O Olimpo era um lugar de esplendor eterno, mas também de intrigas insondáveis. Zeus, sentado em seu trono adornado por raios, fitava o horizonte infinito do reino dos deuses, um brilho calculista em seus olhos. Ele sabia que o poder de Damien era mais do que uma ameaça isolada; era uma incógnita que poderia desestabilizar o equilíbrio entre os domínios divinos.
Damien não era apenas o filho de Hades. Ele também foi o herdeiro de Perséfone, portador de algo que Zeus temia profundamente: a combinação de morte e renascimento. Uma habilidade de governar tanto o fim quanto o início de todas as coisas. Se Damien crescesse em poder e sabedoria, poderia alcançar um domínio que nem mesmo o rei dos deuses possuía: o controle absoluto sobre a mortalidade e a imortalidade.
Zeus tamborilava os dedos no braço de seu trono enquanto Hermes relatava os acontecimentos no mundo mortal. O mensageiro descrevia como Damien começava a se destacar, tomando decisões que misturavam compaixão e severidade. O julgamento de Ramon, a proteção dada a Ellie, e até os vislumbres de sua conexão com os mortais estavam moldando Damien como algo mais do que um deus em teste.
“Interessante”, murmurou Zeus, inclinando-se levemente. “O garoto não é tolo, mas ainda é jovem. Inexperiente. Ele envelhece com o coração, e isso é uma fraqueza que pode ser explorada.”
Hermes hesitou antes de falar. “Pai, ele pode ser jovem, mas sua capacidade de influenciar o mundo mortal já é notável. Ele julga com rigor, mas também com uma humanidade rara entre nós.”
Zeus invejoso, mas não de forma amigável. “Humanidade? Essa mesma humanidade que nos desafiou tantas vezes? Não, Hermes. O problema com Damien não é sua compaixão; é sua dualidade. Ele carrega em si a morte e a vida, o fim e o renascimento. E isso... isso o torna um perigo.”
“Um perigo para o equilíbrio?” arriscou Hermes, tentando entender a mente do pai.
“Um perigo para mim.” A voz de Zeus ecoou, carregada de um trovão distante. “Se Damien aprender a controlar esses poderes, ele terá influência sobre todos os domínios. O Submundo já é dele por direito. Se ele dominar o ciclo de renascimento, poderia, em teoria, influenciar o Olimpo, o mundo mortal, e até mesmo o nosso papel como governantes. Não podemos permitir isso.”
Hermes ponderou aquelas palavras. “Então, todo esse teste... o chamado ao mundo mortal... foi um jogo para desviá-lo?”
Zeus clamou-se de seu trono, sua presença dominando o ambiente. “Exatamente. Eu o lancei em uma missão que é, por natureza, impossível de ser concluída sem consequências. Ele não apenas enfrentará desafios que testarão sua moralidade; ele será solicitado a fazer escolhas que comprometam sua essência. No final, Damien será julgado, não por mim, mas pelos próprios deuses e mortais que ele busca proteger. E, quando ele falhar, como falhará, será descartado.”
Hermes sentiu um calafrio. “E se ele não falhar? Se Damien passar por tudo isso e sair ainda mais forte?”
Zeus estreitou os olhos, um brilho gélido neles. “Então precisorei entrevistar. Mas a questão, Hermes, é que ele já está jogando com cartas marcadas. O mundo mortal é uma teia de dilemas, e Damien está andando exatamente para onde quero que ele vá.”
Hermes balançou a cabeça, ainda relutante. “E os mortais que ele encontra? Ellie, por exemplo? Eles são meras peças nesse jogo?”
Zeus deu um sorriso sombrio. “Peças, sim. Mas cada peça tem seu papel. Ellie é uma distração; Ramon foi um catalisador. Tudo isso serve para preparar o tabuleiro para o momento final. Damien pode pensar que está escolhendo seu próprio caminho, mas a verdade, Hermes, é que eu já escrevi o destino dele.”
Hermes não respondeu, sua expressão tensa. Ele não gostava do que estava ouvindo, mas também sabia que Zeus raramente estava errado em suas manipulações. O rei dos deuses era um mestre dos jogos de poder, e Damien, por mais poderoso que fosse, ainda era um novato nesse tabuleiro divino.
—
Damien caminhava pela floresta densa e úmida, os passos pesados esmagando galhos sob suas botas. A luz do sol mal conseguia atravessar a copa das árvores, criando um jogo de sombras que parecia dançar ao seu redor. O silêncio era absoluto, exceto pelo som de sua própria respiração e pelo farfalhar de folhas ao vento.
