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Eu vou te ajudar!

Saí da biblioteca com passos pesados, o vento frio da noite abraçando meu corpo enquanto minha mente rodava em círculos. O que eu havia feito? Desafiar Ryuuji parecia agora uma decisão impensada, um impulso desesperado de provar algo, talvez para ele, mas principalmente para mim mesmo. No entanto, a realidade era dura: eu não estava nem perto do nível dele.

A caminhada até em casa foi longa, mesmo que ela fosse curta. Cada passo ecoava na minha mente, lembrando-me do olhar soberbo de Ryuuji e de suas palavras cruéis.

"Ah, sim. Eu lembro. A sua história era... horrível"

Eu havia dito que iria enfrentá-lo, mas como? Ele era um gênio da escrita, enquanto eu... bem, eu ainda estava aprendendo. Precisava melhorar, e o tempo era curto. O Concurso de Escrita de Inverno parecia distante, mas eu sabia que cada dia até lá seria crucial.

Chegando em casa, fui direto para a cozinha, onde minha mãe estava terminando de preparar o jantar. Ela me olhou com aquela expressão preocupada que só as mães sabem fazer.

— Shin, está tudo bem? — perguntou ela, sua voz suave, mas cheia de preocupação. — O trabalho está sendo puxado?

— Estou bem, mãe — respondi, forçando um sorriso que não convencia nem a mim mesmo. — O trabalho está tranquilo.

Ela assentiu, mas eu sabia que ela não estava convencida. Terminei meu jantar em silêncio, a cabeça ainda cheia dos eventos do dia. Cada garfada parecia mais difícil de engolir, e o peso das palavras dele ainda me acompanhava.

Depois do jantar, fui para o meu quarto e liguei o computador. Se eu queria melhorar minhas habilidades de escrita, precisava começar pelo básico. Encontrei alguns vídeos sobre escrita criativa e comecei a assisti-los, anotando dicas e técnicas que poderiam me ajudar a desenvolver melhor minhas ideias.

A noite avançava rapidamente, mas meu desejo de aprender era maior que o cansaço. Mesmo assim, os pensamentos sobre Arata e Ryuuji continuavam a me perturbar. O que havia acontecido entre eles? Por que ele desprezava tanto o próprio irmão? Essas perguntas continuaram a me assombrar enquanto eu finalmente decidia ir dormir.

Na manhã seguinte, acordei com o som irritante do despertador. O dia parecia ter começado como qualquer outro, mas algo estava diferente. Ao descer as escadas, ouvi vozes vindo da sala de estar. Muitas vozes, algo incomum para aquela hora da manhã. Meu coração deu um salto — será que...?

Será que meu pai tinha voltado para nos levar embora? Aquele pensamento me aterrorizou. Não podia ser. Apressei-me a descer as escadas, mas quando cheguei à sala, fiquei paralisado.

— Hã? — a palavra escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter.

Kaori estava sentada no chão, brincando com Hana, minha irmã mais nova. A cena era tão surreal que por um momento pensei estar sonhando.

— Ah, Shin! Bom dia! — disse Kaori com um sorriso alegre, uma torrada pendurada em sua boca.

— K-kaori...? O que você está fazendo aqui? — perguntei, ainda tentando entender a situação.

— Só estou esperando você terminar logo para irmos juntos para a escola — respondeu ela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Juntos? Mas... como você entrou? Não me diga que invadiu minha casa como uma ladra? — perguntei, minha voz um pouco mais alta do que o normal.

— Ah, não! Sua mãe me deixou eu entrar. É que eu esqueci de tomar o café da manhã em casa, então pensei em fazer isso aqui — explicou Kaori, dando de ombros. — Além disso, sua irmã é uma fofura! Não resisti em brincar com ela.

Olhei para Hana, que estava toda sorrisos ao lado de Kaori, e suspirei. Era difícil entender o jeito de dela.

— Mas sua casa é literalmente ao lado da minha — eu retruquei, ainda tentando digerir a situação.

— Eu estava com preguiça de voltar — disse ela, com uma risadinha. — Vai dizer que não foi uma boa ideia?

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— Kaori, isso não foi legal — disse, finalmente, tentando não soar rude. — Você não pode simplesmente entrar na minha casa assim. E se fosse outra pessoa? Se não fosse eu?

Kaori piscou, surpresa com a seriedade na minha voz. Eu esperava que ela reagisse com uma piada, mas seu sorriso diminuiu.

— Eu... eu não pensei nisso. Desculpa, Shin — disse ela, com uma sinceridade que fez meu incômodo diminuir.

Olhei para ela, percebendo que Kaori realmente não tinha tido intenção de invadir meu espaço de propósito. Mas era importante que ela entendesse que havia limites.

— Mas da próxima vez, por favor, me avise antes.

— Combinado! — ela disse, sorrindo novamente, mas com um novo respeito em seu olhar.

Decidi deixar pra lá e ignorei aquilo, sentando-me para tomar o café da manhã. Hana parecia tão feliz brincando com Kaori que eu não queria interromper mais elas.

