Ramon era um homem de extremos, desde o nascimento. Enquanto sua linhagem era marcada pelo sangue de Ares, que fluía como uma chama latente em cada geração, algo nele era diferente. A ferocidade e a intensidade herdadas do deus da guerra se manifestaram de maneira desproporcional, quase monstruosa. Ramon não era apenas impulsivo; ele era um incêndio sempre à beira da superioridade. Desde cedo, seus olhos castanhos carregavam um brilho perturbador, algo que assustava até mesmo aqueles que compartilhavam seu sangue.
Seu pai, Emílio, um homem robusto e disciplinado, via em Ramon o que ele temia: o legado descontrolado do sangue divino. Emílio, apesar de também ser descendente de Ares, conseguiu manter a ira e a intensidade sob controle por meio de treinamento e disciplina. Ramon, porém, parecia ser uma exceção. Não importava quanto o pai tentava moldá-lo, o garoto demonstrava um desequilíbrio que escapava a qualquer lógica.
A infância de Ramon foi marcada por sinais de que ele era diferente, mesmo para um semideus. Seu pai, um homem justo, mas rígido, notava isso e fazia o possível para ensinar autocontrole ao filho. “Somos descendentes de Ares, Ramon”, dizia ele enquanto treinavam no campo. "Mas não somos escravos de sua vontade. Somos homens antes de tudo." No entanto, Ramon era incapaz de compreender plenamente o que seu pai tentava ensinar. Para ele, o mundo era cruel, e a força era a única coisa que fazia sentido.
Quando criança, ele era conhecido por sua força descomunal. Mas o problema não era apenas sua força; era a maneira como ele usava. Uma vez, quando tinha sete anos, um grupo de garotos mais velhos tentou intimidá-lo. Eles zombaram de sua origem, chamaram-no de "aberração" por causa dos olhos que brilhavam em vermelho sob certas luzes. Ramon não hesitou: corta o braço de um deles e feriu gravemente outro. A sensação que teve enquanto os machucava era ao mesmo tempo aterrorizante e intoxicante. Ele não apenas venceu; ele saboreou a vitória.
Esses episódios eram recorrentes, e cada vez mais difíceis de conter. Aos doze anos, Ramon tinha quase o dobro da força de outros garotos de sua idade. Sua mãe, preocupada, implorou ao pai que o afastasse da vila. “Ele é perigoso, Emílio”, ela dizia com lágrimas nos olhos. "Ele não é como você. Ele nasceu errado." Emílio, no entanto, recusava-se a desistir do filho. Ele acreditava que poderia salvá-lo, que com disciplina e amor, Ramon aprenderia a controlar aquela parte de si.
Mas foi na adolescência que os traços mais sombrios começaram a emergir. Ramon tinha uma fome peculiar: ele ansiava pela vitória a qualquer custo. Não importava o desafio, ele não poderia simplesmente desistir ou aceitar uma derrota, mesmo em situações triviais. O mundo era, para ele, um campo de batalha constante. E quando ele não consegue dominar algo ou alguém, a frustração se transforma em explosões de violência.
Seu pai levou para treinamento físico e mental, tentando moldar a ferocidade em disciplina. São ensinados que guerra sem controle era destruição sem propósito. Mas para Ramon, o controle parecia uma prisão. O que ele não conseguiu explicar era o porquê. Por que ele era assim? Por que a centelha do caos parecia sempre queimá-lo de dentro para fora?
Foi anos depois, já como um jovem adulto, que Ramon cruzou o caminho de Helena, a mãe de Ellie. Helena era uma mulher de uma beleza que parecia transcender o mortal. Seus cabelos negros como uma noite sem estrelas, seus olhos alongados e o sorriso delicado carregavam uma graça que era quase hipnotizante. Mas o que realmente chamou a atenção de Ramon foi a confiança que ela exalava.
Ela era inatingível.
Ramon viu pela primeira vez em uma vila onde ele buscava suprimentos. Ela estava acompanhada por um homem, o que apenas atiçou mais sua obsessão. Havia algo nela que Ramon desejava, e ele não sabia dizer exatamente o quê. Mas quanto mais a via, mais ele sentiu uma ferocidade crescendo dentro de si. Era diferente de todas as vezes que ele havia perdido o controle antes. Desta vez, era uma obsessão.
Ele tentou abordá-la, inicialmente de forma cortês, o que para ele já era um esforço monumental. Mas Helena foi educada e firme: ela não tinha interesse em conhecê-lo. Quando ele insistiu, ela ficou ainda mais clara, cortando qualquer tentativa de aproximação. Ela amava o homem com quem estava, e sua felicidade era evidente.
Isso deveria ter sido o fim. Mas para Ramon, foi o início.
