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Insolúvel

- Eu... - Ichika estava começando a contorcer os dedos quando finalizou a mentira - Eu estava caminhando.

- Meia noite e meia?- Rebateu Scarllet ao ajustar o coque.

- Não é todo mundo consegue dormir - Ela seguiria em frente se ela realmente tivesse ido caminhar, mas era só uma mentirinha - E você? Está na mesma situação que eu, o que houve?

- A Riley... - a respiração de Scarllet estava começando a ficar mais pesada, Ichika observou isso - Ela tá dando uma de engraçadinha, já era pra ela estar em casa!

- Mas ainda é meia noite, tipo? Quem volta meia noite de uma festa?- argumentou Ichika, na ultima festa que ela foi, à meia noite, a festa ainda estava começando.

- A questão é que eu a conheço, sem contar que ela me mandou muitos áudios, me pedindo pra buscar em um lugar, dai eu ia e ela não estava, e já em seguida pedia para me buscar em outro lugar - ela estava começando a ficar trêmula, Ichika concluiu que poderia ser de frio, ela estava apenas de shortinho com uma blusa de cetim- e na maior parte dos áudios ela estava com aquela voz de embriagues... tenho medo de que ela faça alguma merda.

As duas se entreolhavam, Ichika não queria se intrometer, e Scarllet estava tão pasma com Riley que a todo o momento seu olhar variava entre a rua e a esquina atrás delas, a boca de ichika estava começando a ficar seca, ela queria ajudar Scarllet, mas ela não sabia o que fazer, e no meio de toda essa desordem nos pensamentos alguém a telefona. Mais que depressa, Scarllet revira os bolsos em busca do celular, que na identificação estava "Riri❤️" e com isso ela já sabia que sua tentativa de pergunta havia ido embora, Scarllet atende, e suas mão tremem assim como seus lábios.

- RILEY! - grita como se Riley estivesse a quadras de distância.

- oi? - Pergunta uma voz do outro lado da linha, e logo depois vem vários barulhos de coisas diversas. - EU NÃO SOU A RILEY NÃO - responde a voz, obviamente bêbada pelo tom.

- PARA DE BANCAR A ENGRAÇADINHA RILEY EU SEI QUE É VOCÊ, ANDA! - Scarllet estava quase quebrando o celular com as mãos.

- AHHH, é a Scarllet né? - isso a fez revirar os olhos, segundos de conversa para ela perceber quem era.

- Sim, sou eu, agora vamos Riley, pelo amor de Deus me fala - Suspira por pouco tempo - Aonde você ESTÁ!

- Eu sou a Rebecca, amiga da Riley - responde a voz, Scarllet arregalou os olhos, certamente estava com tantas perguntas que pelo visto essa Rebecca teria que responder.

- E então quem estava me mandando as localizações? - o nervosismo era absurdo, suas unhas estavam começando a serem mordiscadas pela própria dona, que variava entre passar a mão do rosto e trocar o celular de mãos.

- Era ela mesmo, talvez, porquê sempre que a gente chegava em um lugar diferente, ela ficava no celular por alguns minutos e depois logo pedia pra gente ir pra outro lugar - A ligação estava horrível, era de um chiado atordoante que faria qualquer um perder a paciência se fosse uma ligação normal.

- E vocês estão aonde agora? - Enquanto esperava a resposta, Scarllet começou a observar outra coisa: sua bateria estava acabando - Caralho, cinco por cento!

- Quer ligar pelo meu celular? - interveio Ichika, com ele já em mãos e desbloqueado, apesar de ter setenta e cinco por cento de bateria, era o suficiente para continuar a ligação.

- Rebecca, eu vou ligar pra você de um número diferente, É PARA ATENDER OK? - berrou ela enquanto digitava o número no celular de Ichika.

Ela discou e observou seu celular rapidamente se esvair de bateria, enquanto esperava a tal da Rebecca atender, ela demorou um pouco mas atendeu as recomendações, agora com um sinal um pouco melhor dava para escutá-la com perfeição.

- Aonde você está agora? - Indagou mais uma vez a ela.

- Estamos perto daquele parque em frente a escola Okamisawa - aquele era o parque mais perigoso de Aomori "Belo lugar pra uma loira gringa e burra se meter" pensou Ichika consigo, Scarllet a lançou um olhar de espanto, ela não sabia aonde ficava aquele lugar, mas Ichika sim.

- Não deixem ela sair daí - ordenou ela, enquanto pegava a chave que abria a garagem.

- Ela não vai, arranjou briga com a Kiyumi - Scarllet não fazia a menor ideia de quem era Kiyumi, por outro lado, Ichika ficou branca como giz, só não sabia quem era, como, sabia que era uma das maiores traficantes de Aomori.

- Mitsue Kiyumi vai acabar matando ela! - Gritou Ichika, Scarllet se arrepiou no auge da situação, ela não sabia se desligava a ligação, se ia pegar sua moto ou se dizia alguma coisa para a outra pessoa.

- Segura ela ai, até eu chegar - ela havia desligado a ligação, não adiantaria nada ela ficar ali, não resolveria o problema, ela tirou sua moto da garagem, mesmo que a situação estivesse instável Ichika não deixou de notar a R1 de Scarllet, era uma moto bonita, pelo visto, bem diferente do dia da ponte, provavelmente aquela era de Riley, mas era o tipo de motor que estava sumindo fazia um bom tempo, era praticamente da cor original de vendas, vermelha e branca, trabalhada nas latarias, e com alguns adesivos ingleses e americanos, tinha até uma big apple. Enquanto Scarllet fechava a garagem Ichika já estava praticamente montada na moto.

- Bem, acho que eu vou dirigir Ichika... - Ela não havia respondido nada, logo que virou o rosto para Scarllet deu partida na moto.

- Deixa eu dirigir, sei onde é - Scarllet parou de argumentar, e logo estava em cima da moto, que de súbito, disparou.

