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Estrada sangrenta [Português]
Capítulo 001: Primeiros Passos.

Capítulo 001: Primeiros Passos.

Na escuridão da noite profunda,

Demônios habitam em silêncio,

Esperando que seu rei renasça,

Da vingança, ódio e dor,

Para enfim, lutar contra o exército

Do Criador…

****

Sob uma chuva noturna, poderosa e escandalosa, uma mulher de cabelos vermelhos esvoaçantes ecoa gritos de agonia, enquanto mergulhava em um trabalho de parto angustiante sob a imponente copa de um carvalho.

Ao redor, um homem de cabelos brancos, cuja forma corporal se revela sob as vestes velhas e molhadas e coladas ao corpo. Em sua mão, segura uma espada prateada, de aparência antiga, cheia de ferrugem e trincados.

Faíscas saem da lâmina desta espada, sinalizando um confronto feroz contra uma abominação gigante. Uma abominação de quase cinco metros, repleta de verrugas e pus jorrando de todos os lados, com braços e pernas cobertos por gosma, e um rosto infestado de vermes que saem e se entrelaçam na carne.

Ao lado da mulher, uma criança de cabelos vermelhos derrama lágrimas de paz, perdida na incompreensão do que está diante de seus olhos. Suas vestes simples se fundiram com o sangue de sua mãe.

Enquanto o homem sofre uma série de golpes gastos na criatura bestial, ela fixa um de seus vários olhos no sangue que jorra da mulher. Em um estado de exaustão crescente, o homem mal consegue atingir sua velocidade máxima, a criatura percebe a fraqueza de seu oponente. Em um movimento rápido e furtivo, uma das garras horrendas penetra impiedosamente no peito do homem.

O homem exalou um suspiro de medo e agonia ao sentir a garra do monstro trespassar sua carne. Uma quantidade específica de vida se escapou pelos lábios e pelo ferimento da vítima, que, em choque, partiu com a iminência do fim de sua vida. Seu semblante se desloca lentamente para o lado, fixando um dos olhos — embebidos em lágrimas — na mulher, cujos gritos tornam-se mais fracos.

- Me desculpe…

Antes que o homem pudesse terminar de falar seu último pedido, seu corpo experimentou uma distensão grotesca, e com um estrondo que ecoava de forma semelhante ao de um trovão, a carne em vários fragmentos explodiu. Um enxame de larvas, em um macabro acompanhamento aos pedaços de carne, irrompeu em um voo perturbador.

No momento exato, o choro de um bebê ressoou pelos arredores. A mulher, enfim, deu à luz ao seu novo filho. O jovem de cabelos ruivos se prontificou a cortar o cordão umbilical e entregar o seu irmão para a mãe, enquanto se posicionava à frente deles, tentando entendê-los.

A sinistra monstruosidade proferiu um riso nefasto diante da cena bem à sua frente. Movendo-se em passos lentos, avançou na direção do jovem, cujas soluções e tremores aumentaram. No entanto, algo inesperado aconteceu: um lampejo ínfimo de uma chama brotou no nariz do menino. Tal chama, mesmo sob a chuva, decidiu-se a se extinguir; ao contrário, brilhava cada vez mais intensamente, envolvendo-o por completo. O monstruoso recuou para trás, emanando um olhar orgulhoso, como se estivesse esperando que algo assim acontecesse.

A chama se alastrou desenfreada por toda a extensão do centenário carvalho e pelos corpos da mãe e do irmão do garoto. O menino, agora impulsionado por uma energia que ele mesmo não compreende, voltou-se aos braços da mãe, apertando-a com um abraço forte, buscando proteção mútua. E então, em uma grande explosão de chamas, como se nunca tivessem estado ali, os três desapareceram, deixando para trás apenas a árvore queimada.

O monstro solta um sorriso, atrás dele, no meio da escuridão, dois olhos de fogo se formam. A criatura percebe isso, então fala:

— Concluído!