A rejeição de Helena alimentou algo dentro dele que estava há muito tempo preso. Ele começou a persegui-la discretamente, observando sua rotina, seus gestos, seus momentos de intimidação com o homem que ela amava. Cada riso, cada toque entre eles era uma faca que se cravava mais fundo no coração de Ramon. Ele não entendeu por que aquilo o consumia tanto.
Uma loucura finalmente explodiu em uma noite, quando ele encontrou Helena sozinha, em uma estrada deserta. Ele implorou por sua atenção, compreendendo que ela não poderia ignorá-lo, que eles eram destinados a um outro. Mas Helena, quente e firme, manteve-se inabalável. Ela esperava o com palavras afiadas, dizendo que ele precisava encontrar seu próprio caminho, longe dela.
Foi nesse momento que Ramon perdeu o controle completamente. A escuridão dentro dele assumiu o comando. Ele atacou Helena, movido por um impulso de raiva, destruído e desejo. Mas algo dentro dele também lutava contra o que estava fazendo. Ele hesitou no último momento, deixando Helena escapar, mas não sem feridas – tanto físicas quanto emocionais.
Ramon se lembrou de seu pai, das lições que ele havia dado para conter aquela fúria avassaladora que o consumia.
Ele havia machucado uma mulher inocente, alguém que nada tinha a ver com sua loucura. Contudo, Ramon levou rapidamente esses pensamentos de sua mente.
Aquela mulher... ela era dele. Ela tinha que ser dele, e de mais ninguém.
A decisão foi tomada. Ele a tomaria, nem que fosse preciso usar toda a força. Ele já havia deixado sua marca na mente dela, e agora, o que restava era terminar o que começara.
Destruir a mulher agora, enquanto ela ainda era frágil, seria mais fácil. Faça-la ceder aos seus desejos não seria um grande desafio. Essa era sua crença.
Ele foi preparado, cada detalhe de seu plano foi cuidadosamente treinado. Ramon sabia que a guerra não era vencida apenas com força bruta, mas com estratégia. Ele era o descendente da guerra, e seus instintos diziam que o momento certo estava próximo.
Mas algo, de repente, mudou. Uma descoberta que fez seu coração se encher de raiva: Helena estava grávida daquele homem.
A fúria tomou conta dele. “Maldito! Como ousa fazer isso com minha mulher?” - Seus pensamentos estavam imersos em um turbilhão de ódio, e sua mente fervia com a ideia de matar aquele homem - ali é agora.
No entanto, Helena se mostrará astuta. Ela havia contratado semideuses e humanos abençoados para observar-la. Seria um desafio, mas Ramon decidiu dar um jeito.
Os meses passaram com a rapidez do vento. Em um piscar de olhos, o bebê já nasceu. A espera se tornara insuportável para Ramon, que sentiu seu desejo por Helena crescer ainda mais, assim como seu anseio de derramar o sangue do homem que ousara tocá-la.
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Mas então ele viu uma oportunidade. Helena, finalmente, já não estava mais cercada por todos aqueles guardas dos semideuses e abençoados adquiridos se existentes. Manter tal proteção era caro, e ele sabia que ela não teria mais recursos para sustentar isso.
Talvez ela fosse uma princesa rica, pensada, mas isso não importava mais. O que importava era uma chance, uma abertura que ele esperasse tanto tempo.
Restavam apenas dois guardas, dois abençoados. Era uma brecha que Ramon aguardava.
Ele deu um sorriso maléfico. - “Ahhh... finalmente. Esperei tanto por isso…”
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Helena estava sentada à beira da lareira, com detalhes da luz amarelada refletindo nas paredes de madeira envelhecida. Ao seu lado, Ellie, sua filha, brincava com suas bonecas no tapete, rindo suavemente enquanto dava voz a cada uma das figuras de porcelana. O som de sua risada era como uma melodia tranquila, preenchendo o ambiente com uma sensação de paz que Helena não imaginava ser possível há algum tempo.
Seus olhos, embora marcados pelo tempo e pelas lutas que enfrentara, agora brilharam com uma calma que ela quase não se reconhecia em si mesma. A presença de Ellie, tão pura e cheia de vida, trouxe-lhe uma felicidade inusitada, uma felicidade que a fazia esquecer, por alguns momentos, os horrores que sempre serviram à espreita.
Ao seu lado, seu marido, Marcus, estava tão tranquilo quanto ela. Seus ombros largos e seus braços fortes estavam relaxados enquanto ele se encostava na poltrona ao lado de Helena. Ele foi enviado para ela, e ela sentiu o calor do seu amor, uma segurança silenciosa que a envolvia. Os olhos dele, sempre atentos, observavam o movimento de Ellie, mas havia uma leveza na maneira como ele olhava para sua família — uma leveza que lhe dava a sensação de que o mundo, mesmo que cheio de sombras, estava finalmente distante.
