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Capítulo 5: Reencontro

Reencontro

Um corpo com cabelos castanhos pairava no ar, flutuando na escuridão, os olhos daquele jovem se abriram e longe enxergaram uma centelha de luz, aquele brilho iluminou seu caminho e para o qual estendeu o braço tentando alcançá-lo.

As trevas o cercaram, uma sombra puxou a mão do garoto que entrou em desespero, Gritou, apavorado com a luz que o guiava se extinguindo, mas não saia nada.

Aquele brilho desapareceu, não enxergando mais, os olhos deram às sombras a oportunidade de o consumir por completo em meio ao frio que penetrou em sua pele.

Gritos de agonia ao redor fizeram seus ouvidos sangrarem, uma figura estranha apareceu em sua frente, os olhos do vazio o observavam queimando uma chama azul, sua visão para cima mudou e uma pessoa avistou. A silhueta de uma garota que o estendeu a mão, salvando-o daqueles gritos de agonia, qual com desespero o consumiam.

— Emília!!! — Miguel se impulsionou para frente, estendeu a mão direita e tentou agarrá-la.

Desnorteado, olhou para os lados e procurou por Emília, mas não viu nada. Virou o rosto e tentou se localizar e procurá-la, porém, não enxergou ninguém.

Após ter tal sonho e passar por tudo aquilo, sentou-se e pensou o porquê de sua situação, pois, agora estava à deriva em meio a um mar de lava.

— Então não foi um pesadelo? Eu… — Colocou a mão sobre o rosto depois de não ver uma única alma.

— Porra! por quê!? Sério! que porra foi aquela? o que ela estava fazendo ali!? droga... — Levantou, olhou novamente para os lados com as mãos na cintura, tentou pensar algo positivo, porém logo o semblante caiu.

— Mas que droga! onde é que eu to? Quem era aquela guria de cabelo vermelho? — Começou a andar de um lado para o outro e pensou em algo que explicasse ou pelo menos o ajudasse com aquelas dúvidas que tinha.

— Não, não é possível, ela tinha cabelos vermelhos! Hã!? Meu Deus… — Olhou para o chão — O que eu faço? aaaaaaa! não dá para ficar assim! por quê!? Porque comigo… — virou-se para o horizonte com a mente inundada de dúvidas e pensamentos infelizes e limpou o rosto com os braços machucados.

— O quê que eu fiz para sofrer assim? — Caminhou na mesma direção, parando na beira daquele rochedo. — Me- me- matar não funcionaria né?

Se sentou ali mesmo e começou a balançar os pés enquanto engolia o choro. — Não! não posso fazer isso comigo, suicidas vão pro inferno! eu- eu to no inferno? se eu estiver vai fazer diferença? — Com os olhos vermelhos se apoiou nos braços e olhou para o horizonte que formava uma linha dividida entre um alaranjado forte e um preto avermelhado.

Perdido em devaneios, seus olhos se viram naquela imagem que se dividia com as cores se misturando continuamente e se fundindo, sua atenção foi presa ali e devagar se aproximou da queda iminente.

— Eu acho que- eu- eu devo-

Um sentimento que não controlava o atraiu, gradualmente entre a decisão e a insegurança, sua mente foi se apagando.

Quase caiu do rochedo, se não fosse por um formigamento que repentinamente o puxou a atenção.

— O quê? — Um sentimento estranho tomou conta de si ao pausar o breve ato suicida, corriqueiramente olhou para trás e sentiu a presença de mais alguém ali, forçou olhar longe, mas voltava constantemente para as proximidades, porque não enxergava nada a alguns metros de distância, assim continuou revirando o local em busca do que atiçou seus instintos.

Após alguns minutos que nada encontrou, estava prestes a desistir, mas um pressentimento o fez olhar para trás e longe avistou uma estranha figura se movendo.

Uma silhueta feminina se formou, então com as duas sobrancelhas arqueadas ao ver uma menina com longos cabelos negros balançando junto a um vestido branco que andava como se estivesse em cima de um chão invisível, ascendeu em si uma chama de esperança qual precisava agarrar e começou a gritar.

— Ei, espere! — Começou a correr em direção a garota.

— Ei!! — mas já era tarde, quando estendeu a mão para agarrá-la rapidamente se desconcentrou e perdeu o senso de espaço e estando quase lá, a garotinha passou a beirada do rochedo onde estavam.

Miguel que corria desenfreado parou rapidamente quase caindo, se não fosse por sua recente força de vontade em permanecer vivo, não conseguiria se agarrar a ponta da pedra qual havia tropeçado antes de cair em direção a lava.

Pendurado na pontinha de seus dedos, olhava para baixo. O calor extremo e o cheiro de enxofre que exalava da névoa mais abaixo fazia sua pele secar e seu rosto arder, seu nariz começou a escorrer, ficou por um fio de cair e soltou um grande suspiro quando percebeu.

