Eu nunca soube o que significava realmente viver até aquela manhã. A madrugada havia sido longa; a tela do meu computador brilhava intensamente enquanto eu lutava contra ondas de inimigos sem fim. Minhas mãos suavam, meus olhos ardiam, mas a excitação da vitória iminente me mantinha alerta.
— Só mais um pouco e eu venço essa fase!
Quando finalmente derrotei o chefe da fase, uma sensação de alívio percorreu meu corpo. Sorri, satisfeito, até que olhei para o relógio ao lado do monitor. Eram quase cinco da manhã.
— Droga! Não acredito que passei quase a noite toda jogando…
"O tempo realmente voa quando estamos nos divertindo", pensei, mas uma pontada de preocupação começou a se formar. Eu tinha apenas uma hora antes de precisar levantar para a escola. Sem outra opção, desliguei o computador e me joguei na cama, com a mente ainda girando em torno da adrenalina do jogo.
— Ah, que merda, não devia ter jogado tanto; a culpa é daqueles dois que me mostraram esse jogo...
Me arrastei para fora da cama; cada movimento era um esforço monumental.
"Talvez eu devesse ter parado de jogar mais cedo", pensei amargamente enquanto vestia meu uniforme escolar. Meus olhos ardiam, e cada piscar era uma luta contra o desejo de simplesmente me deixar cair no sono.
No caminho para a escola, encontrei meus dois amigos de sempre, Seiji e Rintarou. Seiji estava, como sempre, cheio de energia, falando animadamente sobre uma nova banda que ele descobrira. Rintarou, mais fechado e introspectivo, apenas assentia de vez em quando, provavelmente mais interessado em seus próprios pensamentos do que na conversa.
— Bom dia, Seiji e Rintarou!
— Bom dia, Shin — disse Rintarou com sua cara séria como sempre.
— Cara, você está com uma cara péssima — disse Seiji, rindo — Ficou a madrugada toda jogando de novo, não é?
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— Nem me fala — respondi, bocejando — Consegui vencer o chefão, mas acho que vou pagar o preço hoje...
Rintarou olhou para mim, seus olhos penetrantes parecendo ver através de mim.
— Talvez você devesse equilibrar melhor seu tempo, Shin. — seu tom era neutro, mas acho que havia uma preocupação genuína ali.
"Eu nunca sei o que se passa na cabeça do Rintarou...", pensei. Concordei com o que ele havia falado, mas no fundo sabia que o ciclo iria se repetir. A escola era uma monotonia de que eu tentava escapar de qualquer maneira. Jogar era minha fuga, meu pequeno mundo onde eu tinha controle e aventuras esperando por mim.
Depois de 15 minutos caminhando, chegamos à escola e nos separamos para nossas aulas. A sala de aula estava iluminada pela luz suave do sol da manhã, mas, para mim, parecia um ambiente sombrio e opressor.
Sentei-me no meu lugar habitual, próximo à janela. O professor começou sua palestra sobre algum tópico de história que eu não conseguia acompanhar. Minhas pálpebras pesavam, e a voz monótona do professor parecia uma canção de ninar.
— Ah, não devia ter jogado tanto assim. Malditos Seiji e Rintarou por me terem mostrado esse jogo...
Antes que eu percebesse, minhas pálpebras estavam se fechando. Mesmo eu tentando resistir, elas não paravam, até que finalmente se fecharam completamente e então fui puxado para um sono profundo.
Quando finalmente recuperei a consciência, abri os olhos devagar, ainda sentindo uma leve tontura. Olhei ao redor da sala de aula e fiquei surpreso ao perceber que, á primeira vista, ela estava aparentemente vazia. O silêncio era ensurdecedor; o único som era o tic-tac insistente do relógio na parede.
— O quê?! Eu dormi durante... a aula inteira?!
Passei a mão pelo rosto, tentando clarear minha mente confusa. Quanto tempo eu dormi? Como ninguém me acordou? Mil perguntas ecoavam em minha mente, mas nenhuma tinha resposta.
Decidi levantar-me e recolher minhas coisas. Enquanto arrumava minha mochila, vi Yuki atrás de mim, minha colega de classe, também se preparando para sair. Meu coração deu um salto dentro do peito ao vê-la. Ela era a pessoa que eu amava, mas nunca tive coragem de falar com ela.
— Y-yuki? — chamei, minha voz saindo em um sussurro incerto.
Ela virou-se para mim, um sorriso gentil iluminando seu rosto. Seus olhos encontraram os meus, e, por um breve momento, senti como se estivéssemos os únicos na sala. Mas realmente éramos os únicos na sala…
— Shin, você está bem? — perguntou ela, sua voz suave trazendo um conforto inesperado.
Assenti, lutando para encontrar as palavras certas. Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ela sorriu novamente e se despediu, saindo da sala e deixando-me sozinho com meus pensamentos.
Fiquei ali parado por um momento, observando-a se afastar com seus longos e lindos cabelos. Era como se o tempo tivesse parado, e eu me vi preso em um momento que parecia durar para sempre. Mas então, o toque frio da realidade me alcançou, e eu percebi que já era tarde e eu devia ir pra casa.