Uma tempestade voraz se estende por todo o horizonte, despejando suas lágrimas sobre o majestoso "Grande Lago Esmeralda", um oásis que, ao contrário do solo árido do restante de Desolária — um reino onde a própria terra parece repelir a vida, com solo coberto por uma mistura de areia e rochas desgastadas — emana vida de forma exuberante. Árvores de um verde profundo erguem-se em todas as direções, e o som dos pássaros, persistindo mesmo sob a chuva noturna, não se silencia.
O aroma de terra molhada abraça todo o local, como se a própria essência da natureza estivesse impregnada em cada grama e pedra, revelando uma sinfonia olfativa única que eleva a experiência da tempestade sobre o "Grande Lago Esmeralda" a um patamar sensorial sublime.
Todos os animais presentes sentem-se acalmados com o cheiro terroso, desde os pássaros, macacos e cobras, até um em especial — um ser que caminha lentamente sobre duas patas em uma pequena trilha que serpenteia entre as árvores.
Esse ser é o tal homem, temido por todos os seres que não tiveram a sorte de serem abençoados por Deus com o dom da sapiência, pois carrega consigo o fardo da consciência que transcende a simples existência.
Entre os homens, esse parece ser ainda mais temido, pois mesmo jovem, carrega consigo a alcunha de "Demônio Branco". Para se abrigar da chuva, ele envolve-se em uma longa capa escura, ocultando sob ela seu cabelo branco e desgrenhado, talvez a principal razão para seu apelido. Ele avança vagarosamente, apenas contemplando o som da chuva a ecoar sobre o solo, as árvores e em sua própria capa.
No horizonte, à frente do viajante que avança com passos calculados, o sol desperta, derramando sua luz sobre cada centímetro da paisagem. O homem é surpreendido novamente pela natureza, erguendo sua mão esquerda para resguardar os olhos fatigados dos raios solares que insistem em perturbar. A chuva cessou, as nuvens, outrora sombrias, cederam espaço a um céu azul e sereno.
Os pássaros intensificaram sua sinfonia melodiosa, os macacos entoaram seus gritos jubilosos, e o homem persistia em sua jornada. A cada passo, as robustas botas de couro e ferro do viajante absorviam mais sujeira, mas isso não o perturbava. Ele prosseguia com seu olhar fatigado e respiração plácida, aproximando-se de duas imponentes árvores que devoravam a estreita trilha por onde ele seguia.
Ele varreu seu olhar por todos os lados, investigando sob as raízes das árvores, a poça de lama à frente, ao redor dos troncos, o matagal ao lado e as copas das árvores. Num instante imprevisto, um suspiro profundo escapou-lhe.
O jovem ágil prontamente dirigiu a mão direita ao punho de sua espada, posicionada no lado esquerdo de sua cintura. Sem titubear, retirou-a com destreza, segurando-a firme com ambas as mãos.
Seus ouvidos aguçados captaram um som agudo emanando de uma das copas das árvores, levando o jovem a recuar decididamente com sua perna esquerda. Seu olhar se fixou na origem do ruído, percebendo, então, que uma flecha se aproximava em sua direção.
Ele deslocou-se velozmente, executando um golpe ágil com sua espada que logrou dividir a flecha ao meio. Seus dentes rangeram com mais ferocidade do que os de um lobo solitário e selvagem, enquanto seu olhar, outrora sereno, agora se desvelava repleto de um profundo e visceral ódio.
O jovem homem foi subitamente envolto pela surpresa; seus olhos percorreram mais uma vez os arredores, e notou com assombro: das poças de lama, surgiram dois homens, cujas vestes evocavam a imagem de soldados destemidos; dos matagais, emergiram cinco sombras, cada uma portando a aura de guerreiros ocultos; e dos troncos de árvores à sua frente, saíram três figuras, habilmente camufladas pela natureza circundante.
