A Passagem
— Hã? — Desnorteado, Miguel, que não lembrava de nada do que seu corpo havia presenciado, despertou com os olhos cheios de lágrimas.
— Mas o que? — balançou o rosto e limpou os olhos.
Sem camisa e com a bermuda rasgada, não conseguia nem pensar sobre o que aconteceu para ficar assim, quando olhou para a marca em seu peito, tentou retirá-la, coçou o local. Pensou ser algo que havia caído ali, mas ao perceber que era sua pele gritou. — Como assim!? Hã!? O que!? Espera!? Isabella? ISABELLA!!! O que é ISSO!? — Ele virou-se e procurou pela garota, mas se deparou com outra visão estranha. — Mas o que houve aqui? — Não havia mais portais RGB, a “Guia” não estava mais lá, algumas poucas crateras com o chão duro, sem neve alguma, se estendiam até onde sua visão podia alcançar.
— Oxee… — já não soube mais o que pensar, entre “O que havia acontecido com a tal Guia?” e “Para onde foram os portais?”, o que mais ficava na cabeça dele era, “O que foi que aconteceu aqui?”.
Havia somente uma porta à sua frente, sozinho e seminu, nem mesmo a desculpa esfarrapada de alguns minutos atrás o impediu de pensar. — Bom… agora eu não tenho escolha, né? — Então se levantou, náuseas e vontade de vomitar foram as primeiras coisas que ocorreram. — Que mer-!
— O que houve comigo!? Parece que levei uma surra! — olhou para as pernas e passou as mãos nos braços logo depois os cruzou, não achou nenhum hematoma e muito menos algum corte, contentou-se em se consertar e devagar caminhou até a porta.
Em um beco sem saída, não tendo ideia do porquê de estar agora sozinho com aquela marca no peito e com muitas perguntas que não saiam de sua boca estremecida com os dentes cerrados, se aproximou da rústica porta.
O vermelho das partículas que escorriam pelas fissuras cresceu em demasia e quando colocou a mão na maçaneta e a abriu, um rubro turbilhão circular de energia explodiu em sua frente, puxando o com muita força como um furacão, ali no centro se encontrava uma calmaria que o permitiria andar em um corredor rodeado pelas nuvens carregadas dessa energia vermelha.
Antes de entrar, olhou para trás, ninguém estava lá e o silêncio ensurdecedor o fez questionar se tudo realmente só não era um pesadelo inexplicável, ele Mordeu o lábio e entrou de cabeça baixa para dentro, quando a porta se fechou, Miguel seguiu uma luz branca iluminava o fim, poucos minutos se passaram e quando finalmente chegou a luz, tudo ficou escuro de repente.
— O que está- O- Oi?! Alguém aí!?
Da mesma forma que se apagou, a luz retornou e ao ver que estava praticamente no mesmo lugar, surtou.
— O quê!? O que foi que houve aqui!? Porquê!? — Procurou por Algo ou Alguém que pudesse lhe responder, mas tudo que viu novamente foi um branco sem fim, até a montanhas mais próxima de onde estava.
Observou os arredores de montes de neve e de um deles algo lhe chamou atenção, surgiu uma figura que se encontrava dentro dele; o ser se balançou para tirar a neve cobrindo o corpo, tinha altura semelhante a de Isabella, então ao ver isso, começou a correr afobado para alcançá-la, até que finalmente se aproximou.
— Oooi! Ei, Isabella! Está tudo bem? — perguntou ao agarrar os ombros da menina, inicialmente o rosto dela era parecido, porém, seu cabelo diferia, continuava longo, mas tinha franjas repartidas. Entretanto, não deu a mínima importância e tentou conversar com a mesma, nem sequer prestou atenção nas mudanças acontecendo bem a frente de seus olhos.
— Isabella! O que está acontecendo? Onde você estava? Você sumiu! Eu entrei pela porta do meio e tudo apagou! — Começou a chacoalhá-la de um lado para o outro, mas ela continuava o ignorando.
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Seus cabelos começaram a se avermelhar, subindo devagar desde as mechas até a ponta da cabeça.
— Ei! Está me escutando!? Isabella! Me explica! O que está acontecendo!? — perguntou sem mal pensar sobre o porquê da garota que a pouco tempo tinha sumido, estar de pé em sua frente, mas após observar o cabelo dela mudar de cor, saltou e para trás e ela pareceu ter encontrado o que buscava e rapidamente reagiu ao movimento de Miguel com a escuridão daqueles olhos que o miravam sem brilho, junto a um cenho desprovido de emoções, a sensação do vazio foi tão intensa que parecia um buraco negro sugando sua existência.
Assustado, tentou sair da força que o consumia, as pupilas dela se dilatavam e as suas seguiam o mesmo caminho, instantaneamente sua alma estremecia e alguém ali se incomodou.
