A luz suave do sol da manhã penetrava pelas cortinas da sala, iluminando o ambiente de forma acolhedora. Ramon estava parado próximo à janela, seus olhos fixos na paisagem lá fora. As árvores balançavam suavemente com o vento, e as casas vizinhas permaneciam serenas, o mesmo cenário tranquilo de sempre. Mas, para Ramon, algo era diferente.
“Querido, o que está fazendo?” Disse sua esposa com um sorriso gentil, enquanto ajeitava a mesa para o almoço. Ela notava como ele, ultimamente, parecia distante, frequentemente perdido em pensamentos.
Ramon demorou um pouco para responder, mantendo o olhar fixo do lado de fora. Ele sentiu uma inquietação crescente em seu peito, algo que não conseguia explicar. Seu instinto, refinado pela herança divina que carregava, dizia que algo estava fora do lugar, mas não havia qualquer sinal concreto para acontecer aquela sensação.
“Só estou... pensando em algumas coisas”, ele respondeu, sem desviar o olhar.
A esposa arqueou uma sobrancelha, intrigada, mas decidiu não insistir. “Bem, seja lá o que você está pensando, pode esperar. Venha, o almoço está pronto.”
O aroma da comida caseira encheu o ambiente, trazendo um sorriso breve aos lábios de Ramon. Ele investiu fundo, permitindo que aquele momento trouxesse um pouco de conforto. Antes de seguir para a cozinha, ele foi até o quarto da filha.
Era um espaço alegre e vibrante, repleto de brinquedos, desenhos coloridos pendurados nas paredes e uma pequena cama coberta com lençóis floridos. Sua filha, uma menina de cinco anos, estava sentada no chão brincando com bonecas, mas clamou o olhar ao ver o pai entrar.
“Papai, o que você está fazendo?” Disse ela com um sorriso travesso, os olhos brilhando de inocência.
“O quê? Você está crescido demais para receber um abraço do seu pai agora?” Ramon respondeu fingindo um tom ofendido, antes de se aproximar com um sorriso brincalhão.
Ele a examinar nos braços e a colocar na cama, onde começou a fazer cócegas nela. O riso infantil da menina ecológica ou pela casa, trazendo uma leveza ao ambiente que parecia dissipar qualquer preocupação momentânea.
“Ramon!” A voz da esposa soou da porta. Ela estava com as mãos na cintura, fingindo uma expressão zangada. “Vocês dois, o almoço vai esfriar!”
Mas sua expressão logo suavizou ao ver a cena diante dela. Não resistiu, ela se juntou à brincadeira, e por alguns minutos, a casa foi preenchida com risos e alegria.
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Mais tarde, enquanto todos estavam reunidos à mesa, Ramon parecia distante novamente. Ele tentou participar da conversa, mas algo o incomodava. A cada momento de tranquilidade, aquela sensação de alerta voltava, mais forte.
Depois do almoço, sua esposa decidiu levar a filha para o parque, dando-lhe um tempo para descansar antes de seu próximo turno. Ramon trabalhou como segurança particular em uma empresa local, uma carga que protege atenção constante e uma postura implacável, habilidades que ele dominava graças à sua linhagem semidivina.
Naquela noite, ele saiu de casa com o uniforme impecável, mas o desconforto dentro dele aumentou. Ao chegar ao trabalho, tudo parecia normal. Ele cumpriu seus colegas e iniciou sua rodada, mas sua mente estava inquieta. As memórias do passado, geralmente bem enterradas, vieram a emergir, trazendo consigo fragmentos de dor e culpa.
Por algum motivo, sua mente bloqueava a ideia de pensar no passado, no que havia feito com ela e sua família, mas agora, ao olhar para sua própria esposa e filha, o peso daquela memória parecia mais insuportável. Ele tinha uma vida perfeita, algo que sempre desejou, mas sabia que aquilo era construído sobre as ruínas de outra vida que ele havia destruído.
'Espera... ela? Ela quem? um segundo pensar após isso sua mente se esvaziou.
Cada sorriso de sua esposa, cada gargalhada de sua filha, trazia uma pontada de algo que ele não conseguia nomear. Culpa? Medo? Ele não sabia, mas era algo que crescia a cada dia.
No trabalho, durante uma ronda noturna, ele começou a sentir como se estivesse sendo observado. O ar ao seu redor parecia mais pesado, como se uma presença invisível estivesse emparelhando sobre ele. Ele tentou ignorar, mas a sensação persistia.
