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Herdeiro da morte [Português Brasil]
Conversa, comida e começo

Conversa, comida e começo

Ele segurou o colar com cuidado, fechou os olhos e despejou uma parte de sua essência nele. O colar começou a brilhar mais intensamente, até que um feixe de luz projetou-se no ar à sua frente. Em instantes, a figura de Perséfone, sua mãe, surgiu como uma aparição etérea.

Ela estava sentada em um trono de flores, sua presença irradiando serenidade e poder. Seus olhos, porém, carregavam uma expressão de preocupação ao encontrar os de Damien.

— Damien, meu filho. — Sua voz era suave, mas cheia de autoridade. — Finalmente se lembrou de falar comigo.

Damien soltou um suspiro leve e se sentou no chão, cruzando as pernas.

— Estive ocupado. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo.

Perséfone inclinou a cabeça, estudando-o com cuidado.

— Estive ciente, e imagino que tenha sido complicado. E agora, o que o trouxe até mim?

Damien hesitou por um momento, mas logo começou a falar.

— Descobri algumas coisas sobre o equilíbrio entre a vida e a morte. Parece que há algo... uma força que está desequilibrando tudo. Ellie e Ramon, um humano e um semideus foram afetados por isso, e, de alguma forma, eu também sou parte da solução.

Perséfone ouviu em silêncio, seus olhos brilhando com uma mistura de preocupação e curiosidade.

— Isso explica sua presença no mundo mortal. Mas, Damien, você sente que está pronto para lidar com algo dessa magnitude?

Ele soltou uma risada curta, quase sem humor.

— Essa é a questão, não é? Não sei se estou pronto. Para ser honesto, acho que ninguém está. Os deuses do Olimpo estão completamente perdidos, e agora estou sendo guiado por Nyssa, uma deusa que parece tão confusa quanto eu.

Perséfone ergueu uma sobrancelha, mas não comentou sobre Nyssa. Em vez disso, inclinou-se um pouco para frente.

— Lembre-se de algo, meu filho: o equilíbrio entre a vida e a morte é delicado, mas não é inquebrável. Ele é cíclico, como as estações. Porém, se algo realmente está roubando a essência das almas, você precisará de mais do que força. Precisará de sabedoria e discernimento para entender o que está enfrentando.

Damien passou a mão pelo rosto, exasperado.

— E como eu consigo isso? A única coisa que sei fazer é lutar e matar.

— Isso não é verdade. — A voz de Perséfone tornou-se mais firme. — Você carrega em si não apenas o poder da morte, mas também o da vida. Esse é o legado que eu te dei. Você tem a capacidade de compreender as nuances entre o fim e o recomeço, Damien. Use isso.

Ele ficou em silêncio, deixando as palavras dela ecoarem em sua mente. Após alguns momentos, levantou o olhar para a figura de sua mãe.

— E quanto a esse lugar que eu estou indo? Parece que nem mesmo os deuses conseguem chegar lá. Eles acham que eu posso, mas... e se não puder?

Perséfone esboçou um pequeno sorriso, mas havia tristeza em seus olhos.

— Você sempre foi teimoso, Damien. Não há lugar no mundo ou além dele que você não possa alcançar se decidir ir. Apenas lembre-se de que algumas respostas só serão reveladas no momento certo. Seja paciente, e confie em si mesmo.

Ele assentiu, ainda com dúvidas, mas sentindo-se um pouco mais leve.

— Obrigado, mãe. É bom ouvir sua voz de novo.

Perséfone inclinou a cabeça, um sorriso gentil curvando seus lábios.

— Sempre estarei aqui, Damien. Mas tome cuidado. O caminho que você está trilhando será mais desafiador do que você imagina.

Com essas palavras, a luz que formava sua imagem começou a enfraquecer, até que desapareceu por completo. Damien ficou ali sentado por mais alguns minutos, olhando para o colar em suas mãos.

Ele suspirou, colocou o colar de volta em seu pescoço e se deitou no chão de pedra fria. Era melhor que uma árvore, pelo menos.

