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IV - AS CORRENTES DO PASSADO

Eva segue Yuri e os outros com uma expressão de desconforto. As paredes gigantescas e o ambiente parecem sufocantes, mas Lilih segura no ombro de Eva e fala de uma forma suave. Sua irmã parece ter notado seu desconforto e sabe que é algo além de paredes sufocantes.

— Professor, poderia ir à frente com os outros? Eu queria dizer algo para Eva antes da gente entrar. É algo pessoal... Não se preocupe, ainda vamos alcançar vocês.

— Tudo bem, mas seja rápida e nada de se atrasar, Lilih. Estou de olho em você.

Os outros olham para as duas de canto de olho, mas continuam indo. Yuri pensa em perguntar a Eva se ela está bem, mas decide não incomodar e continua andando ao lado de Calisto, que também está preocupada, mas sabe que Lilih pode lidar com seja lá o que for.

Eva a olha confusa e querendo sair dali, pois já sabia o que sua irmã iria lhe dizer. Aquela situação parecia apertar o estômago dela...

— Lilih, eu não sei se estou pronto para voltar. Aquele dia me atormenta até hoje...

Seu semblante fica para baixo, mas Lilh olha para Eva, agarrando forças em algo inexistente para confortar a irmã.

— Vai ficar tudo bem, mana, e eu estou aqui para te ajudar, mesmo não sendo de tanta ajuda. Eu queria tanto que aquele dia da morte do papai não te deixasse assim, mas infelizmente somos obrigados a lutar, mesmo estando mal. Mas saiba que estou aqui, e me desculpe por todas essas coisas que você passou. Eu não entendo o seu trauma, mas também sinto falta do papai.

Eva a encara com um olhar vazio e a abraça em seguida, com um abraço apertado e inesperado que Lilih não ganhava há tanto tempo.

— Eu não queria, mas preciso enfrentar meu pesadelo. Eu só queria que a última vez que eu o visse não fosse aquele dia. Eu nem pude me despedir, mas preciso me fortalecer ou vou morrer. Sei que todos ainda vamos, mas eu não estou afim que a minha morte seja tão cedo e sem fazer nada para mudar isso.

— Você não vai morrer. Sei que posso continuar, mas isso é uma luta diária. Não é apenas contra essas criaturas, mas sim contra nós mesmos e nossos fantasmas do passado, maninha.

Lilih desfaz o abraço e vai caminhando até a porta que está logo à frente. Eva caminha até ela e se perde em pensamentos.

“Será mesmo que eu consigo? Eu não sou uma guerreira ou algo do tipo. Sou apenas uma garotinha cheia de medos, e tenho tanta saudade de você, papai. Queria que as coisas fossem diferentes. Eu não consigo mais viver sem você, mas preciso aprender a viver sem você.”

Eva adentra a porta que ilumina seu rosto com as imensas luzes ao teto de um lugar que se parece um estádio. Abaixo está uma parte sólida com um tipo de ringue, uma quadra com bordas deslizantes, substituindo as arquibancadas.

“Os outros apenas estão me esperando... Espero não aparentar estar deprimida”. De qualquer forma, ela falha quanto a isso, pois Lilih perdeu seu sorriso animado. Ela é tão rápida para tudo: rápida para ficar brava, rápida para ficar feliz e rápida para ficar deprimida.

Uma voz grossa e firme a tira de seus pensamentos.

— Rosa, você poderia vir até aqui? Isaac já está morrendo de esperar por você.

Eva então vai até o lugar e desliza sobre as bordas, chegando até todos. Calisto a olha com um olhar preocupado e de alguém que vai a penalizar por algo. Talvez deslizar dessa forma tenha sido perigoso, mas há uma escada no canto que ela não notou.

— Ei, Ervinha... digo, Evinha, você perdeu o aquecimento para começar. Vai ficar sem rango hoje como penalidade.

Ela solta um sorriso de lado, e Calisto fica com uma expressão de “Era isso que eu queria ver”.

— Então, senhorita Eva, o que você acha? Consegue lutar aqui ou é demais para você?

Eva tenta se mantem firme diante da pergunta do professor, mas responde rapidamente.

— Sim, eu acho que sim...

— Então vamos tirar times.

Isaac olha com um olhar de desdém e propõe mudar isso para algo que o deixe satisfeito. “Cara rabugento.”

— Senhor, de que forma iremos tirar times? Acho que para um certo alguém seria muito desequilibrado.

— Escute Guerra, não quero idiotices aqui, viu? Não é para matar quem está enfrentando, é apenas algo para ver como está o ataque e defesa de ambos... Não é como se isso valesse a vida de cada um, mas tenho algo interessante em mente.

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O Professor Martin então olha para Eva e se lembra do General. Ele começa a ficar cada vez mais pensativo; ver ela agindo parece um tanto interessante.

Kaiki vs Calisto

Lilih vs Yuri

Eva vs Isaac

Lilih protesta sobre sua última decisão, mas Martin apenas a repreende com um grito, mandando-a ficar quieta. Ela permanece em silêncio, aceitando com relutância. Sua voz não é nada diante de seu superior, é como um estrondo contra algo suave.