Ele estava concentrado, atento, mas ainda perdido nos pensamentos sobre os últimos acontecimentos. Cada passo o levava mais fundo ao desconhecido, mas a sensação de ser observado o incomodava. Ele parou abruptamente, olhando ao redor, olhos estreitados, como se pudesse perfurar as sombras.
“Quem está aí?” sua voz ecoou, carregada de autoridade.
“Um deus com uma boa percepção,” respondeu uma voz feminina, melodiosa, mas com um tom confiante.
Damien virou-se rapidamente, encontrando uma figura que emergia das sombras com graça. Ela tinha cabelos dourados que refletiam a luz fraca como fios de sol, olhos azuis intensos que brilhavam com um misto de curiosidade e determinação, e usava uma túnica simples, mas elegante, adornada com detalhes dourados.
“Quem é você?” Damien perguntou, a desconfiança evidente no tom.
“Nyssa,” ela disse, inclinando levemente a cabeça, como uma saudação informal. “Fui enviada para ajudá-lo em sua missão.”
Damien ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços. “Por quem? E por quê?”
Nyssa deu um pequeno sorriso, aproximando-se sem pressa. “Por Zeus. Ele deseja garantir que você tenha o apoio necessário para cumprir seu teste no mundo mortal.”
A menção de Zeus fez Damien franzir o cenho. Ele já estava cético quanto ao envolvimento do deus dos céus, e agora ele enviava uma mensageira? Isso parecia suspeito.
“E por que Zeus de repente está tão interessado em me ajudar? Ele nunca interferiu antes,” Damien disse, a voz carregada de ceticismo.
Nyssa deu um leve suspiro, como se já esperasse aquela pergunta. “Zeus entende que sua tarefa não é apenas um teste para você, mas também uma chance de restaurar equilíbrio ao mundo mortal. Ele sabe que você tem capacidades únicas... e, para ser honesta, ele acredita que sua missão requer mais do que força bruta. Requer estratégia, sutileza. Algo que eu posso oferecer.”
Damien permaneceu em silêncio, avaliando-a. “E o que exatamente você tem a oferecer, Nyssa?”
Ela inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos brilhando com um toque de malícia contida. “Conhecimento. Experiência no mundo mortal. Informações sobre aqueles que você enfrentará. Além disso, acredito que mesmo um deus pode se beneficiar de uma aliada com habilidades complementares.”
Damien estreitou os olhos, a desconfiança ainda evidente. Mas havia algo na postura dela, na forma como falava, que o fazia hesitar. Ele não confiava nela, mas também não podia ignorar o fato de que poderia precisar de ajuda para navegar no território mortal e em suas complexidades.
‘De uma coisa tenho certeza, ela vai me apunhalar pelas costas’ - pensou Damien, enquanto olhava para ela.
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“Se isso for algum tipo de armadilha, Nyssa...” ele começou, o tom ameaçador.
Ela levantou uma mão, interrompendo-o com um sorriso tranquilo. “Eu entendo sua hesitação, Damien. Mas estou aqui apenas para ajudá-lo a ter sucesso. Afinal, se você falhar, o mundo mortal será o primeiro a pagar o preço. Você não quer isso, quer?”
Damien estreitou os olhos, mas finalmente deu um leve aceno de cabeça. “Muito bem. Mas não se engane. Estarei de olho em você.”
Nyssa assentiu, o sorriso dela permanecendo. “Eu não esperaria menos de você.”
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O sol começava a se esconder atrás das montanhas, pintando o céu com tons de laranja e roxo. Damien caminhava pela floresta ao lado de Nyssa, as botas dele esmagando folhas secas, enquanto a deusa, com seus passos leves e silenciosos, parecia quase flutuar sobre o solo. Apesar do cenário tranquilo, havia uma tensão subjacente entre eles.
Damien olhou para cima, observando os galhos robustos das árvores. Ele suspirou, gesticulando para as copas. “Você sabia que eu tenho dormido ali em cima? Não é exatamente o que imaginei quando desci ao mundo mortal.”
Nyssa esboçou um leve sorriso, um misto de diversão e algo quase maternal. “Um deus descansando como um pássaro... uma visão curiosa, devo admitir.”
Ele deu de ombros. “Não é como se eu tivesse muitas opções. Não planejei ficar aqui por tanto tempo.”
“Então, o que exatamente você planejou, Damien?” Nyssa perguntou, o tom dela desafiador, mas ainda amistoso.
