A névoa espessa envolvia o grupo enquanto caminhavam, mal conseguindo ver um passo à frente. O silêncio opressor do Reino das Sombras era interrompido apenas pelo som de seus próprios passos. Até que, de repente, um grito agudo cortou o ar, ecoando pela escuridão.
— Ótimo, mais um clichê — resmungou Adam, revirando os olhos. — Deixe-me adivinhar, uma donzela em perigo cercada por monstros. Vamos só ignorar e seguir em frente.
Zélio, no entanto, parecia completamente distraído com algo no chão.
— O que você está olhando, Zelio? — Adam perguntou, impaciente.
— Hum… nada… só… — Zelio deu um passo à frente e escorregou dramaticamente em uma casca de banana, caindo desajeitadamente e rolando direto para cima de um grupo de orcs zumbis que estavam, de fato, cercando uma mulher em perigo.
— Ah, não! — Zélio gritou enquanto batia nos zumbis, sem querer, e os irritava ainda mais.
Os orcs, enfurecidos pela interrupção, começaram a persegui-lo. Zélio corria em zigue-zague, tentando escapar. No entanto, o destino, ou pura sorte, decidiu agir de novo, e os orcs zumbis também pisaram em outras cascas de banana espalhadas pelo chão, escorregando um a um e caindo diretamente em um penhasco que parecia ter surgido do nada.
Adam cruzou os braços, incrédulo.
— Isso foi tão ridículo que até machucou minha alma.
Luna, por outro lado, ria como se tivesse visto a melhor piada do mundo.
— Uau! Zélio, você é um gênio da improvisação!
Zélio levantou-se, coçando a cabeça e ainda atordoado.
— Eu... claro, tudo estava no controle o tempo todo.
A mulher que tinha gritado aproximou-se lentamente, com o rosto ainda pálido, mas aliviado.
— Obrigada. Vocês salvaram minha vida... — Ela hesitou um pouco antes de continuar. — meu nome é Helena. Estou presa aqui há... muito, muito tempo.
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A atmosfera mudou com o tom sério de sua voz. Adam olhou para ela, intrigado.
— Há quanto tempo você está presa?
Helena suspirou, olhando para o vazio, como se estivesse revivendo memórias sombrias.
— Faz mais de cinquenta anos. Eu era jovem quando fui trazida para cá. Tudo o que conhecia, tudo o que amava... ficou para trás. No início, pensei que fosse temporário, que haveria uma maneira de voltar. Mas o tempo aqui é... diferente. Ele se arrasta, mas ao mesmo tempo parece que mal sinto o passar dos anos. Perdi pessoas que conheci, amigos que entraram neste lugar... e nunca mais saíram. O Reino das Sombras é uma prisão. Um lugar sem esperança para quem cai nele. Estou cansada de lutar contra o impossível.
O silêncio era esmagador. Adam, normalmente cético, não pôde deixar de sentir um leve desconforto. Até Zélio, sempre tão distraído, parecia estar ouvindo com atenção.
— Isso... isso é horrível, Helena. Mas como você sobreviveu por tanto tempo? — Adam perguntou, surpreso com a resistência dela.
— Eu aprendi a sobreviver com o mínimo. Aqui, a fome e o tempo são estranhos. Eles não nos afetam da mesma forma, mas o desespero, esse sim corrói. É preciso aprender a conviver com ele. — Ela fez uma pausa antes de continuar. — E vocês? Como vieram parar aqui?
— Acidente. — Adam respondeu de forma seca. — E estamos tentando descobrir como sair.
Helena suspirou novamente, mas dessa vez, havia uma pequena faísca de curiosidade.
— Então, vocês ainda têm esperança... talvez seja algo bom. Mas saibam que ninguém escapa facilmente daqui. Há uma história... sobre o governante deste reino. Alguns dizem que ele é um dragão... um ser antigo e terrível. Este lugar foi criado como sua prisão. Ele foi selado aqui para evitar que causasse destruição no mundo exterior. Mas com o tempo, a barreira que o prendia enfraqueceu e começou a sugar pessoas, como eu... como vocês. Estamos presos aqui, e o reino se alimenta do nosso desespero.
Luna, sempre tentando ver o lado positivo, interveio.
— Um dragão? Isso parece… emocionante! Talvez ele seja a chave para sairmos daqui, não?
Helena sorriu levemente, mas com tristeza.
— Talvez. Mas eu já vi tantas pessoas tentarem... e falharem. Se forem tentar, só peço que tenham cuidado. Eu já vi muitos corações destroçados pela esperança.
Adam ficou pensativo.
— Então, o Reino das Sombras não é apenas uma prisão para nós... é uma prisão para esse dragão também. E, se conseguirmos chegar até ele, talvez haja uma saída. — Ele olhou para Helena. — Você ouviu alguma coisa sobre onde encontrá-lo?
— Não muito — ela admitiu. — O dragão está escondido nas profundezas do reino. Dizem que há caminhos, mas nenhum é seguro. Eu... nunca tive coragem de ir tão longe.
Zélio, tentando aliviar o clima, deu de ombros.
— Se conseguimos fazer orcs zumbis escorregarem em cascas de banana e caírem num penhasco, acho que podemos tentar a sorte contra um dragão.
Adam suspirou, cruzando os braços.
— Vamos torcer para que as bananas continuem do nosso lado.
Helena olhou para eles com um misto de preocupação e esperança, oferecendo sua casa para que pudessem descansar antes de seguirem em frente. Enquanto bebiam um chá quente e se preparavam para a próxima etapa da jornada, Adam sabia que as coisas estavam prestes a ficar ainda mais complicadas.