“Diálogo”

{Scroll}

[Yang]

Quando Ruby me disse que Jaune planejava ganhar sua primeira luta, eu ri da cara dela.

Juro que não foi por maldade, mas parecia insano.

Cardin não era o melhor combatente da sala, esse título vai para mim e talvez a garota do cereal, ele era muito forte e aquele Semblante somado ao cristal de Dust que ele usava ocasionalmente lhe conquistaram muitas vitórias.

Acho que só eu e Pyrrha nunca perdemos uma luta para ele. Blake com sua técnica superior e Nora com força bruta ficavam mais no 50/50. Enquanto Ruby, Weiss e Ren perdiam pelo menos 2 de cada 3 lutas. Não que os três fossem fracos ou piores em combate do que Cardin, mas a onda de fogo que ele causa os empurrava para fora do ringue quando eles abriam a guarda.

Em meio a minhas risadas, Ruby emburrou de forma adorável, mas me prometeu que eu ia morder minha língua.

“E aqui estamos.” Murmurei em voz alta, ainda desacreditada com o resultado.

A luta não foi nada convencional e em alguns momentos me peguei concordando com Cardin. As técnicas de Jaune pareciam covardes e desonestas, mas a realidade é que… isso não importa.

Olhei para o cavaleiro sorrindo como um idiota. Ele estava tão contente, parecia uma criança, que marcou o gol da vitória e agora estava acenando para os parentes. Apesar dele ser meio avoado, Jaune também era inteligente e graças a ele aprendi hoje que nem sempre um ataque direto é a melhor alternativa.

Lógico que comigo é diferente, porque sou incrível.

Com a turma dispensada, nos encontramos no corredor como era de costume, todos estavam felizes e orgulhosos da vitória do Jaune.

“JAUNE!” Berrou Ruby pulando no pescoço dele o abraçando.

Encarei a cena suspeita com uma sobrancelha arqueada, sei que Ruby e Jaune se dão bem e ela o considera o seu “primeiro amigo de Beacon”, o que na minha opinião reforça ainda mais a ideia de que Ruby precisa de mais amigos.

Mas… eles dois sempre foram tão próximos?

“Quem diria.” Jaune disse, pegando Ruby nos braços e a carregando como uma princesa. “Minha primeira vitória e já me jogaram uma bela rosa.”

“Iiih!” Exclamou Ruby envergonhada. “Para Jaune!”

A pequena ceifadora tampava seu rosto sem jeito enquanto todos riam da situação.

Bem… todos, menos eu e Pyrrha que parecia estar testemunhando o ato mais hediondo de sua vida. Apesar de compartilhar o desgosto da garota do cereal, eu com certeza não tinha a mesma intensidade que ela.

“Precisamos conversar sobre sua luta Jaune.” Comentou a parceria enciumada. “Embora eu esteja feliz com sua vitória, você poderia ter sido mais ousado em suas táticas e derrotado Cardin de maneira mais eficiente. Seria benéfico rever as especificidades deste combate entre nós dois.”

Ela está usando palavras difíceis para manter a calma? Quase me perdi no final, mas notei que ela queria mesmo era um tempo a sós com o crush dela.

Com cuidado, Jaune colocou minha irmã no chão antes de responder a sua parceira.

“Hoje era importante eu demonstrar a eficácia das minhas munições.”

“Pyrrha, apesar de concordar com você e me sentir nauseada por indulgir este estulto-.” Começou Weiss até ser cortada.

“Próximo contrato nosso vou te obrigar a usar ofensas com menos de 100 anos.”

“Toma!” Exclamei para a rainha do gelo.

Alguns chamam isso de comportamento infantil, eu chamo de tirada master top.

“Como eu ia dizendo!” Reclamou a herdeira encarando Jaune, como se ela o desafiasse a interromper de novo. “A gravação de hoje vai ser enviada para potenciais compradores, por isso Jaune deixou seus ‘equipamentos’ lutarem por ele.”

“Quem está interessado em comprar essas munições tão díspares?” Perguntou o ninja de verde.

“Para manter o profissionalismo vamos evitar falar os nomes-.”

“Exército de Atlas.” Cortou Jaune.

“ARC!” Berrou Weiss se virando para ele.

Em sequência, eles começaram a discutir como se fossem um casal de velhos que abriram um negócio juntos.

Durante a discussão deles examinei melhor o líder do time JNPR. Diferente do primeiro dia, agora ele estava confortável em sua posição e com seus colegas de time, Ruby e Weiss também tinham se aproximado dele e até mesmo Blake tinha interesse nele.