— Me mostre suas habilidades, filha do general. Acredito que você possua a mesma habilidade que ele, e isso me deixa muito curioso. Está na hora de soltar o pássaro da gaiola, e Isaac, se fizer alguma gracinha, eu corto o seu pescoço. Quero que a primeira luta seja entre vocês.

Todos se distanciam, estando no piso acima da arena. Calisto olha preocupado para Lilih, que murmura ao ver o que ele está fazendo. Um pensamento de preocupação surge em Lilih ao saber que sua irmã não está preparada para enfrentar o arrogante de Isaac. Yuri apenas observa, sabe do que está por vir. Kaiki só está torcendo para que Isaac não quebre os ossos dela.

Isaac olha para Eva e a confronta.

— Por que você está aqui? Só porque você é filha daquela cara lá?

Eva serra os olhos ao ouvir as palavras imundas de Isaac. Ele continua, mas Eva o interrompe.

— Vamos lutar ou vai ficar aí de maracutaia? Nojentinho!

Isso foi bastante para irritar Isaac. Ele desfere um golpe irracional em direção ao rosto de Eva, e ela se defende cruzando seus braços em volta do pulso dele, ou agarrando. Ele sente dor e rapidamente o solta, fazendo com que ele recue para trás.

— Casca grossa, hein? Isso era óbvio para uma altona como você, quase mais alta que eu, hein... Diferente da baixinha da sua irmã.

Lilih rosna de raiva ao ouvir isso, mas se acalma quando Kaiki toca seu ombro. Pensando, ele nota o quanto Isaac deixa Lilih brava; é como o risco de um isqueiro. As palavras de Isaac fazem as chamas dela se acenderem, provavelmente as de qualquer pessoa.

— Você tem certeza de que vocês são irmãs? Você é mais alta (1,73) e sua irmã é uma baixinha de nada (1,58). Seus tons de pele são diferentes. Pelas histórias, o General não foi pardo como você.

As palavras de Isaac desestabilizam Eva. Seu plano era isso desde o início. Ela desfere um golpe contra sua costela, mas Isaac contra-ataca com uma joelhada, fazendo-a perder o rumo e cambalear para longe dele.

— Você é como sua irmã, só fala um pouco e já dá para abalar. Não adianta vir toda brava para o meu lado. Eu apenas estou esquentando.

Ela toca em seu rosto e tenta se manter de pé. Eva pulsa em raiva, mas não se deixa dominar por isso.

— Argh! E você fala demais.

Em um descuido de Isaac, ela pula em direção ao mesmo e acerta seu rosto com um soco que o faz recuar para trás com o impacto. Seus braços pairam no ar enquanto sua cabeça tomba para trás.

— Eu ainda não esqueci!!!

Eva rapidamente segura as mãos de Isaac e tenta desferir uma cabeçada. Ele, desesperado, aperta os pulsos de sua inimiga, fazendo-a recuar e soltando-a no processo.

—Ahh! E-u só es-tou brincando com você. Hora de pegar pesado com a novata!

Martyn observa Lilih e Eva após o que Isaac havia dito aqui. Elas são iguais, mas há algo que as torna iguais. Ele tenta buscar no fundo de seus pensamentos o que é, mas não consegue.

— Lilih, mesmo com as diferenças, vocês são filhas do general afinal de contas. Querendo ou não, vocês são como ele.

Lilih apenas responde com silêncio, sua atenção está toda em sua irmã.

“O que ele está falando? Eu estou preocupado com a maninha... Se eu pudesse sair daqui... Encheria a cara daquela trouxa lá embaixo de tapa”.

Isaac vai para cima de Eva, desferindo vários socos em seu rosto. Ela não consegue reagir bem, é como desviar de um soco, mas ser acertada por outro. Isaac sabe muito bem usar as duas mãos. Eva fica desnorteada, mas ainda está defendendo com as mãos, protegendo seu rosto de forma desajeitada.

— Por que você não usa sua maestria? Eu nem preciso usar a minha para te vencer.

Eva é jogada ao chão com um gancho bem dado no queixo. Ela permanece caída e desnorteada à frente de Isaac, que caminha até ela.

— O seu lugar não é aqui, sabia?

Eva tenta se levantar, dolorida e luta para se manter em pé.

“Eu não consigo usar a habilidade do papai... mas se continuar assim não vou provar meu valor. Que se dane meus sentimentos, eu já estou morta por dentro mesmo.”

Ela então estala o pescoço quando se levanta, até parece que ela jogou os pensamentos como uma toalha, Eva parte pra cima de Isaac, dando um soco mais firme. Ele segura o punho dela com facilidade, mas Eva pisa no seu pé com toda a força. Isso deixa Isaac irado, mas sua ira não o faz escapar de um cruzado de esquerda bem em cheio na cara.