Damien parou, cruzando os braços e olhando diretamente para ela. “Talvez você possa me dizer. Esta missão nunca foi clara para mim. Zeus me envia aqui, dá algumas ordens vagas, e agora você aparece. Qual é a verdade? O que eu deveria fazer exatamente?”
Nyssa hesitou, um brilho calculado passando por seus olhos antes de responder. Ela deu um passo à frente, os dedos tocando o tronco de uma árvore próxima enquanto falava. “Sua tarefa é simples, Damien. Testar seu julgamento no mundo mortal, entender as nuances das escolhas humanas... e aprender a não interferir onde não é chamado.”
“Entender as escolhas humanas?” Damien repetiu, a voz carregada de desdém. “Ellie era uma alma torturada. Sua vida inteira foi marcada por sofrimento. Você acha que ela deveria continuar vivendo, carregando aquele peso? Ou que Ramon, aquele monstro, deveria continuar com a família perfeita dele até que um castigo eventual caísse sobre ele?”
Nyssa virou-se para encará-lo, o olhar dela firme, mas não desprovido de empatia. “Ellie deveria ter encontrado sua própria redenção, ou escolhido seu fim por conta própria. Ramon deveria pagar, mas não pelas suas mãos, Damien. Cada escolha tem seu tempo. Cada destino tem seu curso. Ao interferir, você quebrou o equilíbrio. Não é esse o teste que Zeus lhe deu?”
Damien ficou em silêncio por um momento, os olhos dele fixos nos dela. Ele não gostava do que ouvia, mas sabia que havia alguma verdade naquelas palavras. Ainda assim, algo o incomodava profundamente.
“E você, Nyssa?” ele perguntou, inclinando ligeiramente a cabeça. “Que tipo de deusa você é, exatamente? Zeus te enviou para me guiar, mas você nunca explicou seu papel nisso tudo.”
Nyssa riu suavemente, mas era um riso sem humor, carregado de algo mais profundo. “Eu sou uma filha de Zeus, assim como Hermes, Atena, ou Apolo. Minha tarefa é simples: observar, orientar... e garantir que os testes de meu pai sejam realizados corretamente.”
Damien franziu o cenho, analisando cada palavra dela. “Então você está aqui apenas para garantir que eu siga as regras? Para relatar cada movimento meu a Zeus?”
“Se eu fosse apenas isso, Damien, você acha que eu ainda estaria aqui?” ela retrucou, o tom dela mais sério. “Eu também observo, analiso... e aprendo. O mundo mortal é um reflexo do caos e da ordem que governam os céus e o submundo. Meu papel aqui não é apenas vigiar você, mas também entender você.”
Damien estreitou os olhos. “Entender o quê?”
Nyssa deu um passo mais próximo, o olhar dela agora mais suave, mas ainda intenso. “Você não é apenas o deus da morte, Damien. Há algo mais em você, algo que desafia o equilíbrio que meu pai tanto protege. Eu estou aqui para descobrir se você é uma ameaça... ou uma oportunidade.”
Damien deu uma risada curta, amarga. “E o que você descobriu até agora?”
Nyssa não respondeu imediatamente. Ela apenas o olhou, como se estivesse ponderando a resposta. Depois de alguns instantes, ela deu um pequeno sorriso enigmático. “Ainda não decidi.”
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Damien caminhava em silêncio ao lado de Nyssa, mas sua mente estava em ebulição. Cada palavra que ela dizia parecia uma peça de um quebra-cabeça que ele ainda não conseguia montar. Ela era confiante, persuasiva, mas havia algo nas suas respostas que não encaixava.
"Testar meu julgamento no mundo mortal? Compreender as escolhas humanas?" Ele ponderava enquanto observava as árvores ao redor. Aquilo parecia mais um discurso decorado, algo que ela tinha repetido para outras missões ou, quem sabe, para enganar outros deuses.
A memória do olhar dela enquanto falava sobre Ellie e Ramon veio à tona. Apesar da firmeza nas palavras, havia uma leve hesitação. Como se ela também duvidasse daquilo que estava dizendo.
"Ellie deveria encontrar redenção sozinha? Ramon deveria pagar mais tarde? Que tipo de lógica é essa?" Damien franziu o cenho. As escolhas humanas eram um caos, mas havia uma linha tênue entre permitir o livre arbítrio e assistir à injustiça sem fazer nada.
Ele se lembrou de Ellie: o sofrimento nos olhos dela, a maneira como ela parecia carregar o peso do mundo. Damien sabia que havia interferido, mas faria tudo de novo. "Eu fiz o que era certo. E esse teste? É isso que Zeus queria? Que eu ficasse parado enquanto vidas eram destruídas?"