Eles apontaram suas espadas e flechas na direção do jovem homem; todos estavam atentos aos movimentos do rapaz. Um dos soldados, que se encontrava dentro do matagal, deu alguns passos lentos para frente e, com cautela, falou.
— Alto! — ordenou ele, brandindo sua espada com destreza. — Quem sois vós e qual o vosso intento?
O jovem homem soltou um leve bufar, buscando acalmar-se, o que provocou um leve sobressalto entre os soldados. Com gestos calculados, ele ergueu sua mão direita em direção ao capuz de couro que cobria sua cabeça, retirando-o vagarosamente e revelando os cabelos brancos aos soldados.
— Kam é o meu nome. Estou apenas explorando a bela região desse lugar, em busca de algo que me interesse. — disse ele, mantendo um tom sereno, mas sem revelar detalhes desnecessários para aqueles desconhecidos.
O soldado que o havia abordado recuou ligeiramente, seus olhos castanhos perscrutando os fios brancos que adornavam a cabeça do jovem.
— Kam, huh? — murmurou o soldado, abaixando lentamente sua espada. — Estás só, kam?
O "Demônio Branco" manteve-se sereno diante da pergunta do soldado, abaixando sua espada com calma.
— Sim, estou sozinho. Caminho apenas eu e minha espada — respondeu Kam, permitindo que um leve sorriso se manifestasse, mas sem desviar sua atenção dos soldados ao redor.
A atmosfera tensa que pairava há pouco foi amenizada, porém, persistia, transformando-se apenas em uma névoa sutil. Os soldados ao redor concordaram em silêncio, alguns abaixando até mesmo suas armas. Outro guerreiro, ao lado daquele que acabara de falar, avançou alguns passos e proferiu algumas palavras.
— Kam... "Demônio Branco", não é? — ecoou o soldado, sua voz mesclando reconhecimento e cautela. — O ruivo fez menção a você; ele aguarda sua presença.
Kam conservou sua concentração no soldado que mencionou "O Ruivo", ponderando cada palavra antes de responder. Sua expressão permaneceu inalterada, revelando apenas um sutil lampejo de curiosidade nos olhos castanhos.
— Então, vocês fazem parte do bando dele? O que me garante isso? — perguntou Kam, voltando a erguer sua espada na direção do soldado à sua frente. — O que me garante que vocês não são apenas um bando de ladrões quaisquer?
Os soldados trocaram olhares, desaprovando as palavras de Kam. Aquele que havia se manifestado primeiro cerrou os dentes e, ao pisar firmemente com o pé esquerdo, apontou sua espada na direção do "Demônio Branco".
— Huh? Não vê o Brasão no peito esquerdo de nossas armaduras? Claro que fazemos parte do bando do ruivo! — afirmou o soldado, seu indicador direito apontando para o brasão enquanto exibia um sorriso marcado por uma mescla de alegria e raiva. — É um grande insulto sua desconfiança sobre nós.
This story originates from Royal Road. Ensure the author gets the support they deserve by reading it there.
Kam não tinha percebido esse detalhe; estava tão concentrado em observar as armas deles que acabou por negligenciar os trajes. Seu olhar fixou-se no peito do soldado de sorriso amargo, e ali pôde observar, por alguns segundos, o brasão meticulosamente desenhado em sua armadura.
“Dragões de prata?”, pensou Kam, lançando um olhar de ceticismo sobre aquele brasão.
Seu brasão é amplamente reconhecido pela maioria dos reinos existentes: apresenta cinco dragões de cor prata, com um escudo no centro adornado por um símbolo vermelho.
"Dragões de Prata" é o título concedido ao grupo de mercenários que surgiu há cinco anos. A maioria das narrativas sobre os "Dragões de Prata" insinua que esse grupo teve origem no reino de Thalassar, renomado por seus extensos litorais e diversos biomas, que se estendem desde a "Duna de Jó" até as imponentes "Serras Gigantes".