Não que a garota ninja do meu time tivesse ido conversar com o Jaune para o conhecer melhor, isso seria normal demais para ela, muito mainstream.

Um dia ‘encontrei’ o scroll dela desbloqueado e descobri que ela é dona do perfil Knightshade, a conta que vivia postando fotos de alunos, homens e mulheres, em posições comprometedoras, mas que ultimamente tem se focado muito em um escudeiro louro.

Todos tinham acesso às fotos do Jaune malhando com professor Port, mas no dia que ela postou o professor ajudando ele com alongamento foi criado uma thread de fanfics yaoi.

“Ish.” Tremo só de pensar no que tem escrito ali.

“Você está bem?” Perguntou Blake.

“Estou ótima, e espero que a senhora tenha lavado as mãos.”

A stalker voyeur número um de Beacon me encarou confusa, como se fosse a pessoa mais inocente do mundo.

“Por que você vive falando isso para mim?”

“Pelo mesmo motivo que você mantém suas unhas tão curtas.”

A Belladonna me encarou confusa, mas depois olhos para os próprios dedos tentando entender meu comentário.

“Nossa Blake.” Comentei suspirando decepcionada. “Você é muito trouxa, para alguém que lê tanto porno.”

Ela me respondeu fechando a cara e virando os olhos.

A caminhada até o refeitório foi repleta de risos e comentários às custas do Cardin, o clima era descontraído e agradável.

Isso é…

Até uma mão masculina me puxar pelo braço.

“Preciso de você.” Foi sussurrado no meu ouvido.

Pega de surpresa fico ruborizada, mas assim que me acalmo fico furiosa com o atrevido que se achou no direito de me agarrar assim do nada. Me virei furiosa e para minha surpresa lá estava ele, o homem do momento, Jaune Arc.

“Preciso falar a sós com você.” Ele sussurrou de novo, dessa vez próximo do meu rosto.

A figura masculina era grande, maior do eu me lembrava, a mão calejada me segurava pelo braço com firmeza sem me machucar. Ele sempre foi tão alto? As fotos da Blake deixam claro que o garoto havia ganhado uns músculos, mas pessoalmente ele era mais… gostoso.

“Yang? Você me ouviu?” Perguntou Jaune soltando meu braço.

Assim que ele me soltou me pego mordendo o lábio inferior secando ele de cima a baixo, apesar de um pouco envergonhada não me arrependo de nada, a maninha aqui está na seca desde o ensino médio e na minha frente tem um loirão gostoso que poderia me saciar.

“Ah! Sim, claro.” Respondi enquanto me recompunha. “Sobre o que você quer falar.”

“É um assunto delicado. A gente podia conversar em outro local?”

Delicado?

“Só nós dois, por favor?” Jaune parecia preocupado.

Olhando para o lado noto que uma certa Campeão Mistraliana está nos encarando desconfiada.

Uma ideia cruel brotou na minha cabeça, não tenho nada contra uma conversa a sós com o Jaune, mas… eu também poderia me divertir um pouco.

“Sem problemas, você não precisa implorar, seria um prazer ENORME.”

A última palavra talvez tenha saído mais alta do que planejei, mas ver a cor ser drenada da face horrorizada de Pyrrha Nikos.

Agarrei o braço dele e o acoplei entre minhas ‘meninas’, Yara e Yelena.

Sem saber o assunto, puxei Jaune para longe dos times, onde poderíamos ter privacidade.

“YANG! Vocês vão para onde?” Perguntou Ruby de dentro do refeitório.

“Ele está construindo um Harém?”

“Blake não-.” Valkyrie tentou para o comentário, mas era tarde.

CREEEEK!

As portas do refeitório foram envolvidas por um brilho negro antes de serem arrancadas das dobradiças.

Estou começando a notar um padrão do Jaune se dando bem e coisas metálicas serem arremessadas como se estivéssemos em um filme de assombração.

Hum… não deve ser nada.

Assim que ficamos sozinhos longe do prédio principal, soltei o braço dele.

“Fala aí loverboy, o que você está precisando?”

Queria acabar rápido essa conversa, apesar de não ter nada pessoal contra o Jaune e adorar enfurecer a Nikos, ainda não o perdoei por me colocar na friendzone.

“Então…” Disse Jaune sem graça. “Você ficou sabendo que a Ruby tem me ajudado com aulas de tiro?”

Confirmei balançando com a cabeça, era interessante ver o Jaune assim tão tímido e sem jeito, geralmente ele não entendia a situação ou ficava falando absurdos para mostrar confiança. Era até bonitinho esse jeito dele.