Enquanto comia, cada mordida parecia um esforço para engolir não só o alimento, mas também o nó na minha garganta. O peso do dia anterior ainda estava lá, junto com a dúvida de como eu iria enfrentar Ryuuji, e agora, uma nova camada de confusão havia se formado. Kaori estava tão perto, mas minha mente estava em outro lugar, com outra pessoa.

Terminei de comer, mas meu apetite real — por respostas, por clareza — estava longe de ser satisfeito. Peguei minha mochila, tentando me preparar para mais um dia, mas sentindo que estava carregando mais do que apenas livros e cadernos nas costas.

— Ah, espere por mim! — disse Kaori, levantando-se rapidamente.

Hana, segurou a sua roupa levemente, com uma carinha triste.

— Você vai voltar? — perguntou, com sua vozinha tremendo com a inocência de uma criança que temia perder algo precioso.

Kaori se abaixou, trazendo seu rosto ao nível de Hana, e colocou uma mão gentil sobre a cabeça dela, acariciando seus cabelos com cuidado. Seus olhos, geralmente tão cheios de energia, suavizaram-se com uma ternura que eu raramente via.

— Se o Shin deixar, eu volto para brincar com você, prometo! — respondeu Kaori, piscando para mim com uma expressão travessa, mas havia algo mais profundo em seu olhar, como se ela estivesse buscando uma aprovação que ia além de uma simples permissão.

Suspirei, sentindo o peso do momento se dissipar, mas não totalmente.

As palavras de Kaori ecoavam na minha mente enquanto eu abria a porta de casa. Ainda estava tentando processar tudo aquilo — a forma como ela havia invadido meu espaço, mas também a facilidade com que havia se entrosado na minha vida, como se sempre tivesse pertencido ali.

Ao sairmos, o ar frio da manhã nos envolveu, e as folhas secas faziam ruído sob nossos pés enquanto caminhávamos lado a lado. Kaori mantinha um ritmo leve, mas eu podia sentir sua energia vibrando, mesmo no silêncio. Ela me olhava de lado de vez em quando, talvez percebendo meu leve desconforto.

Eu estava ainda mais consciente de sua presença, especialmente com o pensamento de Yuki passando pela minha mente. Nenhuma garota havia cruzado aquela linha antes, e agora, tudo parecia diferente, como se uma barreira invisível tivesse sido rompida

O pensamento em Yuki me fez olhar ao redor, como se esperasse vê-la em algum lugar por perto. O que ela pensaria se nos visse juntos? Será que entenderia errado? Essa ideia me deixou nervoso, e eu me afastei um pouco de Kaori, mas ela se aproximou novamente, sem perceber minha hesitação.

Enquanto caminhávamos, o peso das palavras de Ryuuji voltou novamente à minha mente, e senti a necessidade de falar sobre isso.

— Kaori... — comecei, hesitante. — O que você achou da minha história, sinceramente?

Ela parou por um momento, surpresa com a pergunta, mas logo respondeu com um sorriso.

— Eu gostei muito da sua história, Shin. Sério, nem sei como ela terminou em sétimo lugar. Talvez esse tal de... R-rui? Rioji?

— Ryuuji.

— Isso! Talvez ele seja bom mesmo.

Engoli em seco, sentindo o nervosismo aumentar.

— Eu... eu encontrei ele ontem no trabalho — disse, com a voz baixa, mas ela ouviu claramente.

— Sério? Como ele é? — Kaori perguntou, curiosa.

Eu contei a ela sobre o encontro, sobre como Ryuuji era uma pessoa desagradável e de como ele menosprezou minha história, dizendo que eu deveria desistir de escrever.

Kaori ficou visivelmente irritada, sua expressão alegre desaparecendo por um momento.

— Como ele pode ser tão cruel? Por que um escritor faria isso com outro? Ele passou dos limites! — ela disse, cerrando os punhos. — Se eu o encontrar, vou dar uma lição nele!

Ri com a ideia, mas agradeci.

— Não precisa, Kaori. Ele não estava totalmente errado. Minha história não se compara com a dele. Mas... — fiz uma pausa, reunindo coragem. — Eu o desafiei para o Concurso de Escrita de Inverno.

Kaori ficou surpresa, mas logo um sorriso determinado apareceu em seu rosto.

— Sério!? Essa é a oportunidade perfeita! — exclamou ela. — Eu vou te ajudar a escrever uma história tão boa que até Ryuuji vai ficar impressionado. E o pessoal do clube também vai te ajudar sem nem pensar duas vezes!

— N-não precisa me ajudar, sério mesmo.

— Deixa disso, nós todos vamos te ajudar!

Fiquei nervoso, mas contente ao mesmo tempo. A ideia de todos me ajudando me dava um pouco mais de confiança.

— Mas o tema do concurso ainda não foi decidido — expliquei. — Então, não posso começar a escrever agora. Por isso, quero primeiro melhorar minhas habilidades básicas.

— Nesse caso, eu vou te ajudar com isso também! — disse ela, com entusiasmo. — Mas com uma condição: me deixe voltar à sua casa para brincar com a Hana de novo!

Eu sorri, concordando. Kaori ficou radiante, e senti uma nova determinação surgir dentro de mim.

Eu estava focado em criar uma história que surpreenderia até mesmo um gênio, como Ryuuji.