— Meu Deus! — Ofegante se firmou, forçou-se para cima e subiu com os resquícios de força que restaram em seu corpo.

Alguns segundos que perdeu sua justificativa, o ex-suicida sentiu angústia e a tristeza que tinha o deixado a pouco tempo e esmoreceu baixando a cabeça.

Em sua mente, um desejo de sair se incendiou e não o deu mais paz, isso o fez temer que coisas piores poderiam estar para acontecer.

— Se acalma Miguel! Você sabe que ansiedade também mata, né? — Bastou alguns tapinhas na bochecha para que voltasse a si.

— Não vou perder assim! Eu quero viver!!! — Entre a frustração e a chama de sua força de vontade, se afastou da beirada e voltou a gritar.

— Ei! Para onde está indo? Você está me ouvindo!? — Balançou as mãos e tentou chamar a atenção, até pulou, mas no final, não funcionou.

— Mas que droga! Ela já está muito longe, será que ela me ouve? Ei! Porque está me ignorando!!? — Encostou as mãos na boca e gritou, mas desistiu alguns segundos depois.

Quando chegou no portão, a garota pisou suavemente no chão empoeirado, no entanto, nem uma única partícula de poeira se moveu ao tocá-lo, enquanto de bem longe ecoavam aqueles gritos, ela se virou lentamente.

Mesmo que sua única esperança de encontrar uma saída daquele lugar, fosse um possível delírio, ainda assim era a única esperança do ex-suicida, mas o terror e a angústia das chamas azuis e o vazio profundo presentes nos olhos dela, o fez repensar sobre o que acabara de fazer quando ela subitamente estendeu o braço em sua direção.

— Será que ela me ouviu? — Ficou em silêncio com um olhar de morte fixo em si.

O braço dela começou a emanar partículas de uma energia amarela amarronzada que caíram em direção à lava, uma cachoeira que fez com que pequenos redemoinhos se formassem aumentando gradualmente, surgindo da lava uma passagem de pedras que continuava a subir.

Miguel que estava cansado, se agachou e ficou calado ao ver aquilo, nada mais o surpreendia pois tinha começado a se acostumar com as anormalidades.

— O que eu faço agora? — Desviou um pouco daquela vista, olhou para baixo e pensou. — Eu estava gritando feito louco até agora… Será que ainda tenho ar no pulmão?

— Ah! puta que pariu! Por quê?! Por que raios isso está acontecendo comigo!?

Será que no passado eu joguei pedra na cruz??! — sentou-se bruscamente.

Respirou profundamente e olhou para à garota, os fixos olhos negros que rebateram o medo dos seus, preencheram-no de insegurança, tão incrédulo estava daquela situação que esqueceu das prioridades.

Cético, deitou-se no chão cisco e olhou para o alto, porém a escuridão era desconfortante, não existia sequer um ínfimo raio de luz, e o tempo parado o fez relembrar do passado; sua família, amor, amigos, toda a felicidade que já havia vivenciado.

Aquela felicidade, a qual foi forçado a abandonar com sua morte, evaporou entre as cinzas no ar.

Levantou a mão para o alto e falou. — Senhor, por que me faz sofrer assim?

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Silêncio, o barulho do vento foi o único som audível quando começou a demonstrar cansaço, desceu sua mão e virou-se encolhendo o corpo.

Fechou os olhos junto as poucas lágrimas que evaporaram e adormeceu.

Algum tempo passou, lentamente o pobre infeliz, amenizando o cansaço, foi incomodado por um barulho e acordou do curto sono com um longo bocejo.

Seus olhos se abriram e devagar passou a mão sobre eles, tentou desembaçar a visão turva e levantou vagarosamente acompanhado de outro bocejo, mas após ficar de pé e caminhar até onde deveria se encontrar a passagem, Uma imponente estrutura com adornos, uma construção feita de concreto e pedra, uma ponte sustentada pelos arcos que por debaixo se estendiam até o outro lado, estava lá.

— Uau... — Surpreso segurou na mureta e sentiu cada molécula daquela estrutura se fundindo junto a vibração.

Olhou para baixo e depois voltou a atenção à parte de cima, começou a caminhar até chegar numa única passagem central separando uma extremidade da outra, onde algumas palavras estavam cravadas junto a símbolos e desenhos esculpidos em linhas entre a poeira.

NOLISUPERBIAHOMOMEMENTOQUIAPULVISESETINPULVEREMREVERTERIS

— Como esse negócio veio parar aqui? — Se esforçou alguns minutos e procurou ler, mas logo desistiu.

— Isso é um aviso? será que é alguma mensagem? Agora eu estou confuso...