****

Em uma igreja no meio de um grande campo verde, rodeado por várias árvores bétulas e ao lado da igreja, uma árvore de carvalho reina como a mais alta. Nessa árvore, as chamadas se formam, fazendo o garoto ruivo, sua mãe e seu irmão aparecerem. Como a primeira árvore, este pé de carvalho também fica queimado. As chamas também se apagaram dos corpos dos três. Abraçados, a mulher ruiva olha para seu filho mais velho e, em um breve momento, fala:

— Cuide de seu irmão, Urion...

O corpo da mulher havia perdido muito sangue, e o medo de que se sentisse piorou ainda mais a situação.

O jovem rapaz parecia mergulhado em confusão diante das palavras proferidas pela ruiva. Contudo, a gravidade da situação começou a se manifestar de maneira implacável: o fechar dos olhos da mãe e o aprofundamento de sua palidez. A perda iminente se desenhava diante dele, catalisando um pranto desesperado e a sensação avassaladora de impotência. O irmão, anteriormente adorado, despertou e juntou-se ao coro de lágrimas e lamentos.

— Mesmo sabendo do que aconteceu, os membros da paróquia, de alguma forma, ainda encontrarão compaixão para acolher-vos.

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O tempo se estendeu em um compasso agoniante. O jovem de cabelos ruivos relutava em se afastar de sua mãe, mesmo que a inevitabilidade do momento se abrisse diante de seus olhos. Aos poucos, os olhos maternos se cerraram, selando um capítulo irreversível.

Horas transcorreram, lentas e dolorosas, até que finalmente um homem trajando uma batina preta se mudou do grupo. A voz do estranho, serena e obscura como a própria noite, corta o silêncio angustiante.

— Não permitam que o medo os subjugue, pois fui testemunha do ocorrido e declaro a vocês: estou disposto a oferecer ajuda em suas jornadas. Um enterro simples foi feito para ela.

****

A partir daquele dia fatídico, Urion levou uma flor de cravo branco para o túmulo de sua mãe, um símbolo carregado de significado. Enquanto isso, seu irmão foi nomeado "Kam", uma homenagem ao local onde viera ao mundo, em meio aos campos. Diferente de seu irmão, Kam obteve cabelos brancos iguais ao seu pai.

O zeloso padre cuidou dos dois irmãos com dedicação incansável. À medida que os anos avançavam, eles foram instruídos nas artes da leitura, escrita e manejo das espadas. Quando Kam atingiu a idade de seis anos, o venerável padre que os havia guiado até então, sucumbiu à passagem implacável do tempo. Em seu lugar, chegou um jovem sacerdote como substituto, enviado pela igreja de uma cidade vizinha.

Durante um árduo ano, os dois, Kam e Urion, foram submetidos a trabalhos extenuantes nos campos. Chicotes cruéis encontravam frequentemente o caminho até suas costas, tornando-se um lembrete doloroso da opressão que enfrentavam diariamente. A quietude da comunidade foi rompida quando as mulheres que outrara viviam ali pacificamente começaram a desaparecer, mergulhando o local em um abismo de inquietação. O corpo dos irmãos logo se tornou um testemunho visual de sua tormenta, marcada por inúmeras cicatrizes.

Em uma noite de chuva intensa, enquanto o tamborilar da água no telhado preenchia o ambiente, os dois irmãos jaziam em suas camas de palha em um quarto iluminado apenas por uma iluminação a óleo. Os corpos exauridos pelas agruras do dia de trabalho gemiam de dor mesmo nos recantos do sono — ecoando uma sinfonia sombria de sofrimento.

Como um rugido de trovão, dois estranhos adentraram o aposento, seus passos ressoando com uma aura de ameaça iminente. A porta, robusta até então, foi violentamente destruída por um chute poderoso, explodindo em fragmentos pelo recinto. Vestidos em armaduras prateadas, os intrusos se dirigiram com determinação até Urion, suas presenças exalando uma autoridade sinistra.