Miguel conseguiu dar alguns passos para trás e seus olhos voltaram ao normal, porém, mesmo assustado, continuou a tentar conversar com a garota que agora o preocupava ainda mais.
— E- ei, Isabella? Por que está fazendo isso? O que está havendo? — perguntou e arrastou os pés mais para trás.
— Isa- bella? — Ela inclinou o rosto sem demonstrar nenhuma emoção. A voz dela era diferente da de Isabella, era mais infantil, borrada e retorcida.
— Que- quem é você!? — Afastou-se ainda mais, espantado com a agora, desconhecida à sua frente.
— HÁHÁHÁHÁHÁHÁHÁ! — A garota soltou uma nuvem de fumaça vermelha que se espalhou pelo ar e começou a levitar junto a um odor de enxofre que tomou conta do lugar.
— Mas que porr- cof, cof, porr- É essa!? O que está acontecendo!? — A garganta de Miguel fechou e a respiração pesou, começou a tossir enquanto do nariz escorria sangue.
Os olhos se irritaram e a pele ardeu ao ponto de rasgá-la com as próprias unhas tentando amenizar aquele tormento.
A fumaça começou a se infiltrar no chão e num piscar de olhos, tudo começou a tremer, a neve que os rodeava foi sugada para baixo, pequenos montes iam sendo puxados por uma cratera que ia aumentando. As gigantes montanhas se moveram, subindo, empurraram um vento pesado junto ao enxofre para o meio do vale.
A cratera continuou se expandindo, ficou tão grande que aparecem enormes fissuras no chão e rachaduras nas montanhas. À terra tremeu enquanto Miguel tentou entender a situação:
— O que- — Respingos de sangue saíram junto ao pigarro da crise de tosse que sucedeu. — É isso!? O que fiz pra- !! — Antes de terminar, seu pulmão não aguentou e o fez vomitar, a visão do próprio sangue esparramado no chão o transtornou e com as vistas borradas devido à secreção, não conseguiu olhar ao redor e caiu de joelhos, se empurrou, mas não conseguiu endireitar, ouvir aquela voz zunindo em seus tímpanos, com uma risada psicótica ecoando por todos os lados, o fez cair novamente, enquanto o lugar continuava a ruir.
Os olhos da garota que levitou no ar, iam se avermelhando junto aos seus cabelos escurecendo, a escuridão começou a cobrir sua esclera enquanto de dentro da cratera um portão surgiu.
Emergindo junto as enormes explosões de vapor que saiam do solo, tudo era jogado para longe desde pedras a poeira, deixando apenas o chão negro e rochoso, o gigante portão de ferro tinha seu alicerce em pedra, enquanto emergia do solo que se despedaçou. Miguel foi jogado longe batendo em uma das montanhas ao redor, só para a pressão do ar que se alterou, o esmagar.
— Aaaaaaaaa! — Revirou os olhos de tanta dor, torceu o corpo e convulsionou espumando pela boca, prestes a colapsar com os órgãos sendo pressionados.
Grandes rochas caíram das montanhas, se desprenderam do alto, os sons dos impactos eram ouvidos por todos os lados e isso se estendeu até que o portão emergisse por completo, explosões de lava ao redor dele fizeram o metal do mesmo escurecer, ficando mais e mais escuro e o ambiente, se tornou um vulcão ativo, as rachaduras abertas pelas explosões jorravam lava que escorreu pelas fissuras no solo e formou rios por todos os lados.
Miguel, no meio de tudo aquilo, estava ilhado em um pedaço do solo carbonizado, um rochedo, sem saber nem entender o que se passava.
Das profundezas da lava, saíram grandes correntes de aço, arremessadas iam em direção ao portão, se enfincando nas laterais de seu marco, o estrondo gerado pela colisão era muito alto, os tímpanos dele estavam para explodir. Às seis correntes com cores foscas presas aos lados do portão, rangiam, balançando junto às cinzas no vento, todas corroídas e manchadas.
A cada balançar um pequeno pedaço delas caía rente às pedras na lava, tão grandes os impactos eram, que geravam ondas colossais.
Estirado no chão, tudo que fez foi observar aquele inferno que se formou por seus olhos se fechando. Tentou manter a sanidade em tanto sofrimento, amedrontado com o que viu e sentiu, ele só conseguiu pensar:
— Meu Deus. — Foram as únicas palavras que ressoaram na mente ao ver uma enorme parede de lava surgir a frente, tão grande que o tom de sua visão ficou âmbar, inseguro, destruído, desamparado e sofrendo em agonia constante, estava prestes a apagar quando viu, entre o balançar das cinzas, uma figura surgir à sua frente e partir aquela onda no meio.
— E- Emília?