"Ela cresceu tanto", murmurou Helena, sua voz suave e cheia de ternura enquanto observava Ellie brincar. O amor que sentiu por sua filha transbordava, um amor que parecia inquebrável.
Marcus invejoso, apertando sua mão. "Ela é nossa. Não há nada que possamos tirar isso."
A frase era simples, mas profunda. Em momentos como aquele, Helena acreditava nisso. O tempo parecia ter parado ali, no aconchego de sua casa, com sua filha a brincar e seu marido ao seu lado, como se nada pudesse ameaçar a felicidade que construíram juntos. Mesmo nas adversidades passadas, e nas que poderiam surgir, eles tinham uns aos outros, e isso os tornou invencíveis.
A brisa suave que entrava pela janela aberta trazia o cheiro da terra molhada, sinal de que a primavera se aproximava. O momento era perfeito, e Helena sabia que ali, entre os braços de sua família, ela estava exatamente onde deveria estar — protegida, amada e em paz.
Ela não sabia por quanto tempo poderia permanecer assim, mas por aquele momento, não havia lugar no mundo que desejasse mais do que aquele pequeno refúgio de felicidade.
Para seu infortúnio, porém, aquela felicidade não durou muito.
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O silêncio da noite foi quebrado por um som distante, o estelo seco de galhos quebrando sob passos pesados. Helena, que estava distraída com Ellie, sentiu-se ao mudar. Havia algo errado. Um calafrio percorre sua espinha, como se uma sombra tivesse sido instalada em casa, um presságio que ela não conseguia explicar.
Marcus, que ainda sorria ao lado dela, imediatamente sente o desconforto de sua esposa. Seu sorriso sombrio, e seus olhos, antes suaves, se tornaram alertas, analisando a escuridão lá fora. Algo se aproximava, algo que não estava certo.
"Fique com Ellie", ele tentou em tom firme, sua voz sem espaço para questionamentos. Helena o olhou, confusa, mas a expressão de Marcus dizia tudo. Ele sentiu o mesmo que ela. Algo estava prestes a acontecer.
Antes que ela pudesse protestar, ele se tornou básico, indo em direção à porta com passos largos, determinados. Helena ficou paralisada por um momento, sua mente lutando para processar a situação. Ellie ainda estava no tapete, tão envolvida em sua brincadeira que não percebeu a tensão no ar.
Quando a porta se abriu, o vento entrou, trazendo com ele a sombra de um homem. Ramón. Seus olhos, sombrios e vazios, estavam fixos em Marcus, e Helena descobriu, no mesmo instante, que o pesadelo que ela temia havia se tornado real.
"Você não vai machucar minha família", Marcus simbolicamente, a voz cheia de autoridade. Ele já estava com a espada em punho, sua postura firme, mas havia uma ênfase nítida em seu olhar. Helena não conseguia desviar os olhos de Ramon, que se aproximava com um sorriso cruel, como se soubesse o que estava por vir.
"Eu não estou aqui para discutir, Marcus. Estou aqui para levar o que é meu", disse Ramon, em voz suave, mas carregado de veneno. Ele caminhava lentamente, como se fosse dono do lugar, e cada passo dele era como uma sentença de morte.
Marcus não hesitou. Com um movimento ágil, ele avançou, seu corpo se move como um relâmpago, sua espada cortando ou ar em um movimento certeiro. Mas Ramon não se moveu. Ele estava esperando. Quando a lâmina de Marcus quase o atingiu, ele deu um passo para o lado, desarmando-o com uma facilidade impressionante. A espada caiu no chão com um som metálico, e em um único movimento, Ramon tirou uma lâmina de sua própria cintura.
Helena comentou, mas a palavra mal havia saído de seus lábios quando Ramon avançou. Marcus tentou reagir, mas era tarde demais. O homem, com uma força imensa, golpeou-o com uma lâmina afiada. A espada perfurou seu peito com um estelo seco, e Marcus tombou para trás, caindo ao chão com um baque surdo.
Helena congelou, seus olhos fixos no corpo de Marcus, a cena diante dela irreconhecível, como se estivesse vivendo um pesadelo que não podia acordar. A mancha de sangue no chão, e a vida de Marcus se esvaiu rapidamente.
"Não!" Helena comentou, correndo até ele, mas os pés significativos, como se algo a estivesse prendendo no lugar. Quando ela alcançou seu marido, ele estava respirando pesadamente, seus olhos já sem vida.
