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Um Obstáculo

O professor entrou na sala, carregando um monte de papéis. O barulho das conversas diminuiu um pouco, mas ainda havia risos e murmúrios espalhados pelo ambiente. Alguns alunos estavam encostados nas janelas, aproveitando os últimos momentos de descontração antes da aula começar. O sol matinal iluminava a sala, criando sombras longas nas paredes.

Ele se aproximou da mesa e bateu levemente as mãos, chamando a atenção de todos. Seu olhar era firme, mas não severo, refletindo uma mistura de autoridade e compreensão que rapidamente silenciou as conversas.

— Pessoal, silêncio, por favor — disse ele com uma voz firme, mas calma — Precisamos tratar de um assunto importante.

O ambiente parecia tenso, como se a seriedade das palavras do professor tivesse criado uma nuvem de expectativa na sala. Ele ajeitou os óculos e folheou os papéis em suas mãos, fazendo uma breve pausa antes de continuar.

— Como vocês sabem, ainda não temos um representante da turma oficial e nem um vice representante. Precisamos de dois voluntários. — Ele fez uma pausa, olhando ao redor da sala, avaliando a reação dos alunos — Alguém gostaria de se candidatar ao cargo?

A sala ficou em silêncio por um momento, até que uma das alunas, Yumi, levantou a mão.

— Eu acho que a representante devia ser a Yuki! — disse ela, com um sorriso.

Outros alunos começaram a reagir, cada um à sua maneira. Alguns assentiram com entusiasmo, enquanto outros sussurraram entre si.

— Yumi, acha mesmo que a Yuki seria uma boa representante? — perguntou uma amiga, curiosa.

— Claro! Ela é sempre tão prestativa e organizada. Quem mais poderia ser? — respondeu sorrindo.

Alguns alunos próximos concordavam com ela.

— Sim, a Yuki sempre nos ajuda com os trabalhos em grupo — comentou um garoto do fundo da sala.

— E ela é tão simpática. Todo mundo gosta dela — acrescentou outra menina, com um olhar de admiração.

No entanto, nem todos pareciam tão convencidos com a ideia de escolher Yuki para representar a sala.

— Não sei, a Yuki é legal, mas talvez devêssemos considerar alguém mais firme — disse um outro aluno, cruzando os braços — Alguém que saiba ser mais assertivo.

A turma começou a murmurar, dividida em opiniões.

— Sim, eu concordo. A Yuki é ótima, mas será que ela tem pulso para lidar com tudo isso? — perguntou uma garota de cabelo curto, franzindo a testa.

— Claro que tem, não existe alguém melhor que a Yuki para representar a sala! — respondeu outra aluna

Yuki corou imediatamente, olhando ao redor em busca de apoio.

Eu? Não, não... acho que não sirvo para isso — disse Yuki, tentando recusar com um sorriso tímido, suas mãos tremendo levemente enquanto segurava o caderno.

— Claro que serve, Yuki! Você é responsável e todos gostam de você! — insistiu Ayumi, animada, colocando uma mão reconfortante no ombro de Yuki.

— Você sempre está lá para ajudar todo mundo, Yuki. Seria a representante perfeita! — um colega comentou com entusiasmo, fazendo Yuki corar ainda mais e morder o lábio inferior de nervosismo.

Yuki olhou para o professor, que também parecia encorajador, e soltou um suspiro profundo antes de finalmente assentir.

— Tudo bem... eu aceito — disse ela finalmente, ainda um pouco hesitante, mas sorrindo.

O professor assentiu com um sorriso.

— Ótimo, Yuki. Agora, precisamos de um voluntário para o cargo de vice-representante. Algum candidato?

Vi Rintarou olhar pra mim, era como se ele estivesse me incentivando a me voluntariar. Meu coração começou a bater mais rápido. Esta era minha chance de ficar mais próximo de Yuki, de passar mais tempo com ela. Hesitei por um momento, tentando reunir coragem para levantar minha mão.

Enquanto eu lutava com meus pensamentos, sentindo um nó se formar no estômago, outro aluno levantou a mão antes que eu pudesse reagir.

— Já que ninguém se voluntaria, eu aceito o cargo! — disse ele com confiança.

Era Kazuki, um garoto novo na escola, mas que já havia conquistado a admiração de muitos por seu carisma e boa aparência. Ao ouvir sua voz, senti meu coração afundar. Sua confiança era contagiante, e eu não podia deixar de notar como ele fazia amigos com facilidade. Minhas mãos começaram a suar e um frio percorreu minha espinha

Alguns alunos próximos começaram a sussurrar entre si, concordando com sua decisão.

— Kazuki sabe como se destacar, não é? Ele vai ser ótimo nesse papel — comentou uma colega, impressionada com sua confiança.

— Concordo. Ele sempre parece saber o que fazer — respondeu outro aluno.

Porém, algumas vozes de oposição se levantaram.

— Mas ele é novo aqui, será que conhece bem o suficiente a escola e a turma? — perguntou uma garota da primeira fileira, levantando uma sobrancelha.

