Eu estava parado frente à uma casa, que senti que era minha. Era uma casa nova, feita de acordo com as minhas especificações. Me sentia feliz, realmente feliz, e acreditei, sem que me apercebesse, que nunca me enjoaria dela.
No entanto...
Fiquei frente a um carro, examinando-o em detalhes, pois sabia que era meu. Me sentia feliz, apesar de estar um pouco desconfiado sobre quanto tempo me sentiria assim. Mas..., convivendo com as expectativas cada vez mais realistas, o tempo foi seguindo o seu caminho.
Nos quadros velozes que se tornou a minha vida fui aprendendo com as coisas que eu adquiria que a felicidade que elas me proporcionavam eram rápidas demais, ligeiras como o vento, e de sensações de felicidade e realização difíceis de segurar.
Porém, existiam quadros de momentos que, apesar de eu não prestar atenção quando ocorriam, ao menos no início, eu guardava e que visitava quase sempre, e sorria só de me aproximar deles.
Stolen novel; please report.
Eram de momentos de toques suaves e carinhosos, de sorrisos que eu via nas ruas, de cores que brotavam e se espalhavam pelo mundo, de risos livres das crianças, de pessoas felizes e em paz, de olhos de luz, de céu azul, da tempestade que se aproximava por cima das montanhas, de patos pensativos numa lagoa, de...
Nas visões que me vinham algo me veio à mente: quando eu era criança o tempo era meu, porque meus pais proporcionavam-me as condições de viver. Seguindo na vida logo atingiria novamente a mesma condição quando me aposentasse ou me acertasse com algum trabalho remoto, e então eu não precisaria mais ficar preso em um trabalho para me sustentar.
Assim pensando me vi rapidamente me desfazendo de todas as coisas, que funcionam como âncoras, e me vi andando pelo meu verdadeiro e único lar, por enquanto: esse mundo.
Eu me vi chegando em uma cidadezinha, e se ela me agradasse eu alugava uma kitinet e por lá vivia por algum tempo, vendo as pessoas e aquele canto do mundo, fazendo alguns trabalhos extras de marido de aluguel para melhorar meu sustento, e então eu seguia em frente, usufruindo do mundo que nós criamos a cada pensamento que damos.
Então, de súbito, senti como se minha alma se deslocasse e me olhasse dentro dos olhos, uma pergunta muda sendo feita: por que me deixei prender?