A sensação de ter os braços de Scarllet ao redor de sua cintura era tudo o que era queria sentir, mas forçava-se a esquecer os arrepios que ela causou, seus cabelos estavam ao vento, podia vê-los pelo retrovisor eles se ondulando, pretos que acabavam absorvendo a cor amarela dos postes, as ruas estavam vazias, só dava para escutar o ronco da moto, que atravessava a cidade como um raio vermelho, ela jurava que a qualquer minuto a polícia apareceria e a prenderia, ambas estavam sem capacete, e ela só notara aquilo agora, que lhe faltavam cerca de uns quarteirões para chegar naquele maldito parque.

✦✧✦

- Você parece aquelas lutadoras de sumô, é gorda igual! - Berrava Riley para Mitsue, que estava encostava em uma árvore, com cerca de doze pessoas de gêneros variáveis ao seu redor.

- Bate nela porra! - gritou um de seus capangas que já estava de punhos cerrados. Ao ver que ela não se moveu nem um milímetro ela logo se antecipou - EU VOU LÁ!

- Eu não vou me rebaixar no nível dela, e não sinta uma dor que nem é sua, fique aonde está, que poupará seu tempo - murmurou Mitsue enquanto dava outra golada em seu saquê, realmente, no estado em que Riley estava era de se constranger, não falava nada com nada, ela praticamente gritava ao falar e havia perdido todo o equilíbrio, ela estava a um bom tempo à provocando com insultos e brincadeiras.

- Me rebaixar no seu nível né? - aquilo havia saído tão errado que ela mesma teve que corrigir, ela estava misturando o inglês com o japonês que era patético de se ver - Se acha que é perca de tempo brigar comigo então vem caralho!

- Eu não gosto de gente americana - rebateu ela enquanto ajeitava as costas na árvore.

- E eu não gosto de banha! - Berrou de volta. Aquilo realmente mexeu com ela que se pôs de pé, ao ver essa atitude ela ainda continuou - Vish, ela consegue se levantar sem um guindaste! Tá explicado porquê tem tantos ajudantes, agora eu entendi, pra levantar essa tonelada ai!

- Eu vou acabar com você garota, já me irritou o bastante! - disse largando a garrafa de lado e caminhando em direção a ela. Seu amontoado de gente a seguiu fazendo um círculo em volta das duas, ela cerrou os punhos, o rosto de Riley se estampava em um sorriso, daqueles sádicos, ela estava absurdamente fora de sua sanidade, seus olhos imploravam por uma surra e quando se preparava para o primeiro golpe uma voz a fez parar.

- EI! ESPERA! NÃO PRECISA BATER NELA! - Gritou Ichika enquanto atravessava a barreira humana que havia se formado em volta das duas. - Ela não vale tanto a pena assim - disse rindo de nervoso.

- E por quê não? - rebateu ela se afastando um pouco.

- Bem, você não percebeu? - prosseguiu ichika - Ela não é daqui, ela é gringa!- isso a fez arquear as sobrancelhas - E você mal deve imaginar o que isso causa para pessoas como você, com todo o respeito claro, mas, isso só facilitaria a polícia a te achar, afinal, você ainda não tem motivos aparentes para ser procurada, mas se fizer isso, você vai conhecer a famosa xenofobia, e garanto que eles terão motivos o suficiente pra isso. - ela finalmente tinha parado de falar, e a olhava nos olhos, eles eram de um castanho claro que lembravam muito madeira, mas ela realmente estava com medo, e seus olhos lançavam isso a ela.

- Ela é o quê sua? - murmurou com rispidez, e a resposta logo veio.

- Bem, minha nada, mas - ela soltou um suspiro - para a namorada dela, é muita coisa, vamos lá, pega leve, elas sequer entendem o que estamos falando, a namorada dela talvez, mas ela... sequer sabe alguma coisa, vamos deixar essa intriga de lado. - Aos poucos Mitsue foi se afastando e dada as costas para Ichika, logo aquilo estava acabado. - Vocês já podem ir indo embora junto, se não se importar... - disse se virando para Riley.

Ela não havia virado por completo quando um punho atingiu seu nariz com uma força descomunal, a fazendo cambalear para trás obscurecer sua visão por alguns segundos.

- TÁ MALUCA? SUA IDIOTA! - gritou Ichika enquanto sentia um gosto amargo entrar na sua boca, era, sangue, seu nariz estava jorrando sangue demais - EU SALVEI VOCÊ, SUA OTÁRIA!

- Eu confundi você com ela... - Não eram parecidas em nada, uma era gorda enquanto a outra era mediana, uma tinha uma tatuagens por todo o corpo enquanto a outra não tinha nada, uma havia raspado o cabelo na lateral enquanto a outra o prendia em um rabo de cavalo, ela só não estava tapada, como estava mais idiota que o habitual - É, realmente achei quem eu queria de verdade bater... Você! - Disse isso com os punhos cerrados, Ichika estava irritada, nem gostava tanto dela, e quando tenta ajudar a criatura vai e faz aquilo, ela queria morrer.

- Eu não quero bater em você - Responde Ichika tentando segurar o sangue do nariz com uma mãos, ela estava se distanciando conforme Riley andava ao seu encontro com mãos em punho.

- E VOCÊ ACHA QUE EU LIGO? - Gritou ela, seus olhos estavam pateticamente tentando se concentrar em Ichika que estava na sua frente, porém a sua mente estava em uma luta imaginária na qual ela gesticulava e dava socos no ar. - Você pegou uma coisa que é minha! - disse lutando contra a fonética americana.

- Eu não quero brigar com você - argumentou com as mãos cerradas, porém com um gesto desafiador de Riley se obrigou a gritar, logo que ela estava com a mão nas orelhas, as inclinando para frente - EU NÃO QUERO BRIGAR COM VOCÊ! MAS ACHO QUE VOU TER QUE FAZER ISSO!

Na distância as separavam, mas não seria muito difícil a muvuca acabar empurrando as duas, eles sim estavam encurralando elas, Ichika estava respirando fundo, embora nunca se envolvesse em brigas ela já podia imaginar como aquela terminaria, nela simplesmente dando as costas e dizendo que talvez numa próxima ela revidaria, ela estava preparando a sua deixa, quando é empurrada por trás, a distância entre as duas diminui e os gritos insistentes implorando por briga, começam a vir como uma onda, sua cabeça estava começando a ficar tonta novamente, era muita gente, pessoas que estavam anteriormente nos arredores começaram a querer ver do que se tratava, até que uma voz mais alta se destaca no meio daquilo tudo, Mitsue se erguia no trepa trepa, que era o ponto mais alto do parque.

