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Igreja sombria

Ao cruzarem as portas da igreja sombria, Damien e Nyssa sentiram um arrepio correr por suas espinhas. Lá dentro, o ambiente era sufocante, como se o ar estivesse carregado de um peso invisível que pressionava seus corpos. A tensão entre os dois deuses era palpável; eles sabiam que não estavam apenas em território hostil — estavam no coração de algo muito maior.

As paredes internas eram feitas de um material estranho, algo entre pedra e carne viva. Elas pulsavam levemente, como se estivessem respirando, e raízes negras serpenteavam por toda a extensão, emaranhadas como artérias de um coração grotesco. Candelabros pendiam do teto, mas em vez de luz, emanavam uma chama azulada que lançava sombras distorcidas pelo ambiente.

— Esse lugar não foi feito para acolher almas puras, muito menos divinas. — Nyssa comentou, sua voz baixa, mas carregada de preocupação. — Ele quer nos dobrar, Damien.

Damien parou no meio do salão principal, olhando em volta com uma expressão séria.

— Não nos matar. Nos corromper. Isso é o que torna tudo mais perigoso. Eles querem as nossas almas.

Nyssa assentiu lentamente.

— E nossas almas não são comuns. São divinas. Se algo aqui conseguir nos corromper... — Ela deixou a frase no ar, mas ambos sabiam o que significava. Se suas almas caíssem, o equilíbrio já frágil entre vida e morte poderia ser completamente rompido.

Damien apertou o punho, olhando ao redor, buscando algo que pudesse dar uma pista sobre como lidar com aquela situação.

— Então precisamos impedir isso antes que vá longe demais. Alguma ideia?

Nyssa hesitou, seus olhos varrendo a sala enquanto sua mente trabalhava.

— Corromper uma alma divina requer uma força absurda. Não é algo que qualquer ser poderia fazer. Precisa ser um poder antigo, algo que transcenda os mortais e os deuses...

Damien virou-se para ela, seus olhos estreitados.

— Como um titã.

Nyssa olhou para ele, sua expressão confirmando o que ele havia dito.

— Sim. Isso explicaria por que este lugar foi trancado do lado de fora. Eles sabiam o que estava aqui, mas não podiam destruir. Apenas esconder.

Damien respirou fundo, controlando a raiva que crescia dentro de si.

— E deixaram isso para nós. Claro que sim.

Nyssa assentiu, mas seu rosto carregava uma sombra de preocupação. "Muito antes dos deuses do Olimpo reinarem, os Titãs governavam. Eles eram primordiais, manifestações das forças mais antigas do universo. Eles não apenas representavam conceitos, como nós, deuses; eles eram essas forças. A terra, o céu, os mares, a luz, a escuridão... tudo o que existe. E, quando os deuses desafiaram sua soberania, a guerra foi tão devastadora que quase desfez o mundo."

Damien cruzou os braços, atento. "E essa guerra, ela acabou mesmo? Porque parece que estamos enfrentando ecos dela agora."

Nyssa hesitou antes de responder. "A guerra terminou... no sentido mais prático. Zeus e os outros deuses conseguiram aprisionar a maioria dos Titãs no Tártaro, um abismo tão profundo que nem mesmo a luz alcança. Mas nem todos os Titãs foram completamente destruídos ou contidos. Alguns fragmentos, resquícios de sua essência, ainda escapam. Como sombras de algo maior."

"Esses 'fragmentos' que você menciona," Damien interrompeu, com a testa franzida, "eles são fortes o bastante para fazer isso?" Ele apontou para a igreja ao redor.

Nyssa olhou para o altar sombrio, sua expressão sombria. "O poder de um titã é absoluto, mesmo quando fragmentado. Um único pedaço de sua essência pode corromper um lugar inteiro, alterar sua própria realidade e desafiar as leis naturais. Se o que estamos enfrentando aqui realmente vem de um Titã... então isso é apenas o começo."

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Damien olhou ao redor, absorvendo cada detalhe do ambiente. "Se é isso que um fragmento pode fazer, fico imaginando o que aconteceria se um Titã inteiro escapasse."

"Zeus teme isso acima de tudo," Nyssa admitiu. "Por isso, a guerra contra os Titãs nunca foi apenas sobre vencer. Foi sobre controle. Os deuses sabiam que, se não os contivessem, o reinado deles seria curto. Mas isso teve um custo. A prisão dos Titãs não foi perfeita. Sempre houve brechas, lugares como este, onde a essência deles se infiltra e cria algo novo e perigoso."

Damien respirou fundo. "Então é isso que enfrentamos. Um fragmento perdido de um Titã, corrompendo tudo ao seu redor. E nós fomos enviados aqui para resolver um problema que nem Zeus teve coragem de enfrentar diretamente."

Nyssa não respondeu. Sua expressão grave dizia tudo o que ele precisava saber.

"Ótimo," Damien murmurou, voltando sua atenção para o altar. "Vamos começar a desvendar isso antes que a coisa fique pior. Se esse fragmento de poder já fez tanto estrago, imagine o que ele pode fazer se crescer."

Enquanto eles continuavam a explorar a igreja, o ar parecia mais pesado, como se a própria estrutura estivesse reagindo à conversa deles. Damien e Nyssa sabiam que não estavam sozinhos, mas o que quer que estivesse lá, escondido nas sombras do lugar, parecia esperar pacientemente para agir.