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Enquanto seus olhos se fechavam, sua mente estava repleta de pensamentos sobre o que o aguardava. Ele sabia que o caminho seria difícil, mas, pela primeira vez em semanas, sentiu que poderia enfrentar o que viesse. Afinal, ele não estava sozinho — pelo menos, não completamente.

Finalmente concluindo tudo que tinha para fazer, ele se deitou em uma cama no quarto em que Nyssa havia estado antes de partir.

Era hora de fechar os olhos e aguardar pelo dia de amanhã.

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Pela manhã, quando Damien despertou, a casa estava silenciosa, mas um leve ruído vindo de outro cômodo chamou sua atenção. Ele se levantou, ainda sonolento, seguindo o som até a cozinha. Lá, deparou-se com uma cena inesperada: Nyssa estava ocupada em meio a uma mesa repleta de pratos e aperitivos variados, dispostos com perfeição.

“Bom dia”, disse Nyssa ao perceber Damien parado na entrada, os olhos fixos na mesa.

“Oh... bom dia”, respondeu ele, arqueando uma sobrancelha. “De onde saiu tudo isso?”

Ele não conseguia disfarçar a surpresa. A ideia de Nyssa preparando aquela fartura parecia absurda. E, como ele suspeitava, ela logo esclareceu.

“São apenas suprimentos que peguei antes de sair do Olimpo. Tenho uma bolsa mágica que carrega coisas úteis. Foi um presente do meu pai.”

Damien sentiu uma pontada de inveja. Ele era um deus, mas havia passado as últimas semanas se alimentando de carne de caça mundana e frutas silvestres. Claro, ele não precisava de comida para sobreviver – os deuses estavam além dessas necessidades mortais –, mas isso não significava que não apreciassem uma boa refeição. Comer não era questão de sustento, mas de prazer, e ele sentia falta do luxo que o Olimpo oferecia.

Ele se aproximou, atraído pelo aroma tentador, e começou a provar os pratos. Não era exatamente elegante em sua abordagem, mas o gosto compensava.

Nyssa observava em silêncio, um olhar peculiar estampado no rosto, como se estivesse analisando cada movimento dele. No entanto, ela não disse nada, permitindo que Damien devorasse parte da mesa antes que o silêncio fosse rompido.

“Então, resolveu o seu problema?” perguntou Damien, sua voz carregada de desdém calculado.

“Sim”, respondeu Nyssa prontamente, sem hesitar.

Damien levantou os olhos para ela enquanto mastigava um pedaço de pão. “Qual era o problema?”

Dessa vez, Nyssa demorou a responder. Ela fixou os olhos nele, um brilho enigmático em seu olhar, antes de finalmente abrir um sorriso cínico.

“Coisas de mulher”, disse ela, com um tom levemente provocador.

Damien suspirou. Era claro que ela não pretendia dar mais detalhes, e ele já esperava por isso. Ele recostou-se na cadeira, cruzando os braços enquanto a observava com desconfiança.

“Então ela já começou o jogo dela”, pensou consigo mesmo. “Seja lá qual for o plano, está claro que não vou ouvir a verdade tão cedo.”

Nyssa percebeu o silêncio carregado e sorriu novamente, desta vez de forma mais sutil.

“Coma à vontade, Damien. Você vai precisar de energia para o que está por vir…”, disse ela, inocentemente, antes de se levantar da cadeira e sair da cozinha, deixando-o sozinho com seus pensamentos e uma mesa cheia de possibilidades – tanto para o estômago quanto para a mente.

Após o café da manhã, Nyssa voltou à sala principal da casa, onde Damien estava recostado na poltrona próxima à janela, ainda refletindo sobre o que ela poderia estar escondendo. A luz do dia filtrava-se pelas árvores ao redor da casa, criando padrões de sombras no chão de pedra. Ela parou no meio da sala e cruzou os braços, seu olhar sério chamando a atenção de Damien.

“Está na hora de começarmos a nos preparar para o que nos espera”, disse ela.

Damien arqueou uma sobrancelha, interessado. “Preparar como, exatamente? Não é só chegar lá e resolver o problema?”