“Quando estávamos atirando, Ruby me contou que você destruiu um bar antes do ano letivo de Beacon.”

Arregalei os olhos na hora.

“Aquela traidora, vou tacar fogo nos quadrinhos dela.”

“NÃO!” Gritou Jaune me segurando pelos ombros.

Com facilidade ele me ergueu do chão e me encarou com seriedade.

“Você não vai fazer nada contra ela.”

O tom de voz dele era pesado e carregado de autoridade, as mãos dele me apertavam com força nos ombros. Não tenho dúvidas de que conseguiria escapar dele, mas…

Parte de mim não queria fugir.

Toda aquela seriedade sumiu do rosto de Jaune, da mesma forma súbita que ela aparecera. Ele piscou os dois olhos na minha direção e me colocou no chão com cuidado e se afastou dois passos.

“Desculpa.” Ele disse triste sem conseguir me olhar nos olhos. “Um parente fez algo parecido comigo há muito tempo, então fiquei um pouco… exaltado.”

“Está tudo bem…” Respondi baixo quase sussurrando.

O que ele faria comigo se eu quebrasse a famosa coleção de filmes que o time JNPR tinha no dormitório deles?

Estremeço toda só de pensar.

“Você podia passar o contato do bar?”

“Era só isso?” Reclamei desapontada em voz alta. “Sem problemas.” Respondi ao Arc.

“Obrigado.” Agradeceu o loiro.

“Para que todo esse drama? Você é um aluno aprendiz de Caçador, você pode beber.”

“É que eu vou levar o Cardin lá.”

“O QUÊ?” Gritei surpresa. “Você vai sair para beber com o maior babaca de Vale? ”

“Meu plano é tentar resolver minhas desavenças com ele, depois do seu ataque esse bar deve ter melhorado a segurança, se o Cardin perder a linha eles vão aguentar o rojão.”

Meu cérebro fritou na hora.

“Como assim resolver? Você quer ser amigo do Cardin?”

Jaune olhou para baixo e suspirou pesado, como se estivesse estressado com alguma coisa.

“Eu simplesmente não tenho tempo para essa porra!” Exclamou Jaune em voz alta.

A declaração carregava um peso que não condizia com aquele adorável bobalhão que todos conhecíamos.

“Me recuso a passar o resto do meu tempo em Beacon, tendo que ficar me preocupando com um ruivo pau no cu querendo uma vingancinha devido à popularidade dele.”

…

“Nossa!” Pensando dessa forma, fazia o Cardin ficar ainda mais patético. “Qual plano para 'resolver'?”

“Uma conversa sincera.”

“Sério?” Perguntei desacreditada.

“Regada a bebidas alcoólicas.”

Virei a cabeça de lado o encarando tentando encontrar algo escondido em seu plano.

“Pensa direito Jaune, você acha mesmo que consegue dar um jeito em Cardin Winchester com drinks baratos?”

Me olhando com aqueles grandes olhos azuis, Jaune respondeu sem hesitar.

“Quer apostar?”

A voz dele transbordava confiança enquanto em sua face não estava o sorriso bobo de sempre e sim um sádico acompanhado de um olhar faminto.

Você devia mostrar esse lado mais vezes lover boy, pensei curiosa ante a atitude dele.

The story has been stolen; if detected on Amazon, report the violation.

“Claro, por que não?” Respondi dando de ombros. “Se você ganhar, eu te dou um beijo na bochecha.” Pontuei a frase apertando os lábios e jogando um beijo para ele.

Espero finalmente quebrar essa fachada dele, mas Jaune apenas abriu ainda mais seu sorriso e apontou o dedo para mim.

“E se você ganhar, posso te ajudar a encontrar quem você procura.”

Travei na hora, minha boca se movia, mas não saia nenhum som dela. Senti uma pontada de dor no meu coração ante a proposta.

“Ruby?” Sussurrei insegura.

Ele respondeu balançando a cabeça negativamente.

Apesar do alívio de minha irmã mais nova não ter me traído, ainda estava de olhos arregalados e paralisada com a surpresa. Após alguns segundos respirando irregularmente, tentando me acalmar, consegui dar voz a minha pergunta.

“C-co-como?” O questionei gaguejando.

“Não conheço esse bar, mas eu conheço a fama dele como local onde se pode comprar e vender informações.” Respondeu Jaune relaxando os ombros voltando a ser como ele é normalmente. “Você não me parece o tipo de pessoa que vende informação, então você provavelmente foi comprar.”