Enquanto caminhava pelos corredores escuros, Ramon parou abruptamente. Um som, quase imperceptível, ecoou atrás dele. Ele se transformou rapidamente, mas não havia nada. Apenas o silêncio e a escuridão.
Mas ele sabia.
Algo estava ali. E, pela primeira vez em anos, Ramon sentiu medo. Não o medo de um mortal, mas o de alguém que sabia que havia cruzado um limite perigoso.
Ele segurou a rádio com firmeza, mas não conseguiu chamar ninguém. Naquele momento era apenas o início, e no fundo de sua alma, ele sabia que algo muito maior estava prestes a acontecer.
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O ato de comunicar alguém pela rádio era pura formalidade. Ramon era um semideus, e não um qualquer. O sangue de Ares fluía por suas veias. Embora não fosse um filho direto do deus da guerra, a linhagem passando por gerações, do tataravô até ele. Esse legado, por mais distante que parecia, não deixava dúvidas. Ele poderia sentir traços da mesma força indomável até mesmo em sua filha.
Ao pensar nela, no entanto, algo começou a mudar. Algo que ele havia trancado a sete chaves em um canto profundo de sua mente começou a forçar as correntes. Fragmentos de memórias esquecidas — ou melhores, suprimidas — surgiram a surgir como sombras no fundo de um lago agitado. Primeiro, foram flashes de uma mulher chorando. Em seguida, a visão do sangue. Depois, os gritos.
"Merda." Ele murmurou, dando a mão à testa como se quisesse esmagar os pensamentos. Seu coração disparava, o ar parecia raro. Ele abriu o rádio, como se o ambiente pudesse ajudá-lo a escapar.
Ramon sabia o que estava acontecendo, e isso o aterrorizava. Não foi a primeira vez que as correntes se quebraram. Elas sempre se remendavam, mas cada vez ficavam mais frágeis. Ele não era ingênuo: sabia que um dia ou que estava preso em sua mente acabaria por engoli-lo inteiro.
Após o massacre daquela família — e da destruição que feriu por puro desejo de poder e controle — Ramon foi atormentado por uma culpa avassaladora. Ele não suporta as imagens que vinham à sua mente: os olhos da mulher, o choro do bebê, o último grito do homem que ajudou a proteger sua família. Para continuar vivendo, ele participou de ajuda. Não é da medicina humana, mas de algo muito mais obscuro.
Naquela época, ele encontrou uma sacerdotisa com ligação direta a Ares, conhecida por realizar antigos rituais de repressão mental. O tratamento foi brutal. Ela mergulhou Ramon em uma poça de óleo fervente, enquanto entoava cânticos que perfuravam sua mente. Durante três dias consecutivos, ele foi submetido ao processo. Suas memórias foram seladas em uma caixa mental, trancadas por feitiços complexos que apenas ele, por vontade própria, poderia quebrar.
Mas havia um preço. O feitiço não era perfeito. Sempre que Ramon experimentava um sentimento intenso — como amor por sua filha ou medo por sua família —, pequenas brechas surgiam. As memórias começavam a escapar, como serpentes deslizando pelas frestas da jaula. E agora, olhando para a rádio e pensando em sua filha, Ramon sentiu o peso daquilo.
Ele abriu os olhos, respirando fundo, evitando afastar os fragmentos que foram cirúrgicos. "Não é real", murmurou para si mesmo, a voz trêmula. "Não é mais real." Mas a verdade era outra. Ele sabia que estava perdendo o controle.
A visão da mulher que ele havia destruído, os olhos cheios de lágrimas, caiu a persegui-lo. Ela não gritava mais em sua mente. Apenas olhei para ele, com uma calma mortal, enquanto sangue escoltava pelo canto de sua boca.
O que mais o aterrorizava era a familiaridade que sentia. Ele viu algo há muito enterrado: aquela mulher mexia com ele de uma forma estranha.
E agora, no silêncio do quarto onde trabalhou, ele sentiu um aperto no peito. Era como se cada tijolo que havia erguido para proteger sua nova vida estivesse prestes a desmoronar. Ramon sabia que era forte. Mas também sabia que nenhuma força física seria suficiente para conter aquilo que crescia dentro de si: as memórias de Ellie.
Seus pensamentos o consumiram enquanto uma única pergunta pairava no ar:
Será que ele realmente merecia a felicidade que tinha agora?
A noite era pesada, ou carregada de algo indescritível. Ramon estava de pé em frente à janela de seu escritório, com os punhos cerrados. Ele sentiu uma presença, algo além de sua compreensão. Era como se o mundo ao seu redor tivesse parado para sussurrar uma única mensagem: ele estava vindo.
