— Hoshigaki
A pulseira não parecia ter nada de especial, nenhuma aura mágica perceptível ou marca única. "Se conseguir o que precisa, ela deve ser ativada, ou talvez salvá-lo de algum problema." Era o que meu avô havia dito. Mas o que ele realmente queria dizer com isso? Bom, talvez eu nunca soubesse.
O tempo passou rápido, e antes que eu percebesse, faltava apenas uma semana para o festival. Já estávamos a caminho da capital e assim que entramos, fui surpreendido pela grandiosidade dos prédios e das casas ao redor. A cidade era incrivelmente rica, mais do que eu esperava.
Ao longe, avistei uma imensa fortaleza. Meu avô me disse que ali era onde o rei residia. Me perguntei como seria o interior daquele lugar...
Nos hospedamos em uma casa ampla, bem próxima à arena onde o evento seria transmitido. Passei os dois dias que faltavam treinando, mas aproveitei também para explorar um pouco a cidade. “Não sei quando terei a chance de voltar aqui.”
Então, finalmente chegou o grande dia. A arena era imensa e possuía grandes arquibancadas. De um dos lados, havia uma seção isolada, fortemente guardada, destinada ao rei e aos nobres. Olhando para lá, vi meu avô, sentado ao lado direito do rei. Sabia que ele tinha um cargo importante, mas não imaginava que fosse de tanto destaque. Precisava perguntar a ele sobre isso depois.
A plateia estava fervorosa, o som das batalhas misturado aos gritos de apoio era constante, e não havia um só momento de silêncio, nem mesmo nos intervalos.
Finalmente, depois de várias lutas, chegou a minha vez. Quando entrei na arena, minha oponente fez o mesmo. Mas havia algo peculiar nela, seu corpo era como uma manifestação de magia viva, mas ao mesmo tempo era um ser sólido. A tensão no ar aumentou.
— Comecem! — soou a voz do juiz.
Sem perder tempo, ela avançou com a espada em punho. Antes mesmo de chegar ao alcance dela, usei minha lança para desferir um corte horizontal, mas ela se esquivou com agilidade. Aproveitando a força do meu ataque, tentei um golpe por cima, mas também falhei em acertá-la.
Para ganhar vantagem, usei a lança como apoio para me impulsionar no ar e atacar com uma estocada. Ao mesmo tempo, conjurei uma parede de água atrás dela. Não era tão eficaz quanto uma magia de terra, mas esperava que isso pudesse impedir seus movimentos ou, pelo menos, atrasá-la.
Para minha surpresa, o corpo dela pareceu se dividir em dois, e num piscar de olhos, ela desapareceu e reapareceu atrás de mim, com a lâmina fria em meu pescoço. Era uma habilidade que eu não esperava, e percebi que era tarde demais para reagir. A derrota foi rápida e decisiva; me rendi, admirando a destreza dela. Não me senti triste com a derrota, mas fiquei frustado com a duração da batalha.
Voltei para a área onde os combatentes se preparavam, guardei meu equipamento de batalha e segui em direção à arquibancada, onde assistiria ao restante das lutas.
Enquanto observava, notei que a mulher que me derrotou possuía habilidades de tempo, algo que eu nunca havia testemunhado antes. Ela continuou competindo, mas percebi que não estava se esforçando ao máximo, como se não quisesse se expor.
O festival se estendeu por dez dias, mas eu decidi voltar um dia antes do encerramento. Ao retornar a Sodora, percebi que havia visitantes na casa, e algumas pessoas estavam vestidas com os padrões da minha família.
Ao entrar no salão principal, vi Sellie, a atual líder da família Scchy, uma das casas secundárias dos Lancaster. Ao seu lado estava uma jovem, aparentemente da minha idade.
Quando nos avistamos, Sellie e a garota se aproximaram. Sellie se curvou respeitosamente e indicou a jovem que fizesse o mesmo.
— É um prazer revê-lo. — disse Sellie.
— É um prazer conhecê-lo. — respondeu a garota, sua voz estava cheia de cordialidade.
— Permita-me apresentar minha filha, a próxima líder da família Scchy, Selena Scchy. — Sellie afirmou com orgulho.
— É um prazer conhecê-la, Selena. Sou Hoshigaki Lancaster. — respondi, retribuindo o cumprimento.
Após uma conversa breve, elas retornaram ao que estavam fazendo.
Nos dias que se seguiram, mantive uma rotina tranquila, sem muitas atividades. As aulas na academia já tinham terminado, então aproveitei para relaxar um pouco. Embora ainda saísse com Kael e Mira de vez em quando, a maior parte do meu tempo era dedicada à leitura e ao treino.
Durante esse tempo, consegui despertar o núcleo Sextinal, o que me proporcionou uma compreensão mais profunda de como a mana realmente funcionava e de como eu poderia manipulá-la.
