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UM DIA NO CAMPO

Os passos seguem pelas altas montanhas

Passo a passo elevando e descendo, seguindo

Às vezes relutantes pelo paço,

Às vezes velozes nos caminhos livres.

Mas, sou o caminhante que faço

a trilha sob o sol,

um lugar que me abregue.

- E então, Noah, como estamos indo? – o meu pai perguntou, se ajeitando ao meu lado na mesa.

- Muito bem, pai. Tem tudo para dar muito certo. Acho que podemos assinar o contrato na semana que vem.

- Que bom, filho, que bom. Esse contrato com a Secretaria de Educação nos dará um bom suporte. Está bem trabalhoso, né filho? Mas vai valer o esforço, tenho certeza. E quanto aos novos escritores?

- Estamos conversando ainda. Eu e a Bia estamos resolvendo alguns entraves que surgiram na conversa inicial, tipo percentual dos direitos autorais, os tipos de mídia etc. Dando certo vão ser duas novas aquisições, e muito boas – contei.

– Mikael e Nikolai, são esses, filho?

- Isso mesmo, pai. Mikael Lenyer; ele escreve mais sobre fantasia, tipo capa e espada, anjos, além de ficção científica e outras linhas. E o casal, Nikolai Uilbor e Barbara Consuelo, mais para romances sensuais.

-Legal... Tomara que dê certo, também.

- Vai dar certo sim, pai. Mas, e a Ema? Ela está onde? Eu vi que ela saiu cedo. Não a encontrei ainda.

- Ah, sabe como eles são – sorriu. – Eles foram para a cabana do lago. O Raul e ela acordaram cedo, sorrindo de orelha a orelha. Disseram que iriam pescar para o almoço. Convidaram todos para um belo almoço lá. É para irmos, assim que um certo preguiçoso dorminhoco acordasse – sorriu. – Vai lá?

- Claro que vou, pai. Vou terminar o café e vou. Vai ser muito bom passarmos uma tarde lá. Pai, que tal irmos todos agora?

- Por mim, claro, vamos sim. Mas, quanto às duas, esqueça – avisou. – Quando sua mãe e a Margarida se encontram, a conversa não para. Elas se divertem muito entre elas mesmas – riu.

- Claro que eu sei. Bem, está bem, então.

- E, filho, pensaram bem na ideia de vocês?

- Pensamos sim. Eu e a Ema falamos muito disso. Tenho certeza de que vai dar certo, pai. A Ema vai ser incrível, ainda mais com esses novos contratos. E eu amo a presença dela.

- É, também acho. Tem todo o nosso apoio, filho, e do Raul e da Margarida também.

- Que bom, pai. Então, que tal irmos?

- Claro, vamos sim. Só vou avisar as duas – falou se levantando.

- Olha aí os terríveis pescadores - Noah os cumprimentou assim que entraram na cabana.

Era uma cabana espaçosa e bem equipada, construída pelas duas famílias na divisa das propriedades, ao lado de um lago médio, feito com as águas que desciam das montanhas.

- E ali, barrando a porta para seu pai não entrar, o terrível dorminhoco – Ema riu.

- Preguiçoso e – falou, empurrando o filho para o lado e entrando. Após abraçar os dois se sentaram.

- Acabamos de voltar da pescaria, Ema falou, descarregando o samburá em uma grande vasilha, mostrando o quanto ela e o Raul haviam pescado.

Raul logo pegou um peixe, depositando-o sobre a tábua de carnes.

Raul era um sujeito de tamanho na média, em torno de 1,78 mt, um pouco acima do de Ema, que media 1,76, e já beirava os 58 anos de idade. Ele era um cara troncudo e forte. Ele estava aposentado do BB, que era uma boa aposentadoria, já há quase um ano. Noah sorriu, porque sempre que pensava nele logo imaginava o Papai Noel, talvez por causa do seu rosto bondoso e bonachão, dos cabelos bastos e brancos e, principalmente, pela barba branca que cultivava. Ele contrastava bastante com seu pai. Seu pai era um sujeito alto, de porte atlético, medindo em torno de 1,80 mts. Ele contava com quase 56 anos, apresentando apenas alguns fios brancos no meio da cabeleira negra, e ele estava a ponto de se aposentar como gerente de TI em uma multinacional instalada no parque empresarial. Mas, o que mais o marcava, era seu grande e luminoso sorriso.

