Adam estava com os braços cruzados, encarando o portal mágico que acabaram de atravessar. Seu rosto era uma mistura de tédio e irritação, enquanto Zélio, ao lado dele, parecia... um pouco confuso. A névoa espessa cobria o chão e árvores retorcidas se moviam como se tivessem vida própria. Mas não era o tipo de cenário que impressionava Adam, ele só queria um sofá e uma TV.
— Então é isso? — Adam disse, olhando ao redor com uma sobrancelha levantada. — O famoso Reino das Sombras? Achei que seria mais, sei lá, sombrio.
— Ah, eu não sei, Adam — Zélio comentou, tentando esconder o nervosismo. — Acho que tem algo muito estranho aqui. Essas árvores... elas parecem que estão nos olhando.
Adam suspirou, esfregando as têmporas como se estivesse com uma dor de cabeça. — Claro que estão nos olhando, Zélio. Isso aqui é um clichê ambulante. Se agora aparecer uma caveira falante, eu desisto.
Como se o destino estivesse conspirando para irritar Adam ainda mais, uma voz sombria e profunda ecoou pelas sombras, tão caricata que parecia saída de um filme de terror barato.
— Bem-vindos... ao Reino das Sombras.
Adam revirou os olhos, já cansado antes mesmo da história começar de verdade.
— Ah, pronto. A voz do vilão que fala demais — ele murmurou, cruzando os braços. — Olha, vou ser honesto: se você está aqui pra nos dar uma missão impossível ou nos amaldiçoar, pode pular direto pra parte em que eu digo “não” e sigo minha vida.
A voz, no entanto, não parecia interessada na opinião de Adam.
— Aqui, seus destinos estão selados. O caminho para fora só será revelado aos mais corajosos.— A voz parecia ensaiada, como se tivesse decorado isso.
Zélio, que estava tentando parecer mais calmo do que realmente estava, levantou uma mão hesitante. — Hã... Desculpa, senhor voz misteriosa, mas... tem alguma chance de a gente só... sei lá... pegar uma rota alternativa? Talvez uma saída pelos fundos?
A voz fez uma pausa, como se estivesse realmente considerando a pergunta. Depois, respondeu:
— Não.
Adam soltou um suspiro exagerado. — Tinha que tentar, né?
De repente, uma figura começou a emergir das sombras. Era alta, esquelética, e vestia uma capa longa que arrastava no chão. Seus olhos brilhavam com um tom sinistro, mas havia algo... um pouco patético em sua aparência. Como se fosse um vilão em estágio inicial de carreira.
Reading on Amazon or a pirate site? This novel is from Royal Road. Support the author by reading it there.
— Eu sou Kragnar, o Guardião das Sombras!— a figura declarou com uma voz grave. — Aquele que governa este reino amaldiçoado!
Adam deu um passo à frente, com uma expressão de "sério isso?". — Kragnar? Esse é o nome mais genérico de vilão que eu já ouvi. Tipo, zero criatividade.
Zélio deu uma cutucada em Adam. — Ei, ele parece perigoso, vamos tentar não irritar ele.
— Perigoso? — Adam respondeu, apontando para Kragnar. — Ele parece mais uma versão barata de cosplay de vilão. Aposto que nem consegue fazer magia direito.
Kragnar, ofendido, ergueu as mãos em um gesto dramático. — Eu sou o mestre das sombras! Minhas maldições são infinitas!
Adam estalou os dedos. — Beleza, então joga uma aí. Vamos ver essa tal maldição infinita.
Kragnar parou, parecendo um pouco desconcertado, e depois mexeu os dedos como se estivesse tentando invocar algo. Nada aconteceu. Ele mexeu de novo. Ainda nada. Kragnar tossiu nervosamente.
— Humm... as sombras estão... especialmente teimosas hoje.
Adam virou-se para Zélio. — Tô dizendo, esse cara é um estagiário de vilão. A gente vai sair daqui em cinco minutos.
Zélio deu de ombros. — Bom, pelo menos ele não parece querer nos matar imediatamente, né? Tem isso.
Kragnar, tentando recuperar sua dignidade, pigarreou novamente. — Vocês serão forçados a completar a missão que eu...
— Tá, tá, a missão — Adam interrompeu, impaciente. — O que é? Derrotar um dragão? Encontrar um artefato mágico? Salvar o mundo? Já ouvi todos esses antes.
Kragnar parecia momentaneamente perplexo. — Na verdade... vocês devem encontrar... o Amuleto das Sombras. Ele foi roubado há eras, e sem ele, eu não posso...
— Espera, espera — Adam o interrompeu novamente, erguendo uma mão. — Um amuleto? Sério? Isso aqui tá parecendo uma caça ao tesouro de escola.
Zélio olhou para Kragnar, tentando soar diplomático. — E... onde exatamente esse amuleto foi parar?
Kragnar olhou para o chão, visivelmente embaraçado. — Humm... Eu não sei.
— Como assim você não sabe? — Adam exclamou, claramente frustrado. — Você é o Guardião das Sombras! Como você perde um amuleto e nem sabe onde ele está?
Kragnar parecia murchar sob o olhar irritado de Adam. — As sombras... elas são traiçoeiras. Ele pode estar em qualquer lugar.
Adam balançou a cabeça, incrédulo. — Claro, porque nada pode ser simples nesse lugar.
Zélio, tentando ver o lado positivo, sorriu timidamente. — Bom, pelo menos é uma aventura, né? Pode ser divertido.
Adam olhou para ele como se estivesse falando algo completamente absurdo. — Diversão é uma tarde no sofá, com uma pizza. Isso aqui é só... doloroso.
Antes que Kragnar pudesse dizer mais alguma coisa, uma luz piscou ao longe, entre as árvores. Era um brilho suave, quase convidativo. O estômago de Zélio roncou alto, quebrando o momento de tensão.
— Adam — Zélio começou, tímido —, eu não sei você, mas aquilo ali pode ser um restaurante mágico. Talvez até uma pizzaria.
Adam estreitou os olhos, visivelmente tentado. — Se isso for verdade, eu retiro tudo que eu disse sobre esse lugar.
E com isso, a dupla improvável seguiu em direção à luz, deixando um Kragnar completamente confuso e possivelmente reconsiderando sua carreira de vilão. Afinal, era difícil manter uma reputação sombria quando seus prisioneiros estavam mais interessados em pizza do que em salvar o mundo.