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3. Família Lancaster

Partimos em direção a Eldria. A viagem demoraria cerca de cinco dias. Mesmo sendo uma longa jornada, não haveria paradas. A carruagem era grande e possuía dois sofás acolchoados, além de estar sob uma magia de vento conjurada pela guarda do meu avô, Lyra Everhart. Lyra vestia uma roupa preta que combinava com seu cabelo curto.

Ela mantinha uma postura calma e serena. Com o treino de percepção de mana que tive com meu pai, evoluí para um núcleo secundário. Com isso, já tinha uma percepção básica de mana e percebi que Lyra possuía um núcleo quaternário.

A viagem começou de forma tranquila e silenciosa. Após algumas horas, ouvi a voz de Lyra pela primeira vez.

"Você parece ter passado por um treinamento difícil."

Não entendi o motivo da fala dela, mas decidi tentar conversar.

"Treino desde os meus cinco anos. Não acho que foi difícil chegar até aqui."

"Não é comum. A maioria das crianças não suportaria o treinamento de um Lancaster. Tenho bons olhos, sei que você já tem a força de um. Sua habilidade de esgrima pode ser comparada até mesmo a minha."

Lyra ficou em silêncio por um momento antes de falar novamente.

"Assim que chegarmos, Edmund irá testá-lo. É provável que ele queira intimidá-lo, mas não se preocupe com ele."

Não entendi imediatamente o que ela quis dizer, mas é melhor me preparar para qualquer personalidade peculiar que meu avô possa ter.

A viagem estava seguindo de forma tranquila. Os cocheiros se revezavam para manter a jornada constante, e a magia de Lyra mantinha o interior da carruagem estável, a ponto de ser imperceptível que estávamos em movimento.

“Lyra, como você passou a dominar o vento?” Pronunciei, em uma tentativa de quebrar o confortável silêncio que havia se estabelecido entre nós.

Lyra, que estava sentada no sofá oposto a mim, sorriu levemente. “Comecei a treinar quando era bem jovem, assim como você. Meu pai também é um manipulador do vento, então já sou familiarizada com o elemento há muito tempo. A liberdade que ele proporciona me encantou desde cedo.”

Inclinei-me um pouco para a frente, interessado. “Pode me mostrar como funciona?”

“Claro.” Lyra respondeu, erguendo uma mão. Uma leve brisa começou a circular na carruagem, mexendo suavemente o meu cabelo. “Manipular o vento é como dançar com a natureza. Requer concentração e uma conexão profunda com a mana ao seu redor. Por que não tenta?”

Fechei os olhos, tentando me concentrar. Pude sentir a mana pulsando em meu corpo, senti à vontade incontrolável de se libertar que ela possuía. Tentei manipular a umidade ao meu redor, mas só consegui criar uma pequena gota de água, que sumiu tão rápido quanto a minha mana.

“Não se preocupe, leva tempo.” Lyra encorajou. “Continue praticando, você já mostrou muita habilidade para alguém da sua idade.”

Não fiquei triste, pelo contrário, fiquei ainda mais motivado. “Obrigado, irei continuar tentando.”

Lyra assentiu. “Você tem um grande potencial. Deve conseguir rapidamente caso se dedique.”

A conversa continuou. Ouvi diversas histórias sobre as experiências e aventuras de Lyra, absorvendo cada palavra e melhorando ainda mais o meu controle de mana.

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Os cinco dias se passaram e finalmente chegamos à residência dos Lancaster. Eu e Lyra saímos da carruagem e passamos pelo portão da propriedade.

A casa dos Lancaster é uma impressionante mansão localizada em um dos melhores lugares do país. Este majestoso edifício é um reflexo da nobreza e força que caracterizam a família Lancaster, conhecida por sua habilidade em combate e por serem os melhores fortificadores do país. A casa é feita de pedra branca com detalhes em relevo, cercada por vastos jardins e fontes. Seu interior é grandioso, com grandes salões amplos e candelabros de cristal carmesim. Destaques incluem: uma sala de treinamento bem equipada, uma rica biblioteca, áreas de convivência luxuosas, uma sala de jantar com uma longa mesa de mogno e quartéis para os guardas.

Fui conduzido à sala onde meu avô estava. Lyra me acompanhou até a porta e, de lá, se retirou. Entrei sozinho na sala, que era relativamente pequena em comparação à casa, sem muitos detalhes e relativamente simples.

Vi meu avô sentado em um sofá e me dirigi a ele. Chegando perto, curvei-me, inclinando cerca de 45 graus, e disse: “Saudações, vovô Edmund. É uma honra poder conhecê-lo. Prometo fazer jus ao nosso nome e aprender tudo o que puder sob sua orientação.”

Edmund se levantou do sofá e me encarou, como se estivesse em outro mundo. “Vejo que seus pais te ensinaram bem. Os jovens de hoje em dia não respeitam essa tradição.” Disse Edmund, como se estivesse orgulhoso. “Mas não é isso que vai me fazer te aceitar.” Edmund começou a falar com um tom mais sério.

De repente, uma enorme aura surgiu dentro da sala. A mana começou a se agitar e a tremer, e de repente tudo foi tomado por uma aura azul oceano. Meu corpo tendia a cair, senti minha visão embaçada, minha mana começou a se esvair e eu comecei a perder a consciência.

Com o corpo indo em direção ao chão, utilizei o que restava das minhas forças para não cair e consegui me ajoelhar sobre um joelho.

