Capítulo 3: Conhecendo e admitindo as regras do jogo.
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— O jogo do poder pode ser belamente emocional e cruelmente sensato.
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Depois de algum tempo inconsciente, minha consciência finalmente retornou, entretanto, ainda não consigo pensar com clareza; é como se eu estivesse em um estado de sonambulismo, só que um pouco mais consciente; até parece que meu cérebro está em uma neblina densa.
Aos poucos, meu cérebro foi clareando, minhas memórias retornando, e minha consciência, outrora mergulhada em confusão, agora já havia recuperado a totalidade da própria função; finalmente, consegui alcançar um estado no qual sou capaz de refletir sobre a minha situação.
Após isso, tentei verificar o ambiente no qual estou, todavia, apesar das minhas tentativas de olhar ao redor, não consegui me mexer. Mais precisamente, não consigo ver nada.
O que está acontecendo…? Onde estou? Por que não consigo ver nada? Ah. Então é isso que acontece depois da morte. Eu vou ficar aqui, flutuando eternamente sobre o vazio?
Isso é lamentável.
Meus pensamentos foram interrompidos quando, de repente, comecei a sentir um pouco de dor em todo meu corpo, e percebi que meu ele está… se formando? Ou se reconstruindo?
Passou alguns segundos, e finalmente, recuperei minha visão. O lugar onde eu estou também começou a se modelar, e o meu corpo, que antes flutuava em um vazio infinito, agora está de pé em um salão branco. Roupas surgiram e cobriram meu corpo. Apesar de serem roupas simples, são lindas.
Apesar de não entender o que exatamente aconteceu, fiquei de bom humor.
“Hmmm.”
Será que por eu ter sido uma boa pessoa quando estava vivo, vou receber uma recompensa no pós morte?
“Não.”
Me assustei quando uma voz feminina me respondeu.
“Quem é você? Onde eu estou?”
“Nãonpreciso nem falar que você morreu, não? Você já sabe disso, afinal. Além disso, estou em dúvida do que devo fazer com você.”
O que ela disse me fez suar frio.
“Como… Como assim?”
Um brilho que vinha do meio do cômodo iluminou todo o lugar. Depois disso, ele tomou forma, e foi substituído por uma mulher de cabelos pretos cacheados e de pele branca. Ela vestia um vestido que se parecia uma mistura de kimono com roupas brasileiras e da Gracia antiga. Entretanto, não consegui prestar atenção nisso.
Ruby era uma verdadeira beldade, mas esta mulher na minha frente… ela é o ápice da beleza.
“Oi?”
Eu engasguei quando a mulher dirigiu um olhar confuso a mim.
“Enfim, quem é você?”
A mulher riu da minha pergunta.
“Para resumir, eu sou a deusa Luisa Nier. De qualquer forma, se você acha que terá algum tipo de recompensa aqui, está enganado; por mais que você não tenha cometido nenhum crime grave, ainda sim, você invocou um demônio-”
“Qual a punição para quem invoca-”
Eu parei de falar quando abruptamente senti uma dor forte no peito.
“Não me interrompa quando eu estiver falando! Enfim, a punição para quem invoca demônios é passar uns bons anos no inferno. Mais ou menos… 1000 anos de tortura.”
“...”
“...”
Depois que ela disse isso, restou apenas o barulho de nossas respirações perambulando pelo local.
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1000… 1000 anos de tortura? Calma, eu… Eu não acho que cometi um crime tão grave assim… Além disso, Ruby não é um demônio, e sim uma inteligência artificial…
De repente, senti uma força invisível apertar meu pescoço e me erguer do chão.
“Riley Yuki, invocação pode até parecer um crime leve para você, entretanto, ele é um crime pesado porque é uma heresia; uma afronta a minha autoridade de deusa. Eu criei diferentes mundos, cada um com regras específicas, e eu não quero magia no seu mundo; eu criei ele justamente para ser um mundo sem magia.”
Eu tentei contestá-la, mas não consegui porque o aperto em meu pescoço era forte demais. A cada segundo, meu coração afundava cada vez mais em ansiedade e medo.
Eu vou morrer de novo? E se… e se dessa vez for o fim? E se não houver uma terceira chance?
Calma… Calma! Preciso pensar!
Se isso fosse proibido, obviamente esta deusa deveria ter colocado algum tipo de mecanismo para detectar tais rituais. Se for assim, por que ela não me impediu? Claro, ela pode ter apenas não me impedido por causa de preguiça ou por causa de alguma coisa envolvendo livre arbítrio, entretanto, há possibilidades mais plausíveis, ao menos, que fazem mais sentido para mim.
Ela só pode estar me testando. Mas por que? Por que ela me testaria? Eu seria escolhido como um apóstolo e iria para outro mundo espalhar a religião dela ou algo assim? Ou seria porque…
Finalmente, eu entendi a minha situação.
O quão chata seria a vida de um ser que tem poder máximo sobre tudo? Sem nenhum desafio, tendo as coisas quando quer.
Obviamente, uma vida assim é entediante.
Provavelmente, essa deusa só quer ter entretenimento para tirá-la do tédio, e está testando-me para ver a minha reação.