“E como você sabia que eu estava procurando alguém?”

“Isso foi chute.”

…

“CHUTE?!” Gritei indignada.

“Geralmente quem compra informação, está procurando algo ou alguém.” Ele respondeu cruzando os braços dando seu sorriso bobo. “Então era 50% de chance.”

CRUNCH!

Costelas rangeram em alto e bom som quando meu soco conectou com o tronco do Dork Knight.

“Pra que isso, sua louca?” Reclamo Jaune ativando sua Aura para começar o processo de cura.

“Desculpa, assunto delicado sabe… tipo suas costelas.” Respondi em um tom frio e ameaçador.

“Entendido! Mas falando sério, posso te ajudar.” Comentou Jaune tirando a mão do estômago e desativando sua Aura.

Ele já tinha se curado? É uma boa velocidade, mesmo que eu só tivesse trincado elas.

“Como?”

“Yang, sou o cara que entrou em Beacon sem treinamento, tem a Campeã de Mistral como parceira e nunca mais vou precisar me preocupar com dinheiro, já que Weiss Schnee quer investir em tudo o que já criei e vou criar.” Afirmou o loiro enquanto estufava o peito de orgulho. “Isso só é possível se eu for um cara conectado… ou o maior idiota sortudo do mundo.” Ele concluiu com uma gargalhada calorosa.

Ainda chocada, não conseguia encontrar um motivo para discordar dele.

“Você acha que consegue…” Parei de falar hesitando por um momento.

Abaixo minha cabeça tentando me esconder dos olhos azuis que me encaravam inquisidoramente. Será que Jaune consegue encontrá-la? E mesmo que ele tenha os meios para encontrá-la, posso confiar nele?

“Você vai me ajudar em troca de um simples número de bar?” Perguntei cheia de dúvida e com a voz trêmula. “Algo que você pode encontrar se não fosse preguiçoso de olhar com mais atenção em seu Scroll?”

No final da frase, o tom acusatório da minha voz deixou escapar minha insegurança com a situação.

“Na verdade…” Ele disse coçando a nuca encabulado. “A parte da preguiça é verdade, mas eu vou te ajudar por outro motivo também.”

Minha raiva e insegurança evaporaram de mim, agora minha mente é tomada por curiosidade receosa. Lá vem, aposto que esse nojento quer algum tipo de favor para se “aliviar”, beijo não é o bastante, ele vai querer no mínimo um boquete.

“Por que você quer me ajudar?” Perguntei receosa.

“Porque eu posso.”

…

Com a minha mão direita comecei a massagear a dor de cabeça que começou a se formar na minha testa.

“Repete.” Ordenei o responsável pela dor.

“Porque eu posso.” Ele disse dando de ombros.

“Eu não te entendo Jaune, já não bastava você ter me colocado na friendzone-.”

“Não é minha culpa, você se ofereceu em troca de um copo de café.”

…

Como é que é o negócio?

“Você precisa se valorizar mais-.”

CRUNCH!

“Porra Yang! Nas costelas de novo?”

O cavaleiro louro estava dobrado mais uma vez com sua aura concentrada em suas costelas, as reparando mais uma vez.

“Falando sério, eu quero te ajudar sua biscate-.”

“Raven.” Sussurrei para ele. “A pessoa que procuro é Raven Branwen.”

Jaune cessou suas reclamações assim que revelei quem eu procurava. Ele parecia ter sido pego de surpresa com a minha resposta, como se esperasse mais resistência da minha parte para revelar o nome.

Não o culpo por pensar isso de mim, Raven é um assunto delicado e por mais que eu tenha revelado o nome dela, não entrarei em detalhes sobre o porquê eu a procura ou a minha conexão com ela. Não estou pronta para me abrir desse jeito.

“Sua mãe?”

…

“Como você sabe?” Perguntei de boca aberta.

“Seu tio, Qrow Branwen, é uma dos Caçadores mais poderosos do Reino, se essa mulher tem o mesmo nome deve ser a sua mãe.”

Respiro fundo Yang, eu sei que você está frustrada, mas use tudo que te resta de paciência para não socar as costelas dele mais uma vez.

“Fiquei bem surpreso quando descobri que você era relacionada a rainha dos bandidos de Mistral.”

“VOCÊ SABE ONDE ELA ESTÁ?!” Gritei histérica.

Jaune se afastou, como se o meu grito tivesse machucado os ouvidos dele.

“Local exato não, mas eu sei a região de Mistral onde ela atua com o resto da tribo de ladrões dela.”