- Bem, se forem brigar é melhor que essa muvuca se espalhe - um simples movimento com o braço foi o bastante para que todos as deixassem no meio do parque, se sentando em alguns bancos ou em alguns brinquedos, elas estavam em um ringue e pelo visto, ela só sairia dali uma vencedora ou perdedora - Então, QUE A MELHOR VENÇA!

Antes de encarar novamente Riley, Ichika se deparou com uma pequena movimentação, Scarllet estava sendo segurada por um dos capangas de Mitsue, ela berrava coisas como "me soltem" e "Eu sei que ela não está bem, deixem ela comigo" seu rosto estava vermelho e as lágrimas saiam como um rio de seus olhos, ela queria desistir, mas não podia.

Ela alinhou os punhos na altura dos ombros, e distanciou os pés, aquilo foi praticamente uma afronta para Riley que correu em direção a Ichika, o punho acertou o rosto, quase deslocando a mandíbula, fazendo Riley quase despencar no chão - É assim que se dá um soco!- disse Ichika enquanto retomava a sua posição de início, Riley se pôs de pé, mesmo com certa dificuldade, correu em sua direção pronta para a apunhalar, Ichika deveria ter previsto que o golpe a atingiria novamente no rosto, porém o desvio foi o suficiente para que uma força muito maior a atingisse no abdômen, a fazendo se ajoelhar em meio aos paralelepípedos da praça, um chute a atinge na cabeça a fazendo cair de vez, a visão turva lhe dá uma desvantagem tremenda. No topo do trepa trepa Mitsue ainda estava observando a briga, já não em pé, mas sentada nas barras do brinquedo.

- Pra quem está torcendo? - questiona um dos capangas, aquele que se dispôs a dar um soco em Riley.

- Pra japa lógico! - diz com convicção, uma resposta um tanto absurda para a cena que estava diante de seus olhos.

- Para de ser burra, ela não vai ganhar - respondeu com certa perspicácia. - achei que ela ganharia, mas está levando tantos chutes que até fica mais fácil saber quem sai ileso dessa.

- Eu disse que ela vai ganhar, e ela vai ganhar - A cena se desenrolava em Riley chutando Ichika em todos os cantos possíveis. Um suspiro sai de Mitsue, talvez muita burrice achar que a 'Japa' venceria.

Os chutes vinham de todos os lados, mas alguma hora ela teria que parar, e parou, Riley se agachou bem ao lado de Ichika - Pra alguém que estava louca pra me vencer, até que você fica bem de tapete - aquela foi uma das frases que ela pode terminar, antes que um soco a atingisse na boca, e uma rasteira a derrubasse. Ela estava de volta, e de forma rápida se pôs em cima da oponente a enchendo de socos que estavam começando a respingar sangue, seus olhos estavam envoltos de raiva, ela estava sendo humilhada demais, e agora estava descontando tudo. O momento era dela, Riley estava vivenciando toda a sessão de espancamento, até algo a fazer parar. Os gritos angustiantes de Scarllet que agora estava amarrada a uma das barras do trepa trepa por um cinto que a prendia pelas mãos, aquilo cena era comovente, a fazendo diminuir a força e a frequência dos socos aos poucos, até Riley retrucar novamente com um tapa de mão aberta no rosto, a fazendo sair de cima. Agora em pé aproveitava para jogar insultos enquanto levantava Ichika pelos cabelos.

- Solta o meu cabelo - murmura Ichika, enquanto ficava de joelhos, segurando o punho Riley.

- Eu não ouvi! - disse erguendo ainda mais o braço fazendo o rosto das duas ficarem na mesma altura, naquele momento Ichika sentiu como que um raio a provocação de Riley, o sorriso sádico agora era manchado por sangue, o sangue que antes saia do nariz já havia secado, e agora, o perigo tinha ido embora com a noção.

- Eu disse... - começou enquanto mudava a posição das mãos para o cotovelo e o pulso de Riley - PRA SOLTAR O MEU CABELO, VADIA DO CARALHO! - gritou por ultimo, acrescentando força o suficiente para fazer ela soltar, enquanto ela gritava pelo nervo que agora estaria lesionado, ela se ergueu totalmente, passando assim a perna por trás dela pressionando com uma força absurda o joelho contra o de Riley, com o cotovelo em seu peito, o resultado era a queda. Riley explodiu no chão, enquanto Ichika buscava recolocar o rabo de cavalo no lugar o "público" foi a loucura, e enquanto muitos desacreditaram, Mitsue apenas lança um breve e quase imperceptível sorriso, e logo levanta todos em coro um apelido para substituir o nome enquanto não sabia.

- VAI JAPA! - grita ela mais forte do que todos os outros, a respiração pesada de Ichika parece diminuir e o sangue a fluir melhor, ela se distancia de Riley pra poder respirar melhor o ar gélido que corrompe o ambiente, ao olhar para o lado, Riley está estirada no chão, um grito corrompe todo o momento de glória. Scarllet. Ela havia conseguido se desprender do cinto, que causou uma marca vermelha em contraste com sua palidez, sua pele descoberta parecia não sentir o frio cortante, suas lágrimas pareciam sair quentes de seu rosto. Em meio a toda a cena melancólica e romântica das duas, o momento ainda era de Ichika, e como se não bastasse, um novo apelido veio pela falta de um nome - ESSA É A PANTERA DE AOMORI! - continuava Mitsue que agora tudo o que ouvia era o novo apelido "pantera".

Scarllet havia esfolado os pulsos na tentativa de conseguir tirar Riley dali e agora ela a estava ajoelhada a acolhendo, como se despedisse dela, colocou sua a cabeça em seu colo e começava a prece da despedida.

- O que eu falei pra você? - disse lutando contra a voz que insistia ser cortada pelos soluços - Eu disse que era pra você estar em casa e mesmo assim, insiste em arranjar confusão! - Riley estava com os olhos fixos aos dela, mesmo que confusos sabiam que alguma coisa estava errada, algo que não deveria ser real, queria que fosse solúvel, prático, mas aquilo era insolúvel. Sua boca estremeceu, ela estava esperando uma resposta.