Quando a conversa mudou para o papel de Nyssa, Damien prestou atenção com mais cuidado. Ela se intitulava uma observadora, uma guia enviada por Zeus. Mas algo naquela declaração o deixou desconfortável.
"Garantir que os testes de Zeus sejam realizados corretamente? Isso soa como controle, não orientação. E o que acontece se eu falhar no teste? Ou pior, se eu passar?"
O momento em que ela mencionou estar lá para entender quem ele era também o deixou alerta. Ele nunca gostou de ser analisado, principalmente por alguém tão próximo a Zeus. Havia algo mais naquele discurso.
"Entender se sou uma ameaça ou uma oportunidade?" Ele repetiu as palavras em sua mente, sentindo um calafrio percorrer sua espinha. Se havia uma coisa que ele sabia sobre Zeus, era que o deus dos céus não fazia nada sem um propósito.
Damien olhou de relance para Nyssa, que caminhava ao seu lado com a expressão serena, quase impenetrável. "Ela não é confiável. Ela é filha de Zeus, afinal. Mas... por que ela está aqui mesmo assim? Se o objetivo dela é garantir que eu siga as regras, então por que parece que ela está tentando me entender de verdade?"
Havia algo nela, algo na maneira como ela falava e o encarava, que parecia genuíno. Ainda assim, Damien sabia melhor do que confiar cegamente. Ele já havia aprendido que nem todo aliado era o que parecia ser.
"Ela me observa. Mas eu também a observo."
Ao final da conversa, Damien tinha mais perguntas do que respostas. Ele sabia que precisava tomar cuidado, não apenas com Nyssa, mas com todo o cenário que se desdobrava ao seu redor. Cada palavra dita por ela era uma pista, mas também uma armadilha em potencial.
"Se Zeus pensa que pode me manipular como uma peça de seu jogo, ele vai se decepcionar."
Damien deu um último olhar para Nyssa, que parecia perdida em seus próprios pensamentos. Ele não sabia quem ela realmente era ou quais eram suas intenções finais, mas havia algo em sua presença que o intrigava.
"Vou descobrir o que você quer, Nyssa. E, se necessário, vou fazer você revelar a verdade."
Damien olhou profundamente nos olhos de Nyssa. A deusa retribuiu o olhar, mantendo-se firme e serena, mas havia um brilho de curiosidade em sua expressão. Os segundos se estenderam como uma corda ordenada a se romper, até que Damien finalmente cortou o silêncio.
— Acho que descobri algo sobre você.
Nyssa arqueou uma sobrancelha, surpresa com a declaração inesperada.
- Oh? E o que seria isso? — Disse, com um toque de interesse.
Damien hesitou por um momento, como se ponderasse a relevância do que estava prestes a dizer. Mas então, com a tranquilidade que lhe era característica, respondeu:
— Seu nome...
Nyssa estreitou os olhos, inclinando-se a cabeça, intrigada.
— O que tem meu nome?
Damien deu um pequeno sorriso, como quem saboreava a provocação antes de soltá-la.
— É estranho.
Por um instante, o mundo pareceu congelar. Nyssa piscou lentamente, processando a declaração, e então seu rosto se contorceu em uma carranca de pura indignação.
— Estranho?! — repetiu ela, a voz compartilhada de incredulidade e raiva crescente. — Maldito, acha que insultar uma deusa vai lhe trazer algum mérito?
Damien manteve a expressão inalterada, observando-a com a mesma serenidade.
— Não, mérito nenhum. Só consegui que eu precisasse dizer. Então disse.
Nyssa cruzou os braços e o olhou com uma mistura de desprezo e surpresa, como se estivesse tentando decidir entre fulminá-lo ali mesmo ou rir da ousadia.
— Você é insuportável — murmurou ela, afastando os cabelos para trás da orelha.
Damien deu de ombros, condenado com a ocorrência. "Agora entendo Ellie, esse tipo de coisa é realmente engraçado"
E assim, de maneira tão convidativa quanto desconcertante, Damien conseguiu sua primeira aliada no mundo mortal. Uma aliada que, ele sabia, eventualmente o apunhalaria pelas costas, arrastando-o para situações mais complicadas do que ele poderia prever.
Ainda assim, estavam todos eles. A deusa e o deus em teste, unidos por uma aliança tênue e ocasionada por desconfiança, destino e, talvez, algo que nenhum deles ousava admitir.