— Se eu tivesse percebido que isso era real, teria perguntado mais algumas coisas pra Isabella, falando nisso... para onde ela foi? — Em dúvidas profundas apoiou-se na mureta.

— Poxa! O quê eu faço? — Inclinou o corpo e tentou separar aquelas palavras, mas falhou miseravelmente em formar uma frase, o cansaço na mente já era ruim, mas uma dor que sentiu no peito, acompanhada do encontro de seu rosto e corpo com o chão ao som do impacto de Emília que repentinamente apareceu no céu e acertou suas costas, foi pior.

Miguel berrou em dor, mas o som foi abafado pelo chão.

— Aí! onde é que eu estou? — Emília olhou para os lados, porém seus olhos agora não eram mais verdes esmeralda e sim um vermelho escarlate.

— Mas que porra me atingiu? — Sentiu um peso descomunal em suas costas, acompanhado de um leve formigamento.

— Hm... — A garota se sentiu estranha então começou a passar sua mão sobre o local ao qual tinha caído — Estranho, cai em algo macio? — Olhando para o alto, apertou as nádegas de Miguel que ao sentir o toque suave, soltou um leve grunhido e teve um movimento involuntário das pernas.

— Mas quê!? Que nojo! — Emília pulou com a face consternada, se afastando para longe do garoto, estirado no chão.

— Aaaa! Que nojo! sai! sai! eeeca! — tentou limpar a mão enquanto se contorcia enojada.

— Deeeuus... por quê? — O maltrapilho murmurou em lamúria, depois de tantos pesares que o simples cogitar sobre o possível futuro o trazia, agora um novo e terrível sentimento se instaurou, a vergonha.

— Pera... Hã? — Emília que a poucos minutos estava longe e se limpando como se numa pilha de dejetos tivesse caído, parou por alguns segundos e focou sua atenção a quem a bunda tinha apalpado.

— Miguel? — perguntou e inclinando um pouco o corpo.

— não... — respondeu com o rosto grudado no chão, lentamente levantou desconcertado com as costas doendo e os braços ardendo.

— Aqui! deixa que eu ajudo! — Emília, feliz, segurou o pelo ombro.

— Obrigado E-... Emília!? É você Emília!? É você mesmo!!!!!???? — Miguel ficou boquiaberto e com os olhos tão grandes que pareciam estar prestes a saltar das órbitas, ele de repente avançou sobre ela e os dois caíram no chão.

— Mi- Miguel!! O que está fazendo!?? — Emília o empurrou e tentou sair daquele abraço.

— Emília! Emília! EMÍLIA!

Miguel chorou, mas dessa vez não de tristeza, arrependimento ou dor, suas lágrimas carregavam uma felicidade inestimável, uma alegria que se via em seu rosto onde não sabia se continuava a chorar ou se sorria.

— Vem aqui seu chorão! — Ela então retribuiu o abraço e acariciou os cabelos dele que se derreteu em seu ombro.

Alguns segundos se passaram e como nem só de choro se vive o protagonista, mesmo que quisesse permanecer daquele jeito, Emília o afastou e se levantou.

— Chega de drama, você não chorava tanto antigamente! — Sorriu e arrumou os cabelos dele, antes de ficar de pé e ò estender a mão.

— De- Desculpa! — retribuiu com um sorriso desconcertado no rosto e levantou enxugando o rosto com os braços.

— Deixa disso, você nunca foi nem de pedir desculpas! O que foi que aconteceu contigo pra você ficar assim?

— E- Eu, eu, eu… — Abaixou a cabeça.

Emília olhou para ele preocupada e colocou a mão sobre o rosto para esconder a tristeza, fechou os olhos por alguns segundos e desfez dos pensamentos ruins.

— Quer saber? Deixa pra lá! tem coisas mais importantes acontecendo agora e pelo visto estamos num lugar ruim pra se estar… aquele velho esclerosado estava certo! — Emburrada ela virou-se. — Aaaaah! — chutou uma pedra que bateu na mureta e voltou em sua testa. — Aaaaah! — irritada começou a bater os pés no chão.

— Velho? Espera! Você quer dizer o Van!? — pegou no ombro de Emília.

— Hã? O que foi? Pensei que você conseguiria ver ele ainda, também parou de o enxergar?

— Cla- Claro! Faz sete anos que não os vejo! Você não sabe o quão feliz eu estou Emília! Você não sabe o quão bom é ver você de novo! Eu te amo Emília! Estava sozinho sem você! — Miguel novamente a abraçou, mas dessa vez sem direito a queda, estava tão feliz que sequer reparou o que disse.

Emília ficou sem reação e não soube o quê dizer, ficou com o rosto mais vermelho que um braseiro e deu um empurrão que jogou Miguel no chão.

— Se- Seu idiota!! Como pode falar algo assim!? — Falou emburrada.