- Sempre assim, é muito fácil você me dizer que eu faço, é a senhora perfeita! - por um instante, os olhos chegaram a lacrimejar, talvez fosse o álcool - Você não vê que eu faço isso por você? - disse levantando a mão a secando inutilmente as lágrimas de Scarllet.

- Eu tenho sempre que te manter na linha Riley, o que te faz achar que isso é amor? - a pergunta foi inútil, o rosto antes abatido deu lugar pra uma frustração.

- Você nunca faz questão dos meus esforços, sempre diz que eu sou o problema - resmungou enquanto se levantava com dificuldade, deixando Scarllet de joelhos sobre o granito - Eu vou fazer isso queira goste ou não, é por nós.

Logo que se levantou, abaixou para pegar algo que reluzia no chão. Vidro. Ela caminhava ainda tonta da queda, o caco estava em punho, enquanto Ichika estava tentando assimilar o que realmente ela estava fazendo, ela dispara, por um reflexo a mão de Ichika se ergue em direção ao punho em que estava o caco, porém a euforia para se desprender o punho é tanta que um pouco de sangue é derramado nisso, e o punho que segurava mais forte cede, Ichika ainda tenta recompor-se observando a mão jogar um sangue quase que infinito, e se distancia um pouco, Riley ainda com o caco em punho resolve retornar para atacar em outro lugar, mais exposto que a mão. Sua perna. Ela a agarrou na coxa, Ichika estava tentando se desvencilhar dela, mas ela a apertava contra si, e numa tentativa inútil tentava cortar a pele de Ichika com o caco. A única coisa que podia fazer aquele momento era bater na cabeça dela, nocauteá-la, com a mão em punho, deu murros entre o pescoço e a nuca. Ela caiu. O corpo estava no chão, os olhos semicerrados, parecendo dormir, embora momentos antes estava prestes a matá-la. Ichika soltou um suspiro antes de ser aclamada por todos ao seu redor, Mitsue a abraçou com aqueles braços fortes e robustos, ela estava se sentindo tonta o suficiente para que depois daquele abraço sufocante quase desmaiasse no chão, quando ela menos se deu conta estava nos braços daqueles que estavam torcendo por ela, ainda atordoada procurava por uma pessoa. Desceu dos braços daqueles que pouco importavam para ela. Scarllet estava ajoelhada ao lado do corpo de Riley, ainda chorava, mas agora muito mais.

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- Ela está bem? - perguntou se aproximando - Ela... vai ficar bem? - Disse ainda a uma certa distância. Scarllet se levantou, e começou a se aproximar. Elas estavam frente a frente, os olhos de Scarllet estavam vermelhos, ainda dava pra ver os traços de lágrimas que haviam se secado, mas ainda tinha uma fonte que renovava tudo novamente, Ichika a observava com ternura, estava prestes a dizer outra coisa quando um tapa lhe preencheu o rosto, e esse tinha sido com ódio.

- VOCÊ AINDA PERGUNTA? - gritou para Ichika - VOCÊ QUASE MATOU ELA... - Scarllet fora entrecortada por um suspiro, mais lágrimas caíam - É HIPÓCRITA O SUFICIENTE PRA VIR AQUI VER COMO ELA ESTÁ!

Ichika estava paralisada, não pelo tapa, ele não doera muito, mas foi mais forte do que a sessão de espancamento que tinha passado, ela respirou fundo e deu as costas para Scarllet. A conversa tinha terminado ali.

✦✧✦

- E então o que quer que façamos? - Indagou um dos socorristas a Scarllet. Um homem negro e alto, retirava as luvas e vasculhava os bolsos a procura de seu isqueiro. Scarllet solta um suspiro enquanto toma a decisão.

- A gente sabia que era você a partir do momento que a gente ouviu falar sobre o incidente - comentou a outra socorrista enquanto saía da ambulância - Ela teve um coma alcoólico, mas vai ficar bem.

- Melhor assim - disse Scarllet enquanto notava um volume no seu bolso, o celular de Ichika - Bem, acho que terminamos por aqui, vou pegar minha moto e já vou pro hospital.

O parque em um geral não era tão grande, mas demorou um tempo para encontrar Ichika novamente, e quando a encontrou ela estava sentada em um banco, apertando a faixa que haviam posto em sua mão enquanto olhava fixamente para uma máquina de refrescos.

-Ichika... Parece que você deixou isso comigo. - Disse tirando o celular do bolso e o estendendo para ela, que o pegou e retornou para a transe de início. - A Riley deu um soco muito forte em você?

- Não. - respondeu Ichika finalmente, olhando nos olhos de Scarllet.

- Então por que o sangue já secou, e você ainda não limpou o nariz? - disse sufocando uma risada. Ela se levantou e molhou a mão em um bebedouro próximo. - deixe eu limpar isso. - completou enquanto limpava o sangue do rosto de Ichika. Os olhos das duas se encontraram, e mesmo relutante, Ichika sentia-se atraída. A atmosfera estava esquentando, dava para perceber. Até que Scarllet parou de limpar, com as duas mãos ainda no rosto de Ichika passou a olhar nos seus olhos, a proximidade das duas era tanta que quase dava para sentir a respiração dela.- Eu acho que já limpou o suficiente. - disse Scarllet se levantando e caminhando em direção ao bebedouro, ela estava lavando as mãos quando o silêncio retornou. Ela se sentou novamente no banco olhando para frente quando o silêncio permaneceu no lugar.

-Então... eu queria pedir mil desculpas pelo que a Riley fez com você... - Começou Scarllet. Porém fora interrompida por ichika.

- Não - respondeu ríspida.

- Como assim... não? - murmurou surpresa pela resposta inesperada.

- Eu não aceito suas desculpas - repetiu ela.

- Mas... - sussurrou Scarllet ainda incrédula pelo que estava escutando.

- Eu só aceito as desculpas - disse se virando para Scarllet - Vindas da Riley.

- Mas a Riley não está em condições de pedir desculpas para ninguém! - disse aumentando o tom de voz.