Dizem que o "Ruivo" fundou esse bando para buscar vingança contra o rei de "Thalassar" e seus nobres. Também contam que, após concluir sua vingança, o grupo de mercenários continuou crescendo em número e força, a ponto de se dividir em dois grupos distintos.
— Então me levem até ele, darei um voto de confiança a vocês — disse Kam, guardando sua espada na bainha. — Quando eu o conheci, ele não estava com esse brasão no peito.
Kam recolheu sua espada abruptamente, considerando a possibilidade de confiar na palavra daqueles soldados, embora não houvesse identificação discernível nos uniformes do ruivo e de seus camaradas desde dois dias atrás.
Gradualmente, os soldados baixaram suas espadas. Aquele que se aproximou de Kam deu um passo adicional com prudência antes de se expressar.
— Em certas missões, abstemo-nos do uso de nossos brasões para evitar sermos reconhecidos por qualquer um dos reinos em conflito — explicou ele —, essa precaução nos possibilita, talvez num futuro próximo, colaborar com o lado oposto e, consequentemente, obter recompensas mais substanciais.
A explicação concisa do soldado de alguma forma fez sentido para Kam.
— Avance por alguns metros além e adentrará o acampamento — instruiu o soldado, estendendo o indicador, seu olhar impassível refletindo autoridade. — Um guerreiro te guiará até a cabana do Ruivo...
— Por que acredita que eu sou o mesmo cara que seu líder está esperando? — perguntou Kam, observando o local que ele seguirá.
O soldado ponderou a indagação de Kam, desenhando um sorriso despreocupado em seguida.
— Poucos homens de cabelos alvos ousam cruzar este território — proferiu ele, tocando o cabo da espada agora repousada. — E caso não seja quem nosso líder aguarda, duvido que sobreviveria ao enfrentar todos que estão lá dentro.
Kam contemplou a reação do soldado, seus olhos capturando o indício de confiança que transparecia. Um sorriso sutil e astuto dançou em seus lábios, revelando o prazer de testemunhar a autoconfiança do guerreiro.
O Demônio Branco começou a avançar, e um dos soldados que o cercavam acompanhou-o em seu passo.
Os soldados, após a partida de Kam, recolheram-se novamente na exuberância da natureza. Ali, nenhum parecia desprovido de sagacidade ou vigor; ao contrário, revelavam-se como hábeis guardiões do acampamento, envoltos em sua destreza e experiência.
Kam e o soldado avançaram pelos entrelaçados caminhos da floresta por algum tempo. Kam seguia ao lado do soldado, ligeiramente atrás, consciente de sua falta de conhecimento sobre os intrincados percursos daquele ambiente.
Os dois, após uma jornada em silêncio, alcançaram o acampamento. Kam logo avistou, erguida em um mastro de quase sete metros, uma bandeira onde tremulava o brasão dos "Dragões de Patra". Por trás dela, estendiam-se tendas de pano sujo, dispersas por uma paisagem árida, desprovida de árvores. Junto às cabanas, espirais de fumaça se elevavam, impregnando o ar com o inconfundível odor de madeira queimada, perceptível aos dois mercenários.
Adentraram então no acampamento, percorrendo as largas ruas de terra improvisadas, que surpreendentemente ofereciam espaço suficiente para acomodar o vaivém das atividades. Pelas ruas, avistaram diversos mercenários do bando, observados com cautela por Kam, que notou a diversidade impressionante entre eles. Havia homens de estaturas variadas, alguns altos, outros baixos, alguns robustos, outros esguios, criando uma mistura tão heterogênea quanto intrigante.
Notou também alguns deitados em redes, entregues aparentemente ao sono tranquilo, enquanto outros se dedicavam a cortar lenha com machados afiados. Alguns engajavam-se em treinamentos vigorosos, empunhando espadas de madeira contra troncos ou desafiando-se mutuamente em duelos simulados entre mercenários. O acampamento pulsava com uma energia dinâmica, onde cada gesto e atividade contribuem para a tapeçaria viva da vida mercenária.