— O- Oque? — Coçou a cabeça, perguntou e se levantou novamente apoiando a cintura que doía bastante. — O que foi que eu falei? Quer saber? deixa! eu to feliz de qualquer jeito! — completou com uma pequena gargalhada e se aproximou novamente dela. — Emília, você realmente não sabe o quão feliz eu tô de você estar aqui na minha frente, de eu poder escutar sua voz de novo. — Ele novamente a abraçou, abraço esse que foi retribuído.

— Sim seu idiota, é bom falar com você…

Passado alguns segundos Emília novamente separou-se dele e virou em direção a o arco central da ponte.

— Be- Bem! — Colocou as mãos na cintura. — Como estamos no abismo eu devo te guiar até o portão, Você precisa fazer um pedido a ele. — falou e apontou para o portão.

— Pedido? Abismo? Como assim?

— Calado! — colocou o dedo indicador sobre a boca dele. — Não tenho que te explicar agora, precisamos correr contra o tempo! Se as coisas estão tão certas quanto o velho falou, Mirabelle deve estar por aqui! — ela começou a correr até chegar ao marco central.

— Espera! Emília! O que você quer dizer com isso!? Cadê o van? — Miguel correu, meio destrambelhado, mas conseguiu mesmo assim alcançar ela.

— Ele está bem, está nesse exato momento indo até Sansigro buscar respostas sobre o porquê de você ter sido raptado da terra. — Emília olhou para as palavras e começou sussurrá-las.

— Sansigro? Que lugar é esse?

— A capital do conselho, o local onde as Doze Casas se reúnem para guardar e zelar pela criação, uma cidade de anjos.

— Es- Espera! co- como assim!? — Miguel ficou bobo com o que ouvia — É- É muita coisa pra processar… — Colocou a mão sobre a cabeça e agachou-se tentando entender tudo aquilo.

— Então fique quieto e me deixa resolver isso aqui! Argh! Eu Odeio línguas antigas! — continuou a separar as palavras que via, logo uma frase se formou e ela sussurrou a si própria.

— noli superbia homo, memento quia pulvis es et in pulverem reverteris

— Droga! Tinha que ser esse desgraçado!? — Emília teve um surto de raiva repentino e começou a bater os pés no chão com a cara emburrada.

— O- O que foi!? Quem é? — Perguntou assustado, olhou para os lados mas não via ninguém ali.

— Aquele ali o! ele não aceitará! droogaaaa!!!

— O portão? Como assim não aceitará!?

— Isso é uma grande conexão que está ligada a todo o universo, pode te levar a qualquer lugar, menos a terra, eu ia te falar para pedir que fosse levado a Nura, a terra dos dragões que fica aqui perto, mas pelo visto você não vai conseguir! Aaaaa! O que eu faço agora!? Aquele velho vai me matar! Isso se Mirabelle não fizer antes… — Emília colocou as mãos na cabeça e começou a andar de um lado para o outro.

— Não vai aceitar? Mas eu não só tenho que pedir? — Passou pelo centro e começou a andar até o portão.

— Se fosse assim todos que achassem um portão em bom estado viajariam pelo universo facilmente, outra guerra pela supremacia iria estourar com os anjos e as conexões restantes seriam todas destruídas por Deus.

— Esses portões que sobraram só tem o poder que têm e continuam em pé por um motivo, são muito inconvenientes, só um milagre faria ele te responder, porque você é um homem. — Emília se agachou cabisbaixa o vendo se afastar.

— homem? Bom! Não custa nada tentar! — respondeu Miguel estranhamente motivado, deu com os ombros e continuou até chegar no fim da ponte.

— Não é assim que funcio- — Interrompida por um sentimento estranho, antes de perceber estava indo atrás dele. — Miguel! Se esconde! Rápido! CORRE! — Ela tentou, mas já era tarde demais.

Prestes a firmar o pé no chão pedregoso uma pergunta o parou.

— Quem é você? Garoto. — perguntou uma voz infantil e cansada.

— O- O Quê? — Olhou para os lados e não viu nada.

— A não! Ela está aqui! Corre! — Emília adiantou os passos tanto quanto pode, seu rosto foi de alguém preocupada para uma feição de terror psicológico extremo.

— Emília!? — Virou-se totalmente para trás angustiado.

— Garoto, está sendo muito irritante te escutar. Cale-se e responda a mim, como chegou aqui?

Pálida, Emília cessou a correria ao ver a figura atrás de Miguel que se virou lentamente e olhou a muito pequena garota com olhos tão dourados como ouro puro, cabelo de cor igual com um alto rabo de cavalo lateral de pele clara e vestida em vermelho. — Pe- Pequena...

— Se não quiser sofrer responda-me e devido a sua ousadia, que seja bem detalhada tua explicação ou então sofrerá as consequências de teu silêncio. Então diga-me quem é você?