- Eu sei, mas eu não quero aceitas as desculpas vindas de alguém que não seja ela. - Concliu Ichika.

- E por quê não? - Indagou com mais dúvidas ainda.

- Bem, se a Riley estivesse no seu lugar ela não pediria desculpas - disse a fitando nos olhos. - Ela não estaria se humilhando do mesmo jeito que você.

- Se você quase não A TIVESSE MATADO ela pediria - Respondeu reagindo, agora a luta era séria, os olhos das duas travavam uma batalha imensa, Scarllet com seus olhos verdes estavam com as íris desorientadas, enquanto Ichika era um mar negro a ser descoberto.

- Ela me deu o tapa primeiro! - Disse Ichika aumentando o tom da voz aos poucos.

- VOCÊ A ESPANCOU! - gritou Scarllet se segurando para não pular nela.

- EU PODERIA TER ACABADO COM AQUILO RÁPIDO O BASTANTE PARA NENHUMA DAS DUAS PERCEBER! - berrou de volta com mais vontade - ELA BATEU MAIS EM MIM DO QUE EU NELA.

-EU NÃO PEDI A SUA AJUDA! - gritou alto o bastante para um morto ouvir - Eu ODEIO pessoas como você, ODEIO!

- Odeia pessoas que fazem você ver a realidade em que se encontra? - Murmurou em um som audível - Você pode me chamar do que quiser, mas, eu imagino que a Riley e você tem muitas amigas... mas nenhuma estava ali.

Scarllet projetou uma frase mas a voz não veio, seria como discutir com a verdade, e o que Ichika estava falando era verdade, se Riley tivesse parado naquele único soco tudo estaria resolvido, Ela realmente queria a emoção da briga, ela queria um pouco de sangue. Como ela não achava resposta começou a chorar. O silêncio se resumia em uma mulher chorando pela desgraça que lhe havia acometido e outra com o rosto impassível em um silêncio arrematador, porém com a mente mais turbulenta que o oceano.

- Eu não entendo como ela pode fazer isso com você - Disse Ichika quebrando o silêncio. - Ela praticamente te fez atravessar a cidade atrás dela pra simplesmente te ignorar quando você só queria ajudar.

- Você tem que entender que ela não fez por querer... - disse entre soluços. - Ela estava bêbada Ichika.

- Olha eu não quero me meter na sua vida mas... - Ela respirou fundo, mas tinha que dizer, queria uma amizade mas, não dava pra fazer nascer de uma faca um pé de rosas, era a verdade - Você consegue ser mais ridícula que ela passando pano pra tudo isso.

- Quem é você pra me dizer isso? - Disse se sobrepondo a voz de Ichika - Você está aqui por que você quer estar, eu não te obriguei a vir, eu só precisava do celular, muito obrigada se eu não pude te agradecer, mas você se submeteu a vir aqui e apaziguar tudo como uma juíza, mas eu não pedi sua ajuda.

- Não mesmo, e olha, não sou ninguém pra me meter, mas quero deixar claro que por você, as duas estariam submetidas a ter que enfrentar aquela gangue sozinha. Podem até ser estrangeiras, mas perto deles vocês não tem voz nenhuma. - rebateu Ichika.

- Você bateu nela sem dó nenhuma! - berrou Scarllet.

- Eu não queria bater nela! - Gritou Ichika mais alto ainda - Eu não bati nela, ela bateu em mim primeiro, se você pelo menos soubesse o que significa um tapa no rosto durante uma situação daquelas você não estaria aqui defendendo ela atoa, porquê ela está errada!

- Você quase matou ela. - murmurou novamente Scarllet enquanto abaixava a cabeça e gotas ameaçavam voltar a molhar as pernas quase nuas.

- A culpa não é minha - continuou Ichika diminuindo o tom de voz. - Ela deixou você sem satisfação nenhuma pra se divertir sozinha com as amigas dela, caramba será que você não percebe que está aguentando tudo sozinha?

- E é assim que você me ajuda? - perguntou levantando a cabeça enquanto a fitava com os olhos se desmanchando em lágrimas

- Eu não quero mentir pra você e dizer que está tudo bem - respondeu a olhando nos olhos - Eu não sou nada sua ok, mas pra evitar que diga que eu não fiz nada por você eu estou dizendo que fiz, eu tive que apanhar dela pra eles não a terem que matar, porquê se ela continuasse naquele rítimo, ela estaria morta.

- Você realmente se importa pelo o que eu estou passando? - Perguntou Scarllet.

- Se eu não me importasse eu não ficaria aqui, do seu lado. Bateria nela por vingança e seguiria em frente - Ichika suspirou - O que eu fiz foi por você, só que pelos métodos errados, e mesmo que eu não tenha nada contra as duas parece que a Riley continua me odiando do mesmo jeito.

- Você queria fazer com que ela a respeitasse? - Susurrou Scarllet.

- Eu não procuro respeito por meio da violência, ela procurou uma briga, muito embora eu não ache que ela me respeitaria mesmo quase a espancando, o que eu queria era outra coisa - Disse Ichika suspirando.

- O que queria então? - Continuou Scarllet dando prosseguimento a linha de pensamento de Ichika

Ichika olhou nos olhos de Scarllet, buscando transmitir algo além das palavras

- Eu queria evitar acidentes - Respondeu a surpreendendo - Você estava ansiosa demais... eu percebi isso. - Ichika começou a fazer luas nas mãos - E se eu não tivesse intervindo, teríamos dois acidentes.

- Você realmente pensou nisso tudo? - Scarllet, atônita, parou de chorar. Não compreendia completamente o motivo por trás de tudo aquilo, sentindo-se como se o chão tivesse sido retirado de seus pés. Ichika assentiu com seriedade, seu olhar revelando uma profundidade de preocupação que talvez Scarllet não esperasse.

- Não é só sobre mim e ela. É sobre você. - Ela fez uma pausa, permitindo que suas palavras se acomodassem no ar. - Eu não queria que algo de ruim acontecesse com você, e mesmo que nossas interações tenham sido, digamos, complicadas, eu não suportaria viver com a culpa de não ter feito nada.