Ele tropeça e cai de bunda no chão, gemendo de dor, e depois levantando com dificuldade, ele acaba notando os olhares de todos o perfurando.

— Argh! Merda, está na hora de eu mostrar como verdadeiros guerreiros lutam. Aprender a brincar de lutinha não vai te ajudar!!!

— Professor Martin, ele vai machucá-la com isso!

— Quietinha, Lilih. Creio que não vá deixá-la tão mal. Há perigos piores lá fora. Não quero que você passe a mão na cabeça dela só por ser sua irmã.

Yuri se mantém em silêncio juntamente com Kaiki, ambos já sabem as regras e a resposta do professor se contestasem.

— Maestria do Armeiro Negro.

Uma lâmina negra surge sobre o punho de Isaac, parece bem afiada,se assemelha a um punhal gigante saindo do seu punho. Eva olha surpresa ao ver sua maestria e se espanta com a habilidade de Isaac, mas ainda se mantém firme.

Isaac parece subestimá-la com um sorriso, a menosprezando. Ele tenta golpeá-la, mas Eva desvia ,inclinando seu corpo ligeraimente e apenas pega de raspão em seu rosto, deixando um pequeno corte.

— Como é a maestria de um Rank B-? Eu poderia fazer isso o dia todo contra você, até sem usar meu verdadeiro potencial.

— Saiba que eu não tenho medo desse seu espeto de carne!

Isaac então emite um brilho preto em seus olhos e sua energia se funde ao seu punhal negro, formando uma broca negra de energia. Seu poder pulsa em um espiral, fazendo com que seu punhal se torne uma broca. Ele desfere um golpe contra Eva, que está sem escapatória, prestes a ser perfurada. Lilih se prepara para correr até o local, mas é segurada por Martin, que a puxa de forma grosseira, e olhando profundamente em seus olhos. Os outros permanecem apreensivos.

Isaac nota que sua broca não está perfurando e parece estar enroscada em algo. A poeira se mantém alta enquanto ele tenta perfurar, mas é surpreendido pelo som de dobradiças rangendo. Seus olhos se arregalam quando a poeira baixa e ele notaque Eva está segurando sua broca com uma de suas mãos nua.

— Como? Como isso é possível? Que truque de merda você está usando, SUA FRACASSADA!??

Eva então segura a broca com uma de suas mãos, impedindo-a de perfurá-la. O choque que Isaac se encontra o deixa desnorteado; seu ego se tornou seu próprio veneno.

— Maestria do Soldado Blindado!!!

O impacto da broca sobre suas mãos é absorvido, fortalecendo-a e fazendo-a desferir um grande soco contra Isaac, mandando-o para longe com um rastro de sangue pairando sobre o ar. Eva vai ao chão de joelhos com o braço machucado. Possivelmente, o impacto ocorreu em seu braço. O terror em seu rosto desaparece quando ele desliga chocando contra a parede.

— Yuri, vá curar Isaac imediatamente. Kaiki, ajude-o como puder. Calisto, veja se Eva está bem, e Lilih, você tem permissão para ajudar-la agora!

Em disparada, todos vão até seus objetivos para ajudá-los. Mesmo com Isaac apagado, Yuri o cura, mas não há como evitar os gemidos de dor por sua cura angustiante. Os ferimentos desaparecem juntamente com o sangue, mas ele continua apagado, praticamente dormindo.

Calisto levanta o rosto de Eva, que estava baixado, e a encontra com lágrimas escorrendo pelos seus olhos. Seu corpo se contorce e seu peito luta em busca de ar, mas falha, resultando em espasmos. Ela olha sem entender o que está acontecendo. A preocupação toma o seu olhar.

—Eva? O que está acontecendo!? Me fala!

Ela começa a ter mais e mais espasmos por não conseguir respirar. Lilih arregala os olhos, incrédula, e grita com Calisto para curá-la imediatamente. Confusa, ela fica em choque, e a cura imediatamente. Seu braço fica melhor, mas Eva continua em seu estado de pânico agonizante, soltando algumas palavras sem sentido.

— Eu FSSSS Não quero PE-rde-lo FSSSS NOVAMENTE.

Lilih grita de desespero, esperando por Martin, enquanto Eva se contorce de uma forma perturbadora, com seus pulmões buscando por ar. O desespero e o medo se fundem em seu semblante.

— Martin, Eva não está melhorando. Calisto já tentou curar, mas ela não fica bem!!!

Martin então vai em direção a elas rapidamente, abandonando Kaiki e Yuri, que ficam sem entender nada.

— Senhor, eu não sei o que está havendo. Não há nenhuma ferida, e ela está dessa forma!!!

— ESTÁ NÃO VENDO?! ELA ESTÁ TENDO UM ATAQUE DE PÂNICO!!! ME AJUDEM A LEVÁ-LA ATÉ A ENFERMARIA, RÁPIDO, LILIH, ME AJUDE!!!

Estas foram as últimas palavras que Eva escutou antes de tudo escurecer, tudo se distorcendo como uma escuridão sem fim.