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Um conto

“Estamos marchando há dias, tantos dias que não consigo mais suportar; desde quando começamos a lutar pelas terras do norte, não tivemos um único dia de pausa. Ataque atrás de ataque se sucedeu, e os habitantes da terra onde o sol se põe, tentam nos aniquilar.” 

“Após tantas lutas minha mão está trêmula de cansaço... não consigo mais sequer levantar minha espada. Não sei se vou poder escrever novamente e nem se essa carta será entregue a meu filho, então a deixo para quem a encontrar.” 

“Não siga meu caminho como soldado... Lute! Por tudo aquilo que precisar... por tudo aquilo que quiser! Não se ajoelhe perante os nobres e nem mesmo o rei te fará se ajoelhar.” 

“Seja forte, crie seu próprio reino! Eu confio a ti, meu sonho... o sonho que perderei lutando, contra todos aqueles em quem uma vez confiei.” 

A mensagem encontrada após uma batalha feroz dos maiores Impérios Centrais, Setentrionais e Orientais. Foi descoberta na armadura de um mercenário entre o corpo de vários escravos num planalto, por um soldado raso. 

Depois desse achado, alguns anos mais tarde esse mesmo soldado se tornou o rei da metade oriental, Lúcio Baeta era seu nome, coroado o 5⁰ Imperador Oriental, suas conquistas foram cravadas na memória de todos, ao custo de dez milhões de almas, dessas; inimigos, inocentes e aliados, esses números sempre serão tratados como um fardo por sua alma, pesando em sua consciência, consumindo sua sanidade... esse é o preço que os conquistadores pagam. 

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Após a última grande batalha e a queda das fronteiras do Império Oriental, o ambiente era pesado, corpos espalhados por todos os lados junto a uma neblina densa e o vento carregado com o cheiro ardente de sangue, em meio a tudo isso havia um homem, com uma respiração que se destacou entre o barulho das folhas.

A noite gélida que caiu sobre, trouxe consigo o brilho das duas luas penetrando a densa neblina e gradualmente mostrando o que não era antes visível. 

No pouco metal que restara no corpo, o símbolo de uma cruz refletiu em sua armadura e elmo ensanguentados e em seus olhos, uma linda visão do céu estrelado se espelhou.

— Então é assim... — Tossiu o homem que não conseguiu se mover com o peso da armadura junto aos vários corpos o prendendo ao chão. Corpos esses que continham os brasões das grandes nações aliadas que uma vez já foram almejados por todos e agora estavam ensanguentados e enterrados entre a dor e a miséria.

Acabado e com a respiração pressionando o peito, falou com a voz rouca — Me desculpe por não cumprir nossa promessa.

Entre o som do vento e o farfalhar das árvores, sua pulsação começou a baixar, enquanto admirava o infinito. Esse homem lacrimejou enquanto perdia o brilho de seus olhos com seu corpo congelando lentamente no frio, até que sua ínfima centelha de vida se apagou junto a sua última palavra.

— Bella.

Perante o som das gotas de sangue ainda pingando da armadura. Entre a fissura do elmo amassado e negro uma única coisa ainda se destacou dentre aquela escuridão. Os olhos daquele homem, espelhando o deslumbrante céu estrelado, iluminando sua íris até a escuridão de sua pupila.

Naquele cenário, após uma dura derrota contra os invasores de sua terra, estava o corpo de Baeta, O Último Imperador do Oriente, levando consigo não só suas conquistas como as dez milhões de almas que pesavam em suas costas.

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