Scallet sentia como se na terra não houvesse mais gravidade, ela estava em outra atmosfera, na qual buscava de forma incessante a verdade por trás dos atos de Ichika. Ela não estava buscando a vingança, ela só estava tentando contornar a situação que Riley acabara criando e concertando tudo de uma forma mais simples. O silêncio pairou no ar o sussurro do vendo e o ranger das folhas secas no chão absorviam o silêncio entre as duas. Scarllet o quebrou.

- Sim. - Disse sem ter nenhuma relação com a resposta dada por Ichika.

- Sim o quê? - retrucou Ichika não entendendo o porquê do inesperado "sim".

- Eu ouvi o que você disse quando você estava na frente da minha casa - Aquilo fez com que o coração de Ichika palpitasse mais forte, ouvir tudo significaria que possivelmente os sentimentos que ela tinha revelado apenas para as paredes tinha sido ouvido por mais alguém.

- E qual é a sua resposta? - calmamente perguntou, embora estivesse prestes a ter um colapso.

- Sim ichika... - Ela se virou para a encara-lá - Eu quero que você seja minha amiga. - Aquilo era um alívio. Estava aliviada por ela não ter escutado nada anteriormente. - Até porquê não é sempre que se encontra alguém que caminhe de madrugada e que resolva uma situação dessas como você resolveu. - Disse isso enquanto soltava a risada mais sincera. Elas riram por bastante tempo, era ridículo, pois elas riam como duas bêbadas e soltavam palavras avulsas como se algumas delas fizesse parte da piada. - Você me deu um banho de água fria como ninguém!

-Você precisava acordar desse sonho bela adormecida, ou é exigir demais? - Perguntou Ichika com um pouco de cautela.

- Vou comprar uma coca. - Foi tudo o que disse enquanto se dirigia para a máquina - Puta merda nem moeda eu tenho! - Isso a fez soltar uma risada sincera, das duas.

- Eu pago vai - disse Ichika tirando o celular do bolso - Você me deve um pix, sabe disso!

- Pode ir sonhando - respondeu sarcástica, enquanto abria a lata - Tem coisa melhor que isso? -disse dando uma boa golada na sua coca cola. Ichika preferiu que seu sorriso fosse preenchido com coca enquanto voltava se sentar no banco mais próximo.

- Eu vou para casa - Disse ichika depois de um tempo se levantando, olhou a hora pelo celular que estava em sua mão e o colocou no bolso do moletom - Depois você passa seu número.

- Mas você vai sozinha? - Disse se levantando também. - É longe pra caralho!

- Eu sei, mas eu estou caminhando ainda se lembra? - Disse rindo e começando a andar.

- Vai se fuder! - gritou Scarllet enquanto caminhava em sua direção - Eu vou te levar sim, pode ir andando pra lá, minha moto ficou estacionada do outro lado do parque.

No fim das contas elas caminharam até a moto, risonhas, Ichika agradeceu por estar escuro daquele jeito, seu coração estava acelerado e seu rosto parecia arder em chamas, Scarllet entregou subiu na moto e se preparava para dar a partida.

- Você não quer que eu dirija? - perguntou mesmo sabendo a resposta que viria.

- Você dirige bem, mas não - respondeu fazendo a moto ligar - Vou te mostrar o que posso fazer com a minha bebê aqui.

Ichika subiu, não deu tempo de dizer nada, Scarllet disparou, tão rápido quanto ela, mas era um momento diferente, Ichika sentiu a vontade de segurar em sua cintura assim como ela tinha feito, mas algo a impediu, a coesão talvez.

- NEM PERGUNTEI - gritou Scarllet lutando para vencer o zumbido forte do vento e o som do motor - AONDE VOCÊ MORA?

Ichika, ainda um pouco absorta, percebeu que estava guiando Scarllet para casa, mas suas mentes pareciam ainda conectadas pelas recentes revelações. As ruas se desenrolavam sob os pneus da R1, e as mãos de Ichika indicavam os caminhos automaticamente. A proximidade entre elas era notável, mas nenhum comentário foi feito, pois a tensão do momento ainda pairava no ar.

Enquanto Scarllet empinava a moto habilmente, Ichika, mesmo preocupada, não podia deixar de admirar a perícia da amiga. A rua se tornava cada vez mais familiar, e o trajeto que as levaria à casa de Ichika estava se desenhando.

Ao chegarem, Ichika desceu primeiro, surpreendida pelo silêncio da moto que agora estava desligada. A casa estava diante delas, e Ichika começou a falar antes de ser interrompida pela súbita ação de Scarllet, que acionou a buzina de forma exagerada.

- YUMAAA - gritava Scarllet.

- PARA COM ISSO! - berrou Ichika que tirara a chave da moto a fazendo desligar - Eu tenho a chave de casa.

Scarllet se desculpou, e a atenção de ambas se voltou para as luzes que começavam a iluminar a residência de Ichika. A porta se abriu, revelando um homem, ainda adornado com um roupão e os cabelos bagunçados, com expressão rancorosa, que encarou as duas com desaprovação.

- Ah, não - resmungou Ichika, percebendo que seu irmão mais velho, Yuma, era quem as recebia.

As luzes da casa iluminavam o semblante sério de Yuma, enquanto ele observava as duas à sua frente.

-Ichika, são 01h30 da madrugada. O que diabos vocês estavam fazendo? - questionou, cruzando os braços.

Ichika hesitou por um momento antes de responder, tentando encontrar uma desculpa plausível, mas Scarllet tomou a frente.

- Agora eu sei onde você mora YUMA! - disse descontraindo o clima.

- Infelizmente - resmungou revirando os olhos. Algo o fez olhar para trás - Keiko, volte já pra cama!

A garota ainda estava vestida com o pijama quando saiu, e sentindo o frio que estava do lado de fora resmungou.

- Meu Deus, que barulheira é essa? - disse imitando a pose do irmão.

- OH CÉUS, YUMA ESSA É A SUA IRMÃ MAIS NOVA? - com um gesto afirmativo da parte de Yuma, ela ficou mais animada ainda - ELA É LINDA!

- Vão me dizer o que estavam fazendo ou não? - retomou a pergunta inicial.