Num movimento brusco, agarraram-no e o arrancaram à força do interior do quarto. Kam, soldados abruptamente acordados, lançaram-se contra aqueles desconhecidos com um ímpeto de desespero, mas as forças do destino conspiraram contra ele. Seus esforços resultaram em mera impotência enquanto observava, impotente, seu irmão ser arrastado por um corredor sombrio que conduzia a um porão oculto na igreja. Ali, os dois irmãos se separaram, uma lacuna desoladora se abriu entre eles.

Kam, determinou a reverter a cruel separação, descarregou socos e chutes na porta do porão, um clamor de fúria e angústia ecoando em suas ações. Entretanto, luzes rubras e âmbar se insinuaram por entre as frestas daquela abertura. Estas luzes, em sua dança etérea, desferiram um golpe derradeiro sobre Kam, derrubando-o ao chão em um lampejo desconcertante.

Quando finalmente a porta se escancarou, a figura do homem que outrara cuidara dos irmãos, emergiu das sombras internas. Seus olhos prateados irradiavam um brilho intenso, enquanto um sorriso macabro se manifestava em seu rosto descorado.

— Concluído…

Desde aquele dia, Kam nunca mais viu seu irmão. Ele nunca ousou perguntar, mas uma única vez, sua curiosidade o fez adentrar no porão, porém nada além de móveis de madeira foram encontrados…

****

Os anos se arrastaram implacavelmente, deixando um rastro de desolação na vida de Kam após a separação de seu irmão. As condições se agravaram, as ações se multiplicaram, os golpes do chicote se tornaram mais cruéis e as noites, já vazias, mergulharam ainda mais na solidão. As mulheres, uma vez serenas na comunidade da igreja, acompanharam a desvanecer misteriosamente, e o prato de Kam continuou a ser servido com fragmentos sinistros de carne.

Ao atingir seus dez anos, Kam foi vendido a um homem cujo destino havia se entrelaçado com o cenário obscuro daquela igreja. Preso em correntes, ele embarcou em uma jornada que se estendeu por dois dias, até chegar a uma fazenda imponente, onde o novo proprietário residia.

Uma vastidão de terras se estendia perante ele, abrigando uma mansão imponente. Kam foi obrigado a mergulhar na dura realidade do trabalho rural, engajando-se em tarefas como capinar, plantar e erigir cercas. Nos primeiros meses, ele se tornou alvo da ira de um capataz impiedoso, mas quando Kam finalmente virou o jogo, vencendo o capataz em uma batalha árdua, chamou a atenção de seu senhor, que revelou ser um general de um exército real. No segundo ano, ele foi escolhido para integrar as fileiras dos campos de batalha.

Naquele cenário brutal, Kam degustou a amarga essência da morte, empunhando uma espada que cravou-se nas costas de um soldado inimigo. Com o tempo, ele se tornou uma engrenagem da máquina de guerra, recarregando flechas para seu mestre e fornecendo lançamentos aos soldados.

A cada batalha, ele mergulhava na Voagem sangrenta, empunhando sua lâmina para furar carne humana. O princípio, a violência o diminuiu de seu próprio desconforto e o fez saborear a sensação de poder. No entanto, essa ilusão sombria estava prestes a ser fragmentada, pois...

Com seus quatorze anos, seu corpo já havia superado o tamanho de homens adultos, soldados musculosos, e isso impressionou seu dono, que fez algo profundamente. Ele mandou vários homens prenderem Kam dentro de um celeiro vazio em uma noite de lua nova.

Por meses os homens que trabalharam na fazenda se perguntaram todos o que tinha acontecido naquela noite, muitos teorizam, afinal, nunca algo assim tinha acontecido, mas o que sabiam era que Kam, havia se tornado ainda mais fechado com todos e nenhuma palavra voltou a dizer…

****

As lembranças do incidente continuaram a atormentar Kam, o vômito se tornou uma rotina. Mesmo depois de um ano, o rancor persistia.