O portal se abriu em um silêncio esmagador. As sombras tomaram forma, espalhando-se como veneno, e dele emergiu Damien. Seus olhos brilhavam como duas esferas de poder absoluto, emanando um julgamento frio e implacável.
Ramon virou-se, sentindo o impacto daquela presença esmagadora em sua alma. Ele tentou manter a postura, mesmo que cada instinto dentro de si gritasse para se ajoelhar.
"Então é você..." disse Ramon, a voz falhando brevemente. "Quem é você?"
Damien deu um passo à frente, sua figura imponente parecia absorver toda a luz ao redor. "Quem eu sou? Sou a morte. Sou a vida. Sou aquele que veio para julgar o peso de sua existência."
Ramon arregalou os olhos, mas rapidamente os estreitou. O sangue de Ares fervia em suas veias, e mesmo diante de uma presença tão formidável, ele não cederia sem lutar. "Se é o julgamento que você busca, você terá que lutar por ele."
Antes que Damien pudesse responder, Ramon avançou. Com uma precisão de combate aprimorada por anos de treinamento e pela herança divina, ele arrancou com movimentos calculados. Sua estratégia era clara: usar o terreno, o intelecto, e sua força para criar uma abertura.
Mas Damien sequer recuou. Ele pediu a mão, bloqueando cada golpe com uma serenidade desconcertante. Cada soco, cada rampa, era desviado ou simplesmente conectado. Para ele, aquilo era uma brincadeira.
“Interessante”, disse Damien, observando os movimentos de Ramon como um cientista estudando uma experiência. "Você tem habilidade. Determinação. Até coragem. Mas isso... é inútil."
Com um simples gesto, Damien criou uma onda de energia que lançou Ramon contra a parede com força suficiente para quebrar os tijolos ao redor.
Ramon se declarou, jogando sangue, mas com um brilho feroz nos olhos. Ele sacou uma lâmina antiga, forjada com fragmentos de um meteorito, uma arma que, teoricamente, poderia ferir até os mesmos deuses.
“Você fala como se fosse invencível”, disse Ramon, girando a lâmina. "Mas até os deuses têm seus limites."
Damien arqueou uma sobrancelha, um leve sorriso surgindo em seu rosto. "Tente, então. Mostre-me a extensão da sua força, filho de Ares.”
Ramon atacou com tudo o que tinha. Cada golpe com a lâmina era preciso, feroz, mas Damien se movia como uma sombra, desviando com uma elegância que beirava o desprezo.
"Você acha que está protegido pela sua moral, Ramon?" disse Damien, a voz ecoando como um trovão. "Acha que sua vida feliz pode apagar o que fez no passado?"
Ramon hesitou por um momento, o suficiente para Damien desarmá-lo com um único movimento. A lâmina caiu no chão, inutilizada.
"Eu... Eu fiz o que tinha que fazer", disse Ramon, a respiração pesada. "Eu me redimi! Minha família, minha filha... elas não têm nada a ver com isso!"
Damien moveu-se, segurando Ramon pelo pescoço e erguendo o chão. Seus olhos brilhavam como estrelas em fúria. "É a família de Ellie? O que eles tinham a ver com sua ambição descontrolada? Você acha que pode enterrar o passado e fingir que ele não existe?"
Enquanto Damien segurava Ramon, algo começou a mudar. Ele olhou nos olhos do semideus e viu a dor, o desespero. Mas também viu as correntes. Invisíveis para os mortais, elas estavam enroladas em torno da mente de Ramon, pulsando com energia antiga.
"Essas correntes..." murmurou Damien, apertando mais forte. "Você colocou aqui para esconder o mesmo monstruoso que foi."
Ramon comprometido, os olhos arregalados. "Não... eu não... posso... lembrar."
Damien gentilmente, mas não era um sorriso de misericórdia. "Você não tem escolha."
Com um simples toque, Damien corta as correntes. O som delas rompendo ecoou como um trovão, e Ramon caiu ao chão, ofegante.
As memórias vieram como uma avalanche. Ele viu Ellie, o massacre, o rosto dela distorcido pelo sofrimento. Sentiu o peso de cada vida que havia sido tomada. A dor o atingiu como uma lâmina ardente, queimando cada fibra de sua alma.
"Agora", disse Damien, sua voz fria como gelo. "Você não pode mais se esconder. Não há perdão sem enfrentar a verdade."