-Nós meio que nos metemos em um problema e Ichika me ajudou a sair dessa confusão. Desculpe por chegarmos tão tarde. - Respondeu Scarllet.

Yuma não parecia satisfeito com a explicação, mas antes que pudesse retrucar, Ichika interveio.

- Yu, amanhã eu explico tudo. Só... por favor, não fique mais bravo.

Yuma suspirou, aparentemente resignado com a situação. Ichika, que estava indo para casa, virou-se ao ouvir a voz de Scarllet,notando que ela estava com um sorriso nunca antes visto por Ichika. Ao pedir para Ichika desbloquear e entregar-lhe o celular, tudo parecia diferente.

- Quase que eu me esqueci. - disse Scarllet, pegando o celular de Ichika - Bem, meu celular está sem bateria então... Agora que somos amigas precisamos nos falar, aqui está o meu número. Tenho uma coisa muito importante pra falar amanhã.

Ichika olhou como ela tinha salvado seu número em seu celular "Letty melhor amiga", Ichika sorriu para o celular um nome bem agradável, sentindo-se surpresa pela atitude de Scarllet. Ainda processando tudo o que havia acontecido, ela guardou seu celular novamente no bolso, agradecendo com um aceno. Scarllet sorriu, acenando de volta enquanto Ichika se dirigia à sua casa. Yuma, impaciente, esperava por ela na porta.

- Anda Ichika. - repetiu Yuma - E você, Scarllet, trate de achar sua casa também!

- Bem, não vou voltar para casa tão cedo - Retrucou Scarllet com um tom brincalhão. - E que baita casa em Yuma!

Yuma fez um gesto de agradecimento com a cabeça, enquanto Ichika se afastava. A conversa entre Scarllet e Yuma continuou por mais alguns instantes, com risadas e comentários descontraídos. Ichika entrou em casa, encarando Yuma com uma expressão preocupada fechava a porta. Ele a olhou sério por um momento antes de suspirar.

- Quero uma explicação pra isso Ichika. Vamos ter uma conversa séria agora. - disse Yuma finalmente fechando a porta e recolocando o roupão no lugar

- Eu sei, Yuma. - disse ela, já imaginando a difícil conversa que teria pela frente. Porém fora interrompida pela irmã que passeava pela sala de estar com um copo de água.

- Vá dormir Kei! - ordenou Yuma.

- Eu não, Chika me tirou o sono, vou ficar aqui, sem fazer nada - disse se jogando no sofá.

Ichika ainda abatida resolveu subir, até olhar novamente o seu irmão, depois teve uma brilhante idéia para contornar tudo aquilo.

- Sabe que dia é hoje? - Perguntou ela, esperando uma resposta que não veio - Vamos gente eu sei que vocês são capazes!

- Quarta e dai? - Disse Keiko com voz cansada enquanto mexia incessantemente em seu celular.

- Quer dizer que amanhã você tem aula - Disse Yuma tentando inutilmente a levantar do sofá - Amanhã é quinta, você não pode faltar.

- Bem, Kei, eu deixo você faltar - Disse Ichika se contrapondo ao irmão.

Ele a fitou com raiva e começou a tentar fazê-la novamente se levantar.

- Hoje é a noite do cinema! - disse muito feliz, porém Yuma só arqueou as sobrancelhas e Keiko abafou uma risada - AHHH VAMOS, Yuma eu sei que você sabe do que eu estou falando.

Yuma continuou com a mesma feição até corrigi-la

- Noite do filme - disse com feição rancorosa enquanto inutilmente tentava fazer Keiko levantar.

- O que era essa noite do filme ou sei lá o que? - perguntou Keiko ainda resistente as tentativas falhas do irmão de tirá-la dali.

- Bem, era uma quarta feira em que todos aqui assistiam filmes, juntos. -Terminou a frase olhando bem no fundo dos olhos de Yuma.

- AHHH, então tá fácil, deixa eu abrir a amazon aqui, e vou mostrar um dorama que EU ESTOU A-M-A-N-D-O. - Disse eufórica e procurando o controle da TV.

- Nada de Stream - retrucou Yuma, sendo mais rápido do que Keiko em pegar o controle. - Embora Chika se lembre pouco da Noite do filme, ela sabe a essência que é! - suspirou antes de retomar a explicação - A noite do filme, é uma noite em que você pega o aparelho de DVD e escolhe clássicos do cinema pra assistir.

- DVD? -repetiu Keiko - Vocês são mais velhos do que eu imaginava.

- Sim - Respondeu Ichika quase que nostálgica - A gente assistiu mais algumas vezes depois que a mamãe se foi, mas era muito legal, eram vários filmes.

- Bem, pela hora, só vai dar pra assistir três filmes - Disse abrindo a porta - Vamos Ichika!

Os dois foram para o porão, muito embora Ichika apenas o estivesse seguindo.

- Nem me lembrava desse porão - disse Ichika observando ele abrir a porta que levava para lá.

- Bem, antes aqui só ficavam as coisas de jardinagem. -Disse entrando e ligando a luz -Depois que o Pai começou com aquelas enormes viagens, eu comecei a guardar as coisas que ele jogaria fora.

- Tipo? - Perguntou enquanto desviava das teias de aranha e observava as prateleiras a procura do DVD.

- Tipo coisas da mamãe que ele jogaria fora se as visse de novo - Yuma suspirou, os olhos fixos nas fotos antigas e nos objetos que guardavam memórias de uma época mais simples. Yuma procurou nas prateleiras empoeiradas, encontrando finalmente os DVDs e CDs que estavam guardados há tempos. Ele puxou um conjunto de três filmes clássicos: "Cidadão Kane", "Casablanca" e "O Poderoso Chefão". Ichika, percebendo a melancolia do irmão, aproximou-se e tocou em uma foto empoeirada.

- A Noite do Filme era tão especial para ela. Lembro-me de como ela ficava animada escolhendo os filmes e preparando as guloseimas. Vamos manter essa tradição por ela, Yuma.