Uma noite de lua nova trouxe mercenários à fazenda. Poucos soldados do general moravam ali, e a surpresa os diziamou. Kam e seu mestre restauraram, de costas uma para o outro.

Num terreno arenoso próximo, as chamadas dançavam enquanto soldados em armaduras negras, rostos ocultos, cercavam Kam e seu mestre com espadas erguidas.

Um dos vários soldados do local olha para Kam.

— Você parece ser forte, tem certeza de que quer morrer por esse velho? — disse o soldado, abaixando a ponta da espada.

O general olha para Kam.

— Se você deixar eles em nossas mãos, prometemos te dar uma boa quantidade de moedas e te deixamos ir embora daqui — afirma o soldado.

O general tenta subornar Kam, mas o menino de cabelos brancos aparentemente já foi escolhido o que fazer. Os mercenários abriram caminho, e Kam saiu correndo de lá. Um dos soldados de preto joga uma bolsa pequena com algumas moedas, e Kam dispara em direção ao celeiro, saindo de lá montado em um cavalo.

Antes de desaparecer na escuridão, ele olha para trás e lá vê — agora seu ex-dono — o geral sendo consumido pelo fogo.

*****

Um zumbido agudo rasgou o ar, rompendo uma breve escuridão. Rapidamente, as sombras se dissiparam, revelando um campo de batalha estéril que se estendia diante dos olhos. Na vastidão do horizonte, uma miríade de figuras humanas emergiu, cada uma distinta em tamanho e aparência, empunhando uma variada gama de armas: espadas reluzentes, bestas prontas para disparar, lanças longas como raios, machados com lâminas cruzadas, escudos robustos e foices de curvas ameaçadoras.

As silhuetas vestiam-se em armaduras de placas imponentes ou cotas de malha que cintilavam com cada movimento. Entre eles, alguns se erguiam sobre cavalos majestosos, enquanto outros dirigiam carrosças improvisadas como plataformas móveis. O som penetrante revelou-se como o assobio de uma flecha de aço, que cessou abruptamente ao encontrar a cabeça de um homem enclausurado em um elmo de ferro.

O líquido rubro irrompeu em uma explosão cromática, pintando o cenário e alcançando até mesmo um indivíduo de palidez notável. Seus cabelos longos, brancos e altos fluíam como um rio congelado, descendo até a metade de sua testa.

Seu corpo robusto estava resguardado por uma armadura de couro, firmemente ajustada em suas extremidades. Este homem imponente atende pelo nome de Kam, suas mãos firmemente envoltas em torno do cabo de uma espada de duas mãos.

Uma súbita orientação de sua expressão revelou a presença de outro indivíduo, de estatura modesta, liberando gritos abafados pela cacofonia ensurdecedora do campo de batalha. Um intenso olhar de compreensão passou entre os dois, levando Kam a redirecionar seu foco para o turbilhão de caos que se desenrolava à sua frente: os lamentos angustiados ecoando, o estrondo metálico das espadas se chocando e o ecoar dos cascos dos cavalos em meio ao pandemônio .

— O que você precisa? — interpelou Kam com uma franqueza penetrante, gradualmente emergindo de seu torpor.

— O QUE EU PRECISO? Eu preciso que você entre na luta! Nossas fileiras imploram pela sua presença! O que você acha que está fazendo?

— Eu estava apenas relembrando algumas coisas...

— AQUI NÃO É O MOMENTO PARA ISSO! É UM CAMPO DE BATALHA.

Kam deixou escapar um sorriso malicioso, estendendo-o de orelha a orelha. Com um ímpeto audacioso, ele avançou na direção ao monte de soldados no campo de batalha.

— Eu sei disso...

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