— Isso é verdade, não sabemos muito sobre ele ainda — concordou um aluno do fundo da sala.

O professor aceitou imediatamente, e Kazuki se levantou com um sorriso confiante, caminhando até a frente da sala ao lado de Yuki. Quando ele sorriu para ela, senti uma pontada de ciúmes, como se ele estivesse reivindicando um território que não lhe pertencia.

— Conto com você a partir de agora, Yuki — disse ele, piscando.

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Eu me senti desmoronar por dentro. Não só tinha perdido a chance de me voluntariar, mas também Kazuki, o garoto que todas as meninas adoravam, estava agora no papel que eu desejava. Sentia-me pequeno e insignificante ao lado dele. Para piorar, ouvi uma garota sussurrar para outra:

— Ei, eles não dariam um belo casal? — perguntou ela.

— Eu acho que eles combinam perfeitamente um pro outro! — respondeu a amiga.

Minhas pernas ficaram trêmulas e meu peito apertado. Queria sair correndo dali, mas estava preso no meu lugar, sentindo cada palavra como uma facada.

A sala ficou cheia de conversas animadas sobre a escolha dos representantes, mas tudo isso parecia distante para mim. O resto da aula passou como um borrão. Meus dedos tamborilavam na mesa, cada batida ecoando meus pensamentos de insegurança. E se Yuki se apaixonasse por Kazuki? Como eu poderia competir com alguém tão perfeito? Apertei os punhos, tentando afastar a sensação de impotência.

No intervalo, tentei não demonstrar meu desânimo. Rintarou e Seiji sugeriram dar uma volta para comprar algo para comer, e eu concordei, precisando desesperadamente de uma distração.

— Vamos até a cantina, estou faminto! — disse Seiji.

— Boa ideia. Talvez um lanche melhore seu humor, Shin — acrescentou Rintarou, tentando me encorajar.

Enquanto caminhávamos para a cantina, Seiji começou a falar sobre os planos para o fim de semana.

— Ei, Shin, já pensou em irmos ao novo fliperama que abriu na cidade? Ouvi dizer que tem alguns jogos clássicos incríveis — disse Seiji, animado.

— Parece divertido — respondi, tentando acompanhar o entusiasmo dele.

— Ótimo! Podemos convidar o pessoal todo. Vai ser bom pra tirar a cabeça dessas preocupações da escola, né? — ele sugeriu, dando um leve soco no meu ombro.

Sorri, sentindo-me um pouco melhor. Talvez uma distração fosse exatamente o que eu precisava.

Continuamos caminhando pelos corredores, conversando sobre os planos para o fim de semana, quando, de repente, vi Yuki. Ela estava conversando com Kazuki. Meu coração afundou ainda mais. Eles pareciam tão naturais juntos, rindo e conversando.

Meu olhar involuntariamente se fixou neles, que conversavam animadamente à minha frente. Observando-os, uma mistura de admiração e ciúmes tomou conta de mim. Kazuki irradiava carisma e confiança, enquanto eu me sentia pequeno e inseguro. Como poderia eu, com minha timidez e hesitações, competir com alguém tão seguro de si? Cada risada de Yuki em resposta às palavras dele parecia uma facada no meu orgulho, ampliando minha sensação de inadequação.

— Ei, Shin, está tudo bem? — perguntou Seiji, percebendo meu silêncio.

— Sim, está tudo bem — menti, forçando um sorriso — Estou com muita fome, vamos comprar algo logo.

Fizemos nosso caminho até a cantina, mas eu não conseguia tirar os olhos deles. Cada risada que ela dava em resposta a algo que ele dizia era como uma facada no meu coração. Me senti tão impotente e insignificante.

Enquanto estávamos na fila, Rintarou tentou me animar.

— Não se preocupe tanto com isso, Shin. Você ainda tem chances com ela. O cargo de vice não define tudo.

— Eu sei, mas... Kazuki é tão popular. Como posso competir com ele? E se a Yuki se apaixonar por ele? Eu não teria nenhuma chance se isso acontecer — admiti, sentindo um nó na garganta.

— Popularidade não é tudo. Você tem suas próprias qualidades. Só precisar ser você mesmo — disse Seiji, dando um tapa nas minhas costas, tentando me encorajar.

Durante o intervalo, depois de finalmente pegar nossos lanches, Seiji sugeriu irmos até o jardim nos fundos da escola, um lugar menos movimentado onde poderíamos conversar com mais tranquilidade.

— Boa ideia. Talvez o ar fresco ajude a clarear a mente — disse Rintarou, olhando para mim de maneira encorajadora.

Enquanto caminhávamos para lá, encontramos novamente Yuki e Kazuki no caminho. Eles estavam pareciam estar procurando alguém enquanto discutiam sobre a organização de um evento escolar.

— Ah, aí estão vocês! Precisamos ouvir algumas ideias para o festival esportivo do próximo mês — disse Kazuki animado.

Sentamos todos juntos em um círculo no gramado. Yuki pegou um caderno e começou a anotar as sugestões.