No entanto, ao despertar, meu corpo senti uma dormência estranha, e o conhecimento que recebi parecia vir acompanhado de memórias que eu não conseguia acessar. Tentei entender por que isso acontecia, mas desisti ao falhar.
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Meu avô voltou alguns dias depois, parecendo exausto. Não parecia chateado com o resultado do festival, mas havia um certo temor em seu olhar, como se estivesse preocupado com algo que estava por vir.
— Me parece que você despertou a segunda fase — ele comentou, referindo-se ao núcleo Sextinal.
— Sim.
— Estou muito cansado agora, mas gostaria de conversar com você amanhã.
— Sim, senhor.
Ele se retirou para seu quarto, e a ansiedade me consumiu até a hora de nossa conversa.
Quando entrei em seu escritório, sentei-me na cadeira em frente à dele.
— Estou aqui. Sobre o que gostaria de falar? — perguntei, tentando esconder meu nervosismo.
— Acredito que você já saiba, mas na família principal existe uma técnica chamada "Lâmina Carmesim", que não pode ser copiada ou passada para fora da família.
— Sim, eu a conheço — respondi, tentando manter a calma.
— Quando os guerreiros da família principal ascendem a segunda fase, é-lhes oferecida uma escolha.
Senti meu coração acelerar com a seriedade da conversa.
— Eu ofereci essa escolha ao seu pai, e agora a ofereço a você. A "Lâmina Carmesim" é uma técnica que pode ser aperfeiçoada de maneiras horríveis, mas que garante ao usuário uma enorme vantagem e um considerável aumento de poder.
— Muitos anos atrás, havia dois guerreiros que lutavam entre si para decidir quem seria o próximo sucessor da família. Eles eram bons amigos, mas, com o tempo, um deles sucumbiu ao poder, tornando-se o primeiro Lancaster. À medida que ele matava, a lâmina em sua mão se tornava cada vez mais vermelha, até que cobriu toda a espada. Quando enfrentou seu amigo guerreiro, ele acabou sucumbindo e o matou, eliminando para sempre a parte da família daquele guerreiro e se tornando o patriarca do restante da família. Desde então, todos os patriarcas devem portar essa técnica, que se fortalece com a dor das mortes que o usuário causa.
Fiquei em choque com o que ouvi, e o silêncio se instalou entre nós por um longo tempo.
— Você tem o direito de recusar, mas isso significaria ser banido da família para sempre. Esse foi o motivo pelo qual seu pai e Beatrice saíram da família.
Parei para pensar, processando tudo o que meu avô havia dito. Após um momento, respirei fundo e respondi:
— Eu aceito. Mas não irei governar a família com base nesse poder.— disse, meio exitante.
— Mas antes disso, gostaria de conversar com meus pais. Se meu pai realmente foi banido, talvez essa seja a última oportunidade de vê-lo — pedi, ainda processando tudo o que meu avô havia revelado.
— Você tem razão. Vou providenciar sua viagem. Darei a você um mês para essa visita.
— Obrigado, vovô. — Ele parecia surpreso com o termo, e percebi uma leve satisfação em seu rosto.
Uma semana depois, finalmente estava a caminho da casa dos meus pais, em Esperanto-Nyxoria, montado em uma criatura chamada Pêndrago. A criatura se parecia com um Pogona gigante, com pele de pedras lisas, olhos como cristais e uma névoa densa cobrindo boa parte de seu corpo, tornando-o enigmático e imponente. Ao montar no Pêndrago, senti como se estivesse flutuando em uma nuvem incrivelmente confortável. Tinha comigo apenas um guarda e o condutor, e a suavidade com que o Pêndrago flutuava tornava a viagem quase silenciosa, como se ele mal tocasse o chão.
Chegamos em alguns dias, e minha chegada rapidamente chamou a atenção dos moradores, incluindo meus pais, que saíram apressados de casa para me receber. Eles correram em minha direção, me envolvendo em um abraço apertado antes mesmo de eu descer. Pude sentir a saudade que sentiam de mim. Depois de alguns momentos trocando palavras carinhosas, entramos juntos em casa.
Nos dias que se seguiram, aproveitei ao máximo a companhia deles. Sabia que precisava compartilhar o verdadeiro motivo da minha visita, mas adiei o quanto pude. Passeamos pela cidade, que havia mudado muito desde que saí, e conversamos sobre diversos assuntos, aproveitando cada segundo antes de finalmente tocar no assunto.
Certa noite, sentei-me à mesa de jantar, onde minha mãe me serviu risoto de fungi e uma infusão de flores da noite. Saboreei cada colherada, agradecendo por estar ali com eles.
Minha mãe me olhou com uma expressão suave, mas inquisitiva. — Você tem algo para nos contar?