Algumas vezes, eu não falei nada, apenas pensei, e mesmo assim recebi uma resposta. Ou seja, ela pode ler meus pensamentos. E se ela pode fazer isso, eu posso me comunicar apropriadamente com ela sem falar uma única palavra.
Me faça reencarnar em outro mundo, Deusa Luisa! Sei que eu sou insignificante, mas se me você me matar agora, perdera um espetáculo!
“Tosse!”
A força invisível no meu pescoço sumiu, e eu caí no chão enquanto tossia.
A queda doeu. Provavelmente quebrei alguns ossos, mas isso é irrelevante; o que importa é que estou vivo. Depois de me levantar, olhei para a deusa, que retribuiu meu olhar com uma expressão de desdém.
“Ha…hahahahah!”
Ela parou de rir e olhou para mim.
“Você acha que consegue me entregar o que quero? Seu pirralho arrogante. Eu assisto milhares de histórias em planetas de universos diferentes. Eu assisti ao vivo enquanto Alexandre, o grande, expandia o império da Macedônia, e estava sentada no camarote vip quando Gêngis khan construiu um dos maiores impérios da história humana, e você, alguém que fingia ser uma mulher para enganar o próprio público, acha que consegue me entreter? hahaha.”
Eu interrompi ela; entretanto, dessa vez, ela não tentou me sufocar; apenas me observou.
“Deusa Luisa, para você, eu vou ser o personagem e o dublador; o compositor e o cantor; o roteirista e o ator; o cinema e o circo; e você, Deusa, o meu patrocinador! Eu não sou um mero entretenimento, eu sou aquele que o controla! Se me matar agora, você perdera uma odisseia épica!”
Assim que terminei de falar, eu olhei diretamente nos olhos da deusa, que desta vez, me olhou com interesse; como eu havia previsto.
A finalidade do meu discurso não era apenas demonstrar retórica exemplar, como também reconhecer meu lugar diante da deusa.
Por que? A resposta é simples: pessoas talentosas são irritantes, principalmente aquelas confiantes demais e que se acham o centro do mundo. Imagine que você é um chefe bem sucedido, e de repente, um homem competente aparece em sua empresa. Primeiramente, você ficará feliz, pois conseguiu um funcionário competente, todavia, se este funcionário se mostrar competente demais, ele pode roubar o seu lugar.
Apesar de servir como analogia, é uma comparação falha, e tal situação não se aplicava a deusa, pois ela poderia me matar a qualquer momento e provavelmente, mesmo depois de eu alcançar um certo grau de força no futuro, o máximo que conseguirei alcançar é o nível para ter uma batalha que coloque a vida da deusa em risco, mas nunca ficarei forte o suficiente ao ponto de sair ileso de uma luta com ela, ou ao menos, sair sem ferimentos graves. Todavia, eu precisava reconhecer meu lugar aqui, porque a partir do momento que eu faço isso, eu admito explicitamente que eu estou a serviço da deusa.
A deusa sorriu.
Basicamente, agora, minha relação com a deusa é a de criador de conteúdo e público. A única diferença é que o meu público atual tem uma arma apontada na minha cabeça que pode disparar a qualquer momento.
A indústria do entretenimento ganha dinheiro através do principal patrocinador: o público. O público muitas vezes decide o que irá acontecer, e regras o que ela irá produzir.
A indústria do entretenimento precisa do público, e eu preciso da deusa.
“Hmmm… Apesar da sua arrogância em achar que pode se tornar forte o suficiente para me vencer, a sua proposta é muito boa.”
Claro; dediquei boa parte da minha vida ao ramo do entretenimento. Em áreas assim, você precisa ter um olhar perspicaz para identificar quais são os interesses do público.
Deusa Luisa, neste instante, você é minha plateia, e eu sou o apresentador e o próprio show.
A Deusa começou a rir. Não uma risada de zombaria, mas uma de satisfação.
“Pelo visto, tive uma boa colheita dessa vez.”
Claro que você teve! Por mais que eu tenha sido um vtuber que fingia ser mulher na minha vida passada, eu sempre estive entre as mais populares, porque eu sabia como entreter meu público.
Eu não era um homem com um canal de vtuber que fingia ser uma garota fofa; eu era o homem com um canal de vtuber que fingia ser uma garota fofa!
Além disso, eu sou um homem culto e que sempre esteve atento às tendências do entretenimento; também estudei psicologia;
alguém que estudou a natureza humana consegue entreter qualquer um.
“Riley Yuki, sei que você sabe disso, mas eu vou reforçar: não aceito nada menos que meio continente dominado. Se por acaso você parar no meio do caminho porque passou a preferir uma vida pacífica, eu vou matar você. E se você morrer pela terceira vez, é fim de jogo.”
Pelo visto, será um jogo difícil…
“Enfim, boa sorte no novo mundo!”
“O que? Espera, porque você não me informa como funcionam as coisas no mundo para onde vou?! Eu vou assim, sem saber de nada?!”
Ignorando minhas súplicas, ela apontou a mão para minha cabeça, que explodiu logo em seguida.
Quando retomei minha consciência, percebi que estava em uma caverna.