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9 – A SENHORA DE LUZ

Eu observava desalentado aquela paisagem e os que viviam lá. Não pensei em ajudar, nem mesmo em sair de lá; apenas estava lá.

Era uma paisagem acabrunhada, sombria, de raso pântano, borrada de tons cinzentos mais pesados e nuvens que pareciam fuligem. As pessoas que ali viviam eram cheias de lamento que lançavam no ar, mantendo-o cheio de dores de tal modo que não houvesse espaço para mais agonia. Eu não vi nenhuma delas de pé. Todas estavam se movendo rente ao chão, aquelas que podiam se mover. A grande maioria parecia afundada em pequenos poços individuais, cheios de barro que cheirava a lodo e água parada.

Mas eu não sentia dor ou compaixão por eles, porque aparentemente eu apenas estava ali.

E tudo estava assim, e estaria assim da mesma forma, até que ela surgiu.

Uma luz surgiu no topo de uma pequena e arruinada colina. À princípio era suave e pulsava, como se uma pessoa se aproximasse caminhando. Os lamentos diminuíram um pouco, muitos se virando curiosos em seus poços para ver o que estava vindo daquela direção.

De repente uma luz se intensificou e foi se encorpando, se elevando na colina. Em poucos segundos uma mulher surgiu dentro do silêncio de dor que se fizera.

Na luz suave que ela era podia-se ver que ela estava envolta em um manto leve que se revolvia com suavidade enquanto ela avançava para o meio daquele grupo de seres amargurados.

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Eu a observei extasiado.

Havia tanta suavidade nela, tanto carinho que sua luz parecia não ser o aspecto mais proeminente de sua presença.

Ela passava muito devagar, caminhando de um a outro ser. Apesar do silêncio respeitoso que passara a revestir o local, muitos voltavam-lhe as costas, alguns mostrando desprezo e até mesmo raiva, mas a grande maioria presos numa timidez e vergonha comoventes. Mas a todos sua luz tocava, e de todos, até dos mais recalcitrantes, eu ouvia suspiros contidos de alívio.

Em alguns casos ela parava à frente do ser e sorria, um sorriso de esperança, como se lhes dissesse que tudo ficaria bem, e que logo tudo aquilo passaria. Em alguns casos ainda, onde parecia que os seres estavam mais maravilhados e esperançosos, ela agachava e segurava o rosto da pessoa, iluminando ainda mais o sorriso de sol e lua que ela transpirava do coração. Alguns soltavam um pungente lamento, e choravam, um choro sentindo como se dissesse que não conseguia suportar mais.

No entanto, de alguma forma eles se refaziam, com suas dores parecendo terem sido em muito diminuídas.

Mas, em dois casos eu vi o choro desesperado e mudo de um pedido de socorro e perdão. Para esses dois casos eu a vi puxar com extrema gentileza e carinho a pessoa até si, envolvendo-o em um abraço tão terno que é quase impossível de descrever. E, bem lentamente, a estes ela puxou da cova de barro em que estavam, de lá tirando-os.

E eles começaram a brilhar, e lentamente se elevar, deixando aquele lugar.

Quando olhei para baixo, para o lugar em que havia estado por tão longo tempo, apenas consegui sorrir agradecido para aquela senhora de luz, que com intenso amor acompanhava minha subida.