas logo virou-se e se encontrou com o espelho do armário. Seu reflexo o encarava: um garoto de 13 anos, magro e com olhos sombrios demais para sua idade, isso era o que ele via no espelho. Ele suspirou e foi encontrado para a irmã.

— Tem razão. Vamos dormir.

Segurando a mão dela, levou-a de volta para a cama e esperou ela dormir novamente. Por hoje, pelo menos, eles tinham o que comer.

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