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- Não é muita coisa que conseguimos pescar – Raul se justificou, - mas foi uma pescaria e tanto. E isso fui eu quem pescou quase tudo isso aí – riu, vendo a cara de desaprovação da Ema.

- Falso... – ela falou, apontando a faca para ele. – Gente, ele pescou aquele alí, o menorzinho. E quase o perdeu – sorriu debochada.

- Bem, mas houve luta. Em todo o caso, não é o tamanho que importa – Raul riu, se pondo a limpar o peixe.

Ema riu, mais satisfeita, e voltou a preparar a frigideira e a farinha para fritá-los.

Noah ficou observando os dois, feliz pela presença deles.

- E as meninas? – Raul perguntou.

- Devem aparecer logo. Devem estar colocando as coisas em dia – meu pai falou.

- Mas, elas se encontraram ontem mesmo – riu.

- Pois é, não é? – meu pai riu novamente e deu de ombros.

Raul e Margarida eram vizinhos e amigos desde sempre, com a sede um pouco ao norte da cabana.

Além da ligação de cada sede com a rodovia que passava acima, havia uma outra estrada, de terra, que ligava as duas propriedades.

Noah suspirou, observando Ema com discrição.

Ela era linda, de um corpo que deixava os marmanjos desesperados, apesar de todos já terem aceitado que ela estava longe do alcance.

Ela era loira, dona de um corpo estonteante. Ela tinha as pernas bem torneadas e longilíneas, o corpo bem equilibrado e forte, talhado no esporte que adorava, que era o karatê. Os olhos eram de uma cor de mel, e quando sorria, todo mundo ficava admirado pela alegria que transmitia. Apesar de tudo...

Noah enxotou os pensamentos tristes que vinham à sua mente: gostaria que ela encontrasse alguém de bom coração, e que assim, completasse a felicidade que ela merecia, por tudo o que havia passado.

Noah suspirou novamente, rindo por dentro quando reviu algumas cenas de quando os dois treinavam juntos, ele com seu Aikidô e ela com seu karatê.

- Acho que vou deixar mais alguns prontos – a Ema decidiu. – Aposto que as duas vão chegar com fome – riu.

- Ainda mais em se tratando de peixe. Pegaram só tilápia, ou tem pacu também?

- Só tilápia, Jonas – disse.

- Muito bem também.

- E então, Ema. Empolgada?

- Essa menina está! – Raul deu uma risadinha. – Com o material que você mandou, Noah, a Ema até já começou uns esboços de capa.

Eu me voltei para a Ema, feliz ao saber que ela estava bem com isso. Eu tinha esperado alguma resistência dela quando ofereci a ela um emprego na “O Livreiro”, a pequena editora da família.

- É??? – perguntei com um largo sorriso. - Você não me contou.

- Eu ia fazer surpresa – sorriu. - Fiz alguns esboços para o livro do Nikolai – confirmou. – Depois te mostro. E quanto aos escritores, como estão as negociações?

- Quase lá, mas tenho certeza de que vamos conseguir fechar contrato com eles. Você deu uma olhada nos livros deles, na Amazon?

- Eu olhei, e até dei uma lida em alguns deles no kindle. Muito bons. Como já sabe, fiz alguns esboços para o do Nikolai, e tenho algumas ideias para os do Mikael.

- Que bom, Ema. Eu gostaria de dar uma olhada, se puder.

- Claro que sim. Depois eu te mostro. Ainda está em esboço, mas serve como ideia.

- Sem dúvida. Obrigado. Vai ser muito serviço, não vai? – ri.

- Vou adorar. O Mikael tem muitos livros, o que vai dar um pouco de trabalho, ainda mais que vou ter que ler todos para poder imaginar a capa correta. Já com o Nikolai vai ser mais tranquilo...