Nyssa suspirou, como se estivesse lidando com uma criança impaciente. “Se fosse simples assim, eu teria ido sozinha, Damien. Esse lugar não é apenas oculto dos mortais; ele é envolto em forças que nem os deuses compreendem completamente. Você precisa estar pronto para enfrentar o inesperado.”

Damien inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. “E o que você sugere? Algum treinamento divino? Ou talvez outra bolsa mágica do Olimpo?”

“Seja sério por um momento”, retrucou Nyssa. “O Reino Perdido não é um lugar comum. As energias que o cercam podem mexer com sua mente, sua força... até mesmo com a sua essência divina. Precisamos de proteção, estratégias e recursos.”

Ela foi até um armário na parede e abriu suas portas, revelando um arsenal de armas, pergaminhos e frascos brilhantes. Damien levantou-se imediatamente, seus olhos brilhando de interesse.

“Impressionante”, ele murmurou. “Você tem uma armaria inteira aqui e só agora está mostrando isso?”

“Você não precisava antes”, disse ela com indiferença. “Mas agora, escolha uma arma. Não subestime o que podemos enfrentar.”

Damien aproximou-se do armário, os dedos passando pelas espadas, adagas e arcos. Cada arma parecia feita de materiais raros, com inscrições que ele sabia serem feitiços antigos. Finalmente, ele pegou uma espada de lâmina negra, que parecia absorver a luz ao redor.

“Essa é interessante”, disse ele, examinando-a de perto.

Nyssa observou com um sorriso leve. “Boa escolha. É forjada com ferro estígio. Ela será útil contra as entidades que encontrarmos por lá.”

Ela então retirou um pergaminho de dentro do armário e o abriu em uma mesa próxima. O mapa detalhava uma região vaga, envolta em marcas nebulosas que pareciam mudar de forma.

“Este é o melhor mapa que temos do Reino Perdido”, explicou ela. “Como você pode ver, ele é instável. As forças do lugar tornam impossível traçar um caminho fixo. Vamos precisar de instinto e, mais importante, de sorte.”

Damien franziu a testa enquanto analisava o mapa. “Então, estamos indo às cegas. Fantástico.”

Nyssa revirou os olhos. “Nem tanto. Também tenho esses.” Ela apontou para alguns frascos brilhantes no armário.

“Poções?” perguntou Damien, pegando um dos frascos.

“Poções de proteção e restauração”, explicou Nyssa. “Eu as preparei antes de sair do Olimpo. Elas vão ajudar a manter nossas forças intactas. E esta...” Ela pegou um frasco dourado, com líquido cintilante dentro. “... é uma poção de localização. Se estivermos perto do coração do problema, ela começará a reagir.”

Damien pegou o frasco dourado, segurando-o contra a luz. “Útil. Mas isso tudo ainda não explica como vamos chegar lá.”

Nyssa fechou o armário e virou-se para ele. “Vamos usar seu teletransporte ou seja lá o que você use para chegar até o ponto mais próximo que os deuses podem alcançar. A partir dali, precisaremos atravessar a barreira entre os mundos sozinhos. Não podemos usar teletransporte ou outros métodos divinos, porque eles falham perto daquelas energias.”

Damien suspirou, guardando a espada na bainha que Nyssa havia fornecido. “Então é isso. Caminhar como mortais, confiar em poções e instintos, e esperar que não morramos no processo.”

Nyssa sorriu de canto. “É mais ou menos isso. Mas, honestamente, eu diria que você vai se divertir. Afinal, quem não gosta de uma aventura?”

Ele deu um sorriso amargo. “No entanto, não me parece tão divertido quando envolve confiar em outra pessoa.”

Ela ignorou a provocação e pegou sua bolsa mágica, ajustando-a no ombro. “Vamos. Quanto mais rápido começarmos, mais cedo terminamos.”

Damien suspirou e a seguiu até a porta da frente. Enquanto saíam, ele lançou um último olhar para a casa mística, sentindo que talvez aquela fosse a última vez que veria algo tão sereno.

“Que comece o caos... na verdade, melhor não”, murmurou, enquanto os dois desapareciam em uma fenda negra que os levaria ao desconhecido.