"Fique... com... Ellie..." foram as últimas palavras de Marcus, antes de seu corpo ficar inerte nos braços de Helena.
Ramon observou tudo com um sorriso torto, satisfeito. "Agora, Helena... é só você e eu."
Helena, em choque, clamou os olhos para ele. Mas dentro dela, algo desesperado. A dor, a perda, tudo isso virou uma chama, uma ira profunda que queimou sua alma. Ela não ia permitir que ele destruísse ou que restava. Não sem lutar.
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Ellie, com apenas cinco meses de idade,começou a chorar desesperadamente assim que seus olhos se fixaram na cena diante dela. O som agudo e angustiante do choro da criança cortou o silêncio pesado da casa, e foi como se o grito de sua filha atravessasse a alma de Helena, quebrando sua fúria de maneira instantânea.
Helena estava paralisada. O que ela poderia fazer contra aquele homem? Ele era um semideus, um ser dotado de poderes além da compreensão de qualquer ser humano comum. E ela... ela era apenas uma mulher. Uma mãe desesperada, mas impotente. Ela não poderia fazer nada para proteger a si mesma ou sua filha de sua fúria.
Porém, naquele momento de total impotência, algo dentro dela se acendeu. Ela não iria sucumbir àquele psicopata. Não iria se quebrar completamente. Ela resistia. Resistiria por sua filha, custasse o que custasse.
O olhar de determinação de Helena foi notado por Ramon. Ele agrada, um sorriso cruel, que reflete o prazer que ele sentiu ao ver a mulher ainda com um lampejo de resistência. "Vamos ver até quando ela vai durar com essa expressão", ele inventou, divertido com sua própria tortura psicológica.
Três dias se passaram, e cada minuto parecia uma longevidade de sofrimento. O rosto de Helena, antes belo e radiante, estava agora irreconhecível. Seus dentes estavam quebrados, e a pele que antes era suave e luminosa, agora estava marcada por hematomas grotescos. Seus olhos, antes vívidos e cheios de vida, eram agora escuros e vazios, como se a esperança tivesse sido arrancada deles. Seu nariz estava quebrado e ela mal conseguia respirar direito.
Seu corpo estava repleto de marcas de abuso, contusões e feridas que conheciam de um sofrimento imenso. Suas roupas, outras bem cuidadas, rasgadas e sujas, mal cobrindo seu corpo desfigurado. Ramon estava empenhado em destruir cada centímetro de sua dignidade. Ele havia feito de tudo para diminuir sua essência, para apagar o brilho que ela emanava com sua presença. Mas, o pior de tudo, era que ele havia conseguido sujar sua alma, tirando dela o que restava de seu espírito indomável.
Por três dias, Helena suportou esse sofrimento. O único intervalo foi para amamentar sua filha, quando ela rapidamente se recompôs para cuidar de Ellie da melhor forma que pudesse. Mesmo assim, sua expressão... Ela se manteve com o rosto implacável, sem ceder à dor, com o olhar fixo em Ramon, cheio de desprezo.
Ela estava esgotada, mas ainda de pé, ainda com a mesma expressão de desafiar aquele monstruoso. O que Ramon esperava ver, naquele ponto, era uma mulher se arrastando aos seus pés, implorando por misericórdia. Mas ele não conseguiu quebrar. Helena mostra orgulhosa, com a dignidade de quem sabia que, mesmo sofrimento, ela não seria derrotada.
O olhar de Ramon se escureceu à medida que os dias passavam. Ele não suportaria mais ver aquela mulher assim, ainda desafiadora, ainda resistente. O que ele queria agora era quebrá-la completamente, não apenas fisicamente, mas de todas as formas possíveis.
Ele não suporta mais. Seu sorriso cruel desapareceu, e o ódio tomou conta de seu rosto. "Se eu não posso ter você de jeito algum", ele murmurou com os dentes cerrados, "então nem eu, e nem mais ninguém nesse mundo terá."
Com um movimento brusco, ele clamou a mão, fazendo-a se mover em uma posição diagonal, como se estivesse erguendo uma lâmina. O gesto era claro, e o ar ao redor deles parecia ficar mais denso, mais ameaçador. Helena, mesmo diante da morte iminente, olhou diretamente nos olhos, seu olhar ainda inabalável.
"Vá pro inferno, sua merda", foram suas últimas palavras, ditas com a coragem de que ela jamais permitiria que fosse destruída.
Em um único movimento, a lâmina de Ramon desceu, separando a cabeça de Helena de seu corpo com um estelo cruel e definitivo. A mulher, com seu espírito inquebrável, finalmente encontrou o silêncio, mas seu olhar, aquele olhar desafiador, ficou gravado na mente de Ramon por muito tempo.
Ela resistiu até o fim.