— O que vocês acham de organizarmos uma corrida de obstáculos? — sugeriu Yuki, olhando para todos.

Seiji, que sempre gostava de desafios físicos, respondeu com entusiasmo.

— Parece divertido! Mas talvez também pudéssemos adicionar algo mais criativo, como uma seção de desafios surpresa.

Rintarou, conhecido por ser o estrategista do grupo, ponderou por um momento antes de falar.

— Isso poderia ser interessante. E talvez pudéssemos incluir um quiz com perguntas sobre a escola ou temas que estamos estudando. Isso envolveria mais alunos com diferentes habilidades.

— Ótimas ideias! Vamos anotar isso — disse Kazuki, sorrindo.

Vi que todos deram uma sugestão, até mesmo Rintarou, eu também queria participar na conversa e mostrar que eu também poderia ser útil.

— E que tal uma corrida de revezamento? — sugeri — Poderíamos fazer com equipes mistas. Além de ser emocionante, promoveria o trabalho em equipe e seria divertido para todos.

Yuki sorriu, animada com a sugestão de Shin.

— Adorei a ideia, Shin! Uma corrida de revezamento seria muito emocionante e ajudaria a unir a turma. Vamos anotar isso também.

— Boa, Shin. Uma corrida de revezamento seria excelente para promover o trabalho em equipe. Ótima sugestão. — Kazuki assentiu, concordando

Mesmo com a colaboração, eu me sentia deslocado. A cada risada e troca de olhares entre Yuki e Kazuki, meu coração apertava mais. Eu sabia que precisava lutar contra esses sentimentos de inferioridade e mostrar a Yuki que eu também podia ser uma boa companhia e um líder.

Enquanto o sol brilhava no pátio da escola e os risos dos meus amigos enchiam o ar, decidi que não desistiria. Kazuki poderia ser popular e carismático, mas eu tinha minha própria força e sentimentos verdadeiros por Yuki. E estava determinado a mostrar isso a ela.

Enquanto o intervalo se desenrolava, percebi que havia esquecido de entregar uma tarefa importante. Meu estômago revirou. Além dos problemas com Yuki e Kazuki, agora eu tinha que lidar com a possibilidade de uma bronca do professor.

Com o coração acelerado, caminhei rapidamente até a sala de aula para encontrar o professor. Quando cheguei, ele estava organizando alguns papéis em sua mesa.

— Com licença, professor... eu... eu esqueci de entregar minha tarefa mais cedo — disse, sentindo-me culpado.

Ele olhou para mim por cima dos óculos, com um olhar de leve desapontamento, mas também de compreensão.

— Shin, você sabe como é importante cumprir os prazos, não sabe? — disse ele, suspirando levemente — Isso faz parte da responsabilidade que vocês precisam aprender.

— Sim, professor. Eu realmente sinto muito. Foi um dia complicado e acabei me distraindo com outras coisas — expliquei, envergonhado.

— Entendo que às vezes temos dias difíceis, mas precisa encontrar maneiras de gerenciar isso. Está vendo esses papéis? São outras tarefas que seus colegas entregaram pontualmente. Vou aceitar sua tarefa desta vez, mas quero que se esforce mais para cumprir os prazos no futuro, está bem? — ele respondeu, pegando a tarefa da minha mão.

— Obrigado, professor. Prometo que não vai acontecer de novo — assegurei, sentindo um peso sair dos meus ombros.

— Tudo bem, Shin. Vá para o seu lugar, o intervalo já está acabando, e se organize melhor para não passar por isso novamente — disse ele, voltando a organizar seus papéis.

— Pode deixar, professor. Obrigado pela compreensão — respondi, aliviado.

Após entregar a tarefa, voltei e sentei-me no meu lugar, determinado a fazer o meu melhor. Kazuki poderia ser um obstáculo, mas eu não deixaria isso me impedir. Eu mostraria a Yuki quem eu realmente era e conquistaria seu coração, de uma forma ou de outra.

O resto da aula passou em um borrão, mas eu conseguia sentir um novo senso de propósito. À medida que o sol começava a se pôr, pintando o céu de laranja e rosa, eu me despedi de Rintarou e Seiji, prometendo encontrar com eles no fliperama no fim de semana.

Caminhei lentamente para casa, refletindo sobre os eventos do dia. O caminho estava quieto, apenas o som dos meus passos ecoando na calçada. Sabia que enfrentaria desafios pela frente, mas sentia uma nova confiança crescendo dentro de mim. Precisava acreditar mais em mim mesmo.

Ao chegar em casa, fui direto para o meu quarto e me joguei na cama, exausto. Olhei para o teto, perdido em pensamentos. Kazuki, o novo vice representante da turma, seria difícil de lidar, mas eu estava determinado a fazer o meu melhor, tanto nos estudos quanto em ganhar o coração de Yuki.

— Um passo de cada vez, Shin. Você consegue — murmurei para mim mesmo, fechando os olhos.

Com um sorriso leve nos lábios, deixei o cansaço do dia me levar ao sono, ansioso pelo que o amanhã traria.