Yuma sorriu, agradecendo pela compreensão de Ichika. Juntos, escolheram os filmes clássicos que assistiriam "Casablanca", "Cidadão Kane" e "Poderoso Chefão" e subiram as escadas carregando não apenas DVDs, mas também um pedaço do passado que unia aquela família. A noite do filme não era apenas uma tradição; era uma conexão entre irmãos, um tributo à mãe que os unia, apesar das adversidades. Fecharam o porão e retornaram a superfície gélida do lado de fora, foram correndo pra casa. Ao entrarem se surpreendem com um cheiro, não muito agradável. Cheiro de Queimado.

- Meu Deus Kei, o que é isso? - Exclamou Ichika ao ver o caos que a cozinha estava, havia duas panelas absolutamente torradas, e um pacote de pipoca de microondas queimado.

- Você conseguiu queimar até a pipoca de microondas? - mais assombrado que Ichika estava Yuma, prestes a ter um infarto.

- Bem, primeiro eu tentei fazer uma das receitas da mamãe, só que deu errado - Suspirou Keiko antes de terminar a explicação - E bem, fui terminar de ver o catálogo da amazon quando percebi que tinha configurado a pipoca por tempo demais, então ela queimou. -Terminou Keiko jogando o pano de prato que estava nas mãos pro ar.

- Tire a poeira dos Cd's e limpe com cuidado o DVD. - Disse Yuma entregando a ela um pano úmido. - Vamos ter que arrumar essas coisas né? - Perguntou ele a Ichika.

- Acho que sim, Fique com a louça que eu vou preparar outras receitas fáceis aqui - Disse desocupando os espaços e pegando os ingredientes na geladeira.

Yuma deu uma olhadela para trás e observou de longe Keiko limpando os DVD's.

- Acho que é uma ótima hora para termos a nossa conversa séria - retomou Yuma pegando uma panela que exigiria uma limpeza e tanto.

- Tá o que quer saber? -Disse Ichika a ele enquanto começava a receita.

- Por quê mentiu pra mim? - perguntou com tom indgnado.

- A respeito do que? - Argumentou Ichika enquanto se desviava da pergunta.

- A respeito da onde iria.

- Bem, eu só queria caminhar -Disse voltando a incorporar um personagem.

- Eu sei bem que você foi até a casa dela, caminhar é o caralho! - se contrapos Yuma, ele sempre fora bom em tirar conclusões. - Você já sabe, ela tem namorada, e está muito bem com ela.

- Eu não quero ser namorada dela, para de ser louco! - Retrucou Ichika, ele tinha sido bem certeiro, mas, ela tinha conseguido o que queria certo? Ela queria a amizade de Scarllet e conseguiu isso. - Eu só queria ser A-M-I-G-A dela, nada de mais, e sim, fui caminhar, muito embora a única rota que eu gostaria de ver um parque fosse aquela. - respondeu Ichika, retomando o fôlego, mentir para Yuma lhe gastara esforço.

- Desculpa, não sabia que você tinha essas intenções - disse Yuma mesmo com o pé atrás para aquela história toda.

- Você sempre se precipita - disse ela - Além do mais, não tô querendo ninguém ultimamente.

- É que eu não quero que você se machuque - disse Yuma com um tom de voz mais fraco - Eu te conheço, e sei como você cria planos muito rápido.

- Mas eu não gosto de mulheres - respondeu Ichika com convicção - Mas, obrigada pela sua preocupação. - Disse finalizando a primeira guloseima, S'mores, a comida preferida de Keiko.

- Desculpa, mas sei lá, eu tenho te observado, seus suspiros involuntários e a sua cara de paisagem que demora um tempo para se desfazer - disse abatido, enquanto secava a pia com o rodinho.

- Não fica triste Yuma, não se esqueça que sábado você vai ver sua namorada -Disse abafando a risada.

- Ela não é minha namorada! -Retrucou esbravejando Yuma, mas logo seus lábios eram preenchido por um sorriso e os braços se estendiam pedindo um abraço de Ichika. Um abraço foi dado, proporcionando um momento de conforto entre os dois.

- Precisa cortar esse cabelo - Disse Ichika se desvencilhando do abraço e mexendo nas madeixas bagunçadas pelo vento, um cabelo castanho escuro que beirava as orelhas. - Você tem que cortá-lo se for ver a sua namoradinha! - terminou rindo. Keiko apór terminada a limpeza fora beber uma água e escutara a ultima parte.

- HMMM, Yuma... finalmente teve coragem de se apaixonar - comentou ela o provocando ainda mais - Vou contratar um carro de som para espalhar essa notícia boa.

- Para de graça as DUAS - disse rindo - Vou colocar o aparelho de DVD.

- E então Ichika quem é? - Perguntou Keiko.

- Como eu posso te explicar que uma entregadora pegou o número do Yuma e estudou na mesma escola que ele?- respondeu Ichika resumindo toda a história.

- Cara, parece um romance de Dorama isso! - disse a Ichika - Vamos comer S'mores com doritos?

- Me parece uma boa - Disse Ichika pegando um saco de gomas ursinho - Prefere isso ou sorvete?

- Gomas ursinho nunca são açúcar desperdiçados - Respondeu pegando o pacote e despejando em uma bacia.

Os preparativos haviam terminado na cozinha, os salgadinhos estavam em uma bacia assim como as gomas, mas a estrela da noite estava perfeita: os S'mores seriam devorados primeiro. Yuma, com o polegar positivo, indicava que tudo estava pronto para começar, Keiko escolheu o primeiro filme, aos poucos a hora ia se esvaindo e o sono os acometendo, Keiko a primeira a dormir foi levada para o quarto por Yuma. Ele e Ichika terminaram a sessão às cinco da manhã. Ichika recolheu os pratos e os lavou, enquanto Yuma dava um breve adeus ao DVD que era desconectado, mas que permaneceria ali para outra quarta-feira.

Embora Ichika tivesse dito uma meia-verdade para seu irmão, ainda se sentia confusa a respeito de si mesma. Era uma amizade o que queria, certo? Porém, antes de imaginar uma resposta para isso, uma notificação chegou, era Scarllet. Era uma mensagem não muito convencional e bem direta. "Venha amanhã, oito horas." Isso fez Ichika arquear as sobrancelhas. "Ir para onde?" pensou, mas prosseguiu a leitura: "Venha ao hospital, ala 261, tenho uma coisa para dizer."

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