- Nem tanto, meu bem... – Jonas sorriu. - Vamos precisar de você também como revisora, de todos os livros.

- Revisora, Jonas? – ela olhou assustada para o meu pai.

- Sim... Vai dar tudo certo, Ema – a tranquilizei. - Você é ótima em português.

Ela me olhou, seus olhos sérios e pensativos.

- Mas por que não passa isso para as outras equipes? – perguntou, se voltando novamente para o meu pai. - Vocês têm as meninas e os garotos e...

- Nós estamos querendo aumentar nossa linha oficial. Sabe, o MEC... Então, até essa equipe pode se mostrar pequena.

- Entendi... – ela falou, se mostrando preocupada.

- Fofinha, se começar a parecer demais – eu intervim, - pomos uma equipe para você...

- Eu concordo com tudo isso, com uma observação, que já disse outras vezes – interveio o Raul por sua vez. – Só não pode descuidar do cursinho para o vestibular... A faculdade é prioritária.

- Eu sei, pai. Bem, temos que começar para ver, não é? – sorriu.

- Uma parceria e tanto... – Jonas sorriu alegre. – E vocês, para mim, escolheram os cursos certos. Noah em ‘Edição e Produção Editorial’ e você, minha querida, logo vai passar em ‘tradução’. São ótimas escolhas, e totalmente complementares. Estou empolgado com vocês na empresa.

- Bem, mas tem algo que estou me coçando para saber: e quanto a vocês montarem uma república para vocês dois? – Raul quis saber. – Estão quietos, não falam nada...

- Ah, já está mais que decidido. Nós vamos sim...

- Que bom... – Jonas sorriu satisfeito. – E já encontraram algum lugar?

- Eu já estou vendo isso, pai. Encontrei uma casinha nos fundos de uma outra casa, muito bem arrumadinha, quase no centro. Preço justo e de fácil acesso. Vou pegar as chaves se a Ema der o seu aval.

- Ora, Noah, como você vai alugar individualmente, e eu vou só de inquilina – sorriu, - então não precisa da minha opinião e... Ai... – ralhou com um sorriso quando a acertei com um grão de feijão.

- Temos um acordo, e é assim que vai ser. Se você não gostar, arrumo outro lugar, está certo?

Pelo canto dos olhos vi meu pai e Raul sorrindo satisfeitos.

- Pai... – Ema reclamou, olhando para o seu pai.

- Isso é entre vocês. Se virem... – riu, dando uma cotovelada em Jonas, que baixou a cabeça, sorrindo tranquilo.

- Está bem, está bem – Ema capitulou. – Vou ver... E vou pegar o quarto maior, e se tiver suíte eu fico com ela – riu.

- Não tem suíte – ri. – São apenas dois quartos, além de um quarto maior nos fundos, separado da casa, que podemos usar como escritório. Mas, como sou muito bonzinho – ri novamente, - vou deixar você escolher o seu.

- Chato – ela riu. – Quando quiser então, vamos ver...

- Amanhã, então...

- O que será amanhã? – perguntou Margarida entrando na cabana, trazendo a reboque a minha mãe.

Eu sorri, antecipadamente me divertindo com as duas.

A Margarida era muito afoita, agitada, alegre demais. Ela estava aposentada há quase seis meses como contadora de uma das maiores empresas de Itajubá. Ela era esbelta e de modos agitados. Porém, quase ficava séria, era comedida e controlada. Já minha mãe era alta e esguia, os modos suaves e muito controlados. Ela era uma mulher que impunha respeito e admiração só com sua presença. Ela já estava aposentada há quase um ano como professora de física na UNIFEI, a Universidade Federal de Itajubá.

- Vamos ver a república amanhã – contei. - Ver se a Ema aprova. Se aprovar, já pego as chaves amanhã mesmo.

- Que bom, que bom. Não é bom, Catarina? Viu só, eu falei que ia dar certo.

- É ótimo mesmo – minha mãe riu, indo rapidamente conferir o que estava sendo preparado para o almoço.