Finalmente, alcançaram o que aparentava ser o epicentro do acampamento. Diante deles, erguia-se uma tenda branca e majestosa. O jovem homem observou o local atentamente, presumindo de imediato que se tratava da tenda do Ruivo.
— Avancemos! — exortou o soldado ao ouvir Kam, com uma voz potente e grave.
Próximo à tenda, Kam avistou dois soldados que guardavam a "Porta de Entrada". O soldado ao lado de Kam aproximou-se deles e proferiu: — Permitam minha passagem; necessito comunicar algo ao Ruivo. Sou Bell e integro...
— Entra logo, eu sei quem tu é — falou o soldado que guardava a “Porta de entrada” da tenda, interrompendo o que o outro soldado iria falar.
Bell respirou profundamente, irradiando um olhar de desdém. Voltando-se para Kam, estendeu sua mão esquerda com a palma aberta em sua direção.
— Aguarde aqui! Eu informarei ao Ruivo sobre sua chegada — declarou, virando-se e adentrando a tenda imediatamente.
"Um minuto se passou, e ele ainda não apareceu", refletiu Kam, revirando os olhos.
— E ai! Novato? — perguntou um dos soldados que guardavam o local, emanando um sorriso despreocupado.
Kam dirigiu-lhe o olhar e, em seguida, balançou a cabeça em sinal de confirmação.
— Sim! Me falaram que o salário daqui é bom — falou Kam, mantendo tranquilidade.
— Não sei se é bom, mas creio que é o suficiente — respondeu ele, balançando a cabeça e ainda sorrindo.
O soldado ao lado bateu com força o pé no chão, o bastante para silenciar ambos instantaneamente.
Após mais alguns minutos, a tenda finalmente cedeu espaço para a saída do soldado Bell. Imediatamente, ele prestou continência, alinhando os pés, recuando os ombros e mantendo uma postura ereta. Com maestria, levou a mão direita até a borda do elmo que adornava sua cabeça. Os demais observaram atentamente a conduta de seu companheiro e seguiram-lhe o exemplo, reproduzindo a postura com precisão.
De dentro da tenda surgiu o homem ruivo, trajando uma imponente armadura de metal prateado, ostentando o brasão de seu grupo no peito esquerdo. Duas espadas pendiam elegantemente de cada lado de sua cintura. Seus cabelos vermelhos e a barba por fazer eram características marcantes o bastante para Kam ter a certeza de que estava no local adequado; era o mesmo indivíduo com quem havia conversado há dois dias.
— Relaxem, rapazes. Não precisam ficar nessa pose rígida toda vez que dou as caras — comentou o Ruivo, gesticulando com as mãos para que os soldados se sentissem mais à vontade.
O ruivo então se virou na direção de Kam, impondo um silêncio perturbador por um breve momento antes de proferir suas palavras, sua voz ecoando com a calma característica, enquanto um sorriso sutil repousava em seus lábios.
— Ah, finalmente apareceu, hein? Cheguei a pensar que o Demônio Branco tinha desistido da diversão e da boa companhia — provocou o Ruivo, lançando um olhar divertido enquanto olhava para Kam.
Correção: Cinco dragões prateados, três grandes e dois pequenos, os três grandes estão se encarando, um deles está de costas em sua visão. Os dois pequenos estão de costas um para o outro, duas espadas de prata estão ao lado desses dragões. Um escudo da mesma cor está nas costas do maior dos três dragões, no centro desse escudo há um símbolo rúnico na cor vermelha. Outros símbolos vermelhos flutuam ao redor dos cinco dragões. [https://docs.google.com/document/d/14RkVDKLYs8ePXHu7RfzvlGKdJn58dY2_8MQXGpY7zig/edit?usp=sharing]