Será que ela havia notado?
— Sim… Voltei para conversar com vocês sobre algo importante — confessei, sentindo o peso do momento.
— E o que seria? — perguntou meu pai, com um leve tom de seriedade.
— Eu passei pelo segundo despertar.
Minha mãe abriu um sorriso, orgulhosa. — Isso é maravilhoso! Você já deve estar até mais forte que o seu pai.
Mas meu pai, por outro lado, ficou sério, compreendendo o real significado das minhas palavras.
— Entendo… Então ele já deve ter falado com você.
— Sim. Aceitei me tornar o futuro líder da Família Lancaster.
— E sabe o que isso significa, não é?
— Sim, pensei bastante antes de decidir. Já não posso mais voltar atrás.
Minha mãe, confusa, observou a seriedade da conversa. — Não sei do que vocês estão falando, mas tenho certeza de que ele tomou a decisão certa. Ele é nosso filho, e devemos confiar em seu caminho. E, por favor, não deixem que isso transforme nossa despedida em algo triste. Tenho certeza de que nos veremos novamente.
Apesar de suas palavras, o restante do dia carregou uma melancolia silenciosa. Nos dias seguintes, aproveitei ao máximo a companhia deles, evitando tocar novamente no assunto. Percebi que meu pai também estava fazendo o mesmo, como se ambos estivéssemos tentando congelar o momento antes que a realidade nos separasse outra vez.
Passei a última semana aproveitando cada momento com meus pais antes de retornar para Sodora. Quando cheguei, notei que a casa estava lotada de pessoas. Meu avô me aguardava logo na entrada, com uma expressão calma, mas resoluta.
— Estamos tendo uma festa? — perguntei, embora a resposta já fosse clara pela formalidade do ambiente.
— Os líderes das famílias secundárias se reuniram. Hoje, você será nomeado diante deles. Espero que não veja problema nisso — disse ele, mas ambos sabíamos que essa era uma cerimônia irrecusável.
— Claro, sem problemas — respondi, ciente da responsabilidade que agora carregava.
Entrei na casa e me preparei para a cerimônia, vestindo roupas vermelhas e pretas para representar o nome Lancaster com a dignidade que ele exigia. Dirigi-me à grande sala onde o anúncio seria feito. No centro, havia uma longa mesa retangular com sete cadeiras posicionadas em uma só lateral, onde meu avô, como anfitrião e chefe da família, tomaria seu lugar de honra.
Ao redor da mesa estavam os líderes das famílias secundárias, e alguns me eram familiares, como Sellie, enquanto outros eram novos para mim. Vários tinham herdeiros em pé ao seu lado, incluindo Selena, que acenou discretamente ao me ver.
Meu avô então se levantou, a postura firme e imponente, olhando diretamente para os líderes. Ele começou a falar em um tom respeitoso, mas repleto de autoridade.
— Reunimos-nos hoje para nomear aquele que herdará o nome dos Lancaster — disse ele, fazendo uma pausa que parecia intencional, carregando o ambiente de tensão e expectativa. — Para surpresa de muitos, Beatrice não assumirá esse lugar.
O silêncio era absoluto, enquanto ele olhava para cada líder antes de continuar.
— Aquele que assumirá meu lugar será Hoshigaki Lancaster. Confio que ele fará um excelente trabalho e que a família Lancaster alcançará uma glória jamais vista entre todas as gerações, assegurando que nosso nome permaneça gravado na história.
Ele então lançou um olhar penetrante para todos.
— Alguém está em desacordo?
O silêncio persistiu, e ninguém ousou contestar. Se fosse por respeito ao meu avô ou por temor de seu poder, era difícil saber ao certo, mas a aceitação deles era clara. Senti a responsabilidade do momento, mas também uma satisfação ao ver a confiança que ele depositava em mim.
Após o anúncio, a formalidade deu lugar a uma comemoração. Finalmente tive a oportunidade de conhecer melhor os outros líderes e seus herdeiros. Trocamos cumprimentos e algumas histórias, e fui apresentado formalmente a cada família ali representada. Era um círculo influente, e eu sabia que a partir daquele dia, faria parte dele, mantendo o legado dos Lancaster.
Ao final da noite, retirei-me da festa e encontrei um breve momento de silêncio na varanda. Meu avô se aproximou e ficou ao meu lado, observando as estrelas junto comigo.
— Hoje foi apenas o começo, Hoshigaki. O peso desse nome é grande, mas a honra é maior ainda. Se algum dia se sentir perdido, lembre-se da nossa história e do motivo pelo qual estamos aqui.
Assenti, absorvendo suas palavras. A partir daquele momento, minha vida seria de responsabilidade, sacrifícios e decisões. Mas também de honra, poder e um legado. A jornada seria dificil, mas eu estava preparado para o que estava por vir.