O fim das férias de verão se aproximava como uma sombra crescente. Minhas rotinas diárias — acordar tarde com o sol já alto, devorar um café da manhã solitário enquanto olhava pela janela, mergulhar em horas intermináveis de jogos até meus olhos arderem, e cair na cama sentindo que outro dia havia sido desperdiçado — se tornaram uma repetição monótona e frustrante.
Seiji estava em seu acampamento de treino de futebol, e Rintarou estava viajando com a família. Enquanto isso, eu ficava em casa, sozinho com meus jogos e pensamentos.
Os dias se arrastaram até a última semana de férias, quando Seiji finalmente voltou do acampamento na última semana, seu rosto bronzeado pelo sol contrastando com minha pele pálida e meu ânimo abatido. Ele gesticulava animadamente, mostrando alguns dribles no ar, enquanto falava sobre os amigos que fizera e as novas técnicas que aprendera.
— Cara, você deveria ter visto! — disse ele, animado, enquanto fazia um drible no ar. — Aprendi alguns dribles novos que são incríveis!
— Legal, Seiji — respondi, tentando compartilhar sua empolgação.
Rintarou também voltou da viagem, repleto de histórias sobre os lugares que visitou e as comidas que experimentou.
— Fomos a um restaurante que servia o melhor ramen que já provei. Você ia adorar, Shin. — disse Rintarou, com um sorriso nostálgico.
— Parece bom — respondi, sentindo uma leve pontada de inveja enquanto imaginava como seria experimentar algo novo e emocionante. Eu desejava ter algo interessante para compartilhar também.
Mas eu não tinha muito o que contar. Meus dias se arrastaram em uma névoa de preguiça e maratonas de jogos, sem nenhum acontecimento digno de nota. A cada noite, ao deitar-me, um sentimento de frustração tomava conta de mim. Eu queria ter aproveitado mais, encontrar coragem para falar com Yuki, mas a oportunidade parecia sempre escapar por entre meus dedos como areia. Cada história animada de Seiji e Rintarou ecoava dentro de mim, aumentando meu próprio sentimento de arrependimento por não ter feito mais das minhas férias.
Finalmente, o dia da volta às aulas chegou. Acordei cedo, sentindo uma mistura de nervosismo e excitação. Enquanto me arrumava rapidamente, meu estômago estava em um nó de ansiedade. Desci para tomar café, tentando acalmar meus pensamentos. Minha mãe estava na cozinha, cantando baixinho enquanto preparava o café da manhã, o que me trouxe um breve conforto.
— Bom dia, Shin — disse ela, sorrindo ao me ver. — Pronto para o novo semestre?
— Estou, mãe. Vamos ver como será — respondi, forçando um sorriso e tentando esconder o nó de ansiedade que se formava em meu estômago.
Depois de um café da manhã rápido, despedi-me da minha família e saí para a escola. O ar fresco da manhã envolveu-me suavemente, trazendo um alívio temporário ao nervosismo borbulhante que sentia no estômago. As ruas tranquilas, ainda despertando, contrastavam com a tempestade de emoções que eu sentia — um misto de ansiedade e expectativa.
Caminhando pela rua, encontrei Seiji. Ele parecia tão relaxado e confiante como sempre.
— E aí, Shin! Preparado para encarar mais um semestre? — perguntou ele, dando um leve tapinha no meu ombro.
— Acho que sim — respondi, tentando sorrir.
Logo depois, Rintarou se juntou a nós, e começamos a conversar sobre as férias.
— E então, Shin, como foram suas férias? — perguntou Rintarou, curioso.
— Ah, eu só fiquei em casa jogando. Praticamente nem saí de casa. — admiti, um pouco envergonhado.
— Sério? Você não aproveitou nada das férias? — perguntou Seiji, incrédulo.
— Nem mesmo conseguiu se aproximar da Yuki? — acrescentou Rintarou, com um tom de preocupação.
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Suspirei, tentando encontrar uma forma de explicar.
— Não... na verdade tinha surgido uma grande oportunidade para me aproximar, mas fiquei sem coragem de fazer isso — respondi olhando pra baixo.
— Isso é uma pena, Shin, mas não se preocupe, vai surgir novas oportunidades e você só tem que as agarrar — disse Rintarou, tentando me confortar.
— Acho que você tem razão — respondi — Mas o festival foi interessante, a comida era boa e os jogos divertidos e até tive a chance de conhecer o irmão da Yuki, que eu pensava ser o namorado...
Seiji começou a rir. — Como você confundiu um irmão com namorado?
Senti meu rosto corar. — Não tinha como saber. Eles pareciam bem próximos e ela podia gostar de caras mais velhos, sabe...
Seiji riu ainda mais alto, e até Rintarou deu um leve sorriso.
No meio da nossa conversa, Akira apareceu, cumprimentando-nos com seu jeito extrovertido de sempre.
— E aí, pessoal! Onde vocês estiveram durante as férias? — perguntou ele.