Eles tinham pouco tempo, e cada passo os aproximava de algo que mal podiam entender.

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A situação estava longe de ser favorável. As almas corrompidas, aparentemente infinitas, se lançavam contra as portas da igreja como um mar de desespero. Algo, no entanto, impedia sua entrada, um pequeno alívio em meio ao caos. Lidar com aquela horda interminável, ainda mais com o risco de ter suas próprias almas corrompidas, seria um fardo quase impossível de suportar.

Damien e Nyssa vagavam pelo interior sombrio da igreja, tentando encontrar qualquer pista que os ajudasse a resolver a situação. Para Damien, a frustração era dobrada. Além de estar preso ali, sua conexão com Perséfone também parecia bloqueada, um efeito colateral da estranha energia que permeava o lugar.

“Você consegue lidar com aquele enxame de almas sem se corromper, Nyss? Porque, se não, estamos sem muitas opções,” perguntou Damien, seu tom era quase desafiador, mas os olhos revelavam preocupação.

Nyssa o encarou brevemente antes de voltar a vasculhar os arredores. Seus movimentos eram precisos, mas sua frustração começava a transparecer.

“Não podemos nos dar ao luxo de arriscar. Aquilo lá fora é claramente uma distração, uma forma de nos desgastar. O verdadeiro problema está aqui dentro,” ela afirmou, parando para observar um entalhe na parede. “Tenho certeza de que o responsável por tudo isso está escondido aqui, mas ele não quer se revelar tão facilmente.”

Damien arqueou uma sobrancelha. “Alguma habilidade sua faz você ter essa certeza, ou é só intuição divina?”

A pergunta pairou no ar, mas Nyssa se recusou a responder. Ela desviou o olhar e continuou fingindo estar concentrada em sua busca. Damien não insistiu, mas registrou o silêncio como mais uma peça do quebra-cabeça que Nyssa parecia ser. Apesar da tensão, ele não podia negar que algo nela despertava sua curiosidade – e uma leve desconfiança.

Enquanto observava as runas no altar, Damien não conseguia evitar que seus pensamentos se voltassem para Nyssa. Apesar de estarem lado a lado desde que começaram essa jornada, ela ainda era uma incógnita.

"A deusa do julgamento," pensou ele, franzindo a testa. "Uma filha de Zeus, mas que nunca ouvi falar. Estranho. Zeus espalhou tantos filhos pelo mundo que eles acabaram se tornando quase banais. E mesmo assim... por que eu nunca soube da existência dela antes? Alguém com esse título deveria ser conhecida, especialmente entre os deuses."

Ele a observou pelo canto do olho. Nyssa parecia totalmente absorvida no ambiente, inspecionando cada detalhe com cuidado, como se procurasse algo que ele não podia ver.

"Ela fala pouco sobre si mesma. Evita perguntas, mas parece saber muito sobre mim. Talvez até mais do que eu gostaria. Isso me deixa em desvantagem... e eu odeio estar em desvantagem."

Damien voltou sua atenção para as runas, mas o pensamento continuava a martelar em sua mente.

"Zeus não faz nada sem um motivo. Se ele enviou Nyssa, não foi só por acaso. Mas ela é uma peça nesse tabuleiro, assim como eu. A questão é: ela sabe disso?"

A ideia o incomodava mais do que ele gostaria de admitir. Ele tinha o hábito de confiar em seus instintos, mas Nyssa era diferente. Sua presença era uma constante lembrança de que ele precisava permanecer alerta.

"Até descobrir mais sobre ela, vou manter a guarda levantada. Deuses sabem o que ela está escondendo."

Os minutos se arrastaram, e a busca incessante pela igreja parecia inútil, até que Damien finalmente encontrou algo.

“Isso pode ser o que estamos procurando,” disse ele, sua voz carregada de triunfo. Ele se aproximou do altar central, onde havia um conjunto de runas gravadas em sua parte traseira. Nyssa rapidamente se juntou a ele, cruzando os braços com irritação.

“É claro que você encontraria primeiro,” murmurou ela, os lábios pressionados em desagrado.

Damien ignorou o comentário, focado nas marcas. As runas pareciam contar uma história: um vilarejo próspero e repleto de pessoas comuns. No entanto, à medida que os entalhes avançavam, o cenário mudava. As figuras humanas eram substituídas por criaturas grotescas, deformadas, com olhos vazios e corpos retorcidos. No final da sequência, um demônio colossal era representado acima de todos, como se reinasse sobre aquele reino de horrores.

O deus da morte inclinou-se para observar os detalhes. A presença daquele demônio era perturbadora, mas o que mais chamava sua atenção era algo que ele mal conseguia descrever. O desenho parecia... vivo, quase pulsando com uma energia que fazia sua pele arrepiar.

“Interessante,” murmurou Damien, sem desviar os olhos. “Isso não é só um símbolo, é um aviso.”

Nyssa o analisou com uma expressão sombria. “E um convite para problemas,” acrescentou ela.

A tensão no ambiente aumentava a cada segundo, e ambos sabiam que aquele momento era apenas o início de algo muito maior e mais perigoso.

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