Se passaram cerca de cinco segundos, mas para mim foi como se fossem cinco minutos. Prestes a perder a consciência, a mana desapareceu e a mana atmosférica voltou rapidamente à sala.

“Vejo que possui uma força mental tremenda, digno de um Lancaster. Mesmo suprimindo minha força, qualquer um com um núcleo de nível inferior ao terciário teria desmaiado.” A afirmação de Edmund me fez perceber o quão realmente forte ele era. Nem mesmo meu pai conseguiria criar essa aura, mas ele fez isso suprimindo o próprio poder.

“Você possui uma mente forte, mas não é só isso que compõe o nome Lancaster. Siga-me.” Disse Edmund, saindo da sala.

Edmund saiu da sala, e eu o segui, mantendo uma distância respeitosa. Chegamos a um salão grande, uma das várias salas de treinamento da casa, conforme me explicou Lyra. O espaço, embora vazio, era amplamente equipado para suportar treinos intensos com suas paredes reforçadas e simples, sem decoração adicional.

Além de Edmund e de mim, havia apenas uma jovem garota, aparentando cerca de doze anos, concentrada em seu treinamento. Sua determinação era evidente, mas ela não parecia notar nossa presença.

“Olá, Beatrice. Este é Hoshigaki, meu neto.” Edmund me apresentou, e eu cumprimentei Beatrice com um aceno.

“Trouxe-o aqui para avaliar se ele está realmente apto a usar o sobrenome Lancaster. Não posso garantir a segurança dele caso lute comigo, então gostaria que ele lutasse contra você.” Edmund explicou a Beatrice, que acenou com aprovação. Em seguida, nos dirigimos ao centro da sala.

No meio do salão, Edmund me entregou uma lança de madeira.

"Este combate será sem o uso de mana. Apenas suas habilidades físicas e mentais devem ser usadas. Qualquer uso de mana resultará em desqualificação," instruiu Edmund. "Hoshigaki, Beatrice já demonstrou ser uma verdadeira Lancaster. Não é necessário vencê-la, mas você deve mostrar toda a sua aptidão e conhecimento."

"Prontos? Comecem!" Edmund deu início à luta.

Beatrice avançou rapidamente em minha direção. Sua intenção parecia ser um ataque ao meu tórax, mas sua técnica era sutil e difícil de prever. Ao perceber o movimento, usei o cabo da minha lança para desviar o ataque para a esquerda e tentei um chute lateral no seu joelho. Beatrice retirou a perna a tempo, mas aproveitou o impulso para direcionar a lança ao meu pescoço.

Defendi-me novamente com o cabo da lança, mas Beatrice, antecipando minha defesa, largou a lança e tentou um soco direto no meu rosto. Para bloquear o soco, coloquei meus braços na frente, mas, inesperadamente, Beatrice acertou um chute preciso no meu joelho. A dor fez meu corpo cambalear momentaneamente, mas consegui me manter em pé.

Antes que as lanças caíssem ao chão, Beatrice agarrou uma delas e avançou para uma estocada na minha cabeça. Recuperei o equilíbrio a tempo e esquivei do ataque, encontrando uma abertura para desferir um soco em seu abdômen. O golpe, embora doloroso, não foi suficiente para derrubá-la.

Com Beatrice desequilibrada, ela largou a lança, e eu aproveitei para dar um chute na sua perna de apoio. Beatrice estava prestes a cair, mas conseguiu usar a outra perna para se afastar e manter o equilíbrio.

"Parem. A luta acabou." A voz de Edmund ecoou pela sala, anunciando o fim do combate.

Edmund observou a luta com um olhar crítico, e Beatrice, embora ofegante, levantou a cabeça e me lançou um olhar de respeito. Eu, ainda recuperando o fôlego, me aproximei de Edmund.

“Você mostrou uma boa habilidade e adaptabilidade.” Edmund comentou, sua voz carregada de aprovação. “Beatrice, boa performance. Ambos demonstraram grande técnica e estratégia. Continuem assim, e ambos poderão alcançar altos níveis em suas habilidades.”

Com um aceno, Edmund se afastou, e Beatrice, sorrindo levemente, estendeu a mão para me cumprimentar. “Você lutou bem. Não é fácil enfrentar um Lancaster.”

“Obrigado. Foi um ótimo desafio.” Respondi, apertando a mão dela com firmeza.

O treinamento havia terminado, e a sensação de ter superado um desafio e o respeito mútuo conquistado foram vitais para o crescimento de ambos.

Após o término da luta, Beatrice se afastou e voltou a treinar com uma intensidade menor em comparação ao momento em que chegamos.

“A partir de hoje, serei eu o responsável pelo seu treinamento. Posso não ter muito conhecimento sobre magia, mas possuo alguns truques,” anunciou Edmund.

Com isso, ele me passou uma série de exercícios que realizei nos dias seguintes. Edmund raramente estava presente, pois, como líder da família, tinha muitos compromissos. Aproveitei também para ler alguns livros que encontrei na biblioteca, o que me proporcionou insights valiosos sobre a magia, suas aplicações e como ela pode ser manipulada e criada.

Passei vários meses me dedicando intensamente aos treinamentos e aos estudos antes do início das aulas. Cada dia trouxe novos desafios e aprendizados, e eu sentia que estava evoluindo não apenas como praticante de combate, mas também como mago em potencial.