Seiji e Rintarou contaram suas aventuras, enquanto eu apenas ouvia. Logo chegamos à escola, que estava cheia de alunos conversando animadamente sobre as férias. Akira suspirou.
— As férias acabaram hoje, e eu já não vejo a hora de voltar pra casa — comentou.
— Eu também. Quero ir pra casa jogar. — concordei.
Entramos na sala de aula, onde o som de conversas animadas e risadas preenchia o ar. O cheiro de livros novos e lápis recém-apontados misturava-se com a fragrância leve de flores do jardim próximo à janela. Cumprimentamos nossos colegas, trocando histórias das férias até o professor chegar, com seu habitual semblante sério e passos firmes ecoando no chão de madeira. Ele pediu para todos se sentarem e anunciou uma mudança nos assentos. Um murmúrio de curiosidade e apreensão percorreu a sala, enquanto um colega mais ousado perguntou o motivo.
— Isso acontece em todos os semestres — explicou o professor, enquanto começava a escrever os novos lugares no quadro.
Eu estava atento, esperando ver onde Yuki se sentaria. Seiji estava ao meu lado, sussurrando e implorando para ficar perto da Yumi, a garota de quem ele gostava. Quando o professor finalmente escreveu meu nome, meu coração começou a acelerar. Implorava em pensamento para que Yuki ficasse do meu lado. E então, para minha surpresa, o nome dela apareceu ao lado do meu. Sorri internamente e agradeci a Deus por aquele momento.
O professor terminou de escrever e nos pediu para nos movermos para os novos lugares. Fui para o fundo da sala, onde Yuki também se sentou. Respirei fundo e decidi tentar puxar conversa.
— Ah, oi Yuki. Parece que ficamos aqui atrás — comentei, tentando parecer casual.
— Oi Shin. É uma pena — respondeu ela, franzindo a testa.
— Por que você diz isso? — perguntei, tentando entender o que ela queria dizer.
— Ah! Não entenda errado, não é uma pena estar perto de você! É só que, na última fileira, fica mais difícil ver o quadro — explicou ela, parecendo um pouco desesperada.
Fiquei aliviado e vi uma nova oportunidade de ficar ainda mais próximo dela. — Se tiver dificuldades para ver, pode olhar meu caderno ou me perguntar o que está escrito que eu te ajudo!
Ela sorriu e agradeceu. — Sério? Obrigada, Shin.
Internamente, eu estava exultante. Finalmente consegui falar com Yuki depois de tanto tempo. Era o primeiro passo para me aproximar dela.
As aulas começaram, e embora eu tentasse me concentrar, minha mente e meu olhar voltavam constantemente para Yuki. Em um momento de distração, quase derrubei meu estojo, fazendo um barulho que atraiu alguns olhares curiosos. Senti meu rosto esquentar, mas Yuki apenas sorriu de forma compreensiva, o que me ajudou a relaxar um pouco.
Quando o intervalo chegou, decidi me levantar e tentar falar com ela.
— Então, Yuki, como foram suas férias? — perguntei, tentando manter a conversa fluindo.
— Foram boas! Passei bastante tempo com minha família e aproveitei o festival — ela respondeu, com um sorriso.
— Legal. Eu também fui ao festival. Na verdade, conheci seu irmão lá — comentei, tentando parecer casual.
Yuki riu. — Ah, você conheceu o Kaito? Ele é incrível, né? Sempre me fazendo rir.
— Sim, ele parece ser um cara legal. Eu o vi com você e, no começo, pensei que fosse seu namorado... — admiti, sentindo meu rosto esquentar.
Ela arregalou os olhos e depois riu de novo. — Sério? Muita gente pensa isso. Mas não, ele é meu irmão mais velho. A gente só é bem próximo.
— Que bom saber. Ele realmente parece um bom irmão — respondi, sorrindo, sentindo-me mais relaxado.
Ela sorriu de volta. — Ele é. E fico feliz que vocês tenham se dado bem.
O intervalo terminou, e voltamos para nossas cadeiras. Sentado ao lado de Yuki, senti que as coisas estavam finalmente mudando para melhor. Decidi que continuaria me esforçando para conhecê-la melhor e me aproximar cada vez mais.
Quando as aulas terminaram, me despedi de Seiji e Rintarou e comecei a caminhar para casa. Cada passo que dava me enchia de uma nova esperança e determinação. Enquanto caminhava, refletia sobre como as férias de verão não foram como eu esperava, mas talvez isso fosse um sinal para mudar. Talvez este novo semestre fosse a minha chance de fazer as coisas de forma diferente, de me aproximar de Yuki e de me abrir para novas experiências. Eu estava determinado a fazer valer a pena. As histórias de Seiji e Rintarou não seriam apenas um lembrete do que perdi, mas um incentivo para buscar minhas próprias aventuras.
Afinal, eu finalmente estava dando o primeiro passo para me aproximar dela, e isso era apenas o começo.