Como assim tribo de ladrões? Minha mãe é líder de uma gangue?

Jaune levantou a mão e usando seu Semblante materializou um cartaz de procura de minha mãe. Sem cerimônia, tomei o cartaz da mão dele.

Cabelos negros, olhos vermelhos, espada e uma cara de cu azedo. Não tinha dúvidas era ela mesmo. Ela é igual à foto do time STRQ, só que mais velha e mais emburrada.

[https://pbs.twimg.com/media/F94DYTYWIAASSp_?format=jpg&name=900x900]

Assim que a foto se dissolveu, levei minha mão direita mais uma vez até a minha testa e voltei a massagear a dor de cabeça que estava ainda mais intensa.

“Por que você falou isso tudo? O que você vai fazer se perder a aposta.”

“Simples” Ele respondeu estufando o peito. “Não vou perder.”

[Professor Ozpin]

A luz do sol se pondo escorria para dentro do meu escritório enquanto a minha maior esperança e o meu maior medo estava sentado na minha frente tomando café junto comigo.

Talvez o maior medo seja um exagero, afinal a maior ameaça para o mundo ainda era a Rainha dos Grimms que além de imortal ela é a usuária de magia mais poderosa de toda Remnant.

“Sei que jovens têm mais que fazer em uma noite de sexta-feira do que falar com um velho professor como eu.”

Falei tentando quebrar o silêncio de forma amigável.

“A maioria dos jovens não foi alistada em uma guerra secreta por um mago milenar.” Respondeu Jaune em um tom sarcástico.

Era bom saber que apesar das piadas e o seu estilo ‘relaxado’, Jaune Arc tinha consciência de suas responsabilidades.

De dentro da minha gaveta, retiro um fichário e abro em cima da mesa, Jaune encara os papéis e depois me olha com uma sobrancelha arqueada, curioso sobre o conteúdo dos mesmos.

“Esse aqui é o relatório da professora Goodwitch e algumas observações do professor Port sobre o seu desempenho neste primeiro mês.”

Jaune respirou fundo, como se estivesse inseguro.

“No primeiro dia nos treinos particulares, Peter comentou que o senhor era alguém que viveu uma vida sedentária e Glynda registrou que o senhor, além de ter um controle muito pobre de sua Aura, ela era mais frágil do que o normal.”

“Sim.” Disse Jaune em um tom sombrio e sem emoções olhando para baixo. “Glynda disse que minha Aura estava absorvendo algo entre 57% e 62% do que ela deveria.”

Interessante, no primeiro dia tive a impressão que o senhor Arc fosse um jovem orgulhoso e seguro de si, afinal ele tinha na palma de sua mão conhecimentos sobre o futuro de Remnant e também meus maiores segredos.

Por isso fiquei surpreso quando os relatórios de Peter e Glynda informaram que o garoto era inseguro, ansioso e autocrítico em um nível que chegava a ser danoso para sua moral.

“Para corrigir isso, o senhor não fez nada além de treinar no seu primeiro mês em Beacon.” Comentei sorrindo para ele. “Mas eu acho que esse comentário não seria 100% acurado.”

Olhar cheio de duvide de Jaune fui substituído por surpresa quando virei a página no fichário. Em ambas as páginas eu tinha recortes de manchetes de jornais de prestígio e tabloides de Vale e Atlas.

‘Herdeira do S.D.C. Avistada em Encontro Romântico com possível Noivo?!’

‘Escândalo: Herdeira Bilionária é Flagrada em Encontro Amoroso.’

‘Prêmio de 50 mil Liens por foto de Weiss Schnee com seu noivo.’

‘Casamento entre a Herdeira de Atlas e o Caçador de Vale?’

‘Branco e Dourado! Jovem loiro é futuro esposo de Weiss Schnee?’

“A propósito, parabéns pelo noivado.” Completei encarando o jovem surpreso.

“Oh não.” Reclamou Jaune em voz alta.

O tom de voz do jovem Arc era trêmulo e cheio de arrependimento. Talvez o jovem desse muito pela privacidade e seu anonimato ante a mídia.

“Weiss vai me matar.”

“Hum…” Resmunguei sem querer em voz alta. “Qual o problema?”

“O problema é que eu não estou noivo da Weiss!” Exclamou levantando as mãos para alto desesperado. “Não estamos namorando, muito menos planejando um casamento.”

Não consegui me conter e gargalhei em voz baixa da situação do jovem caçador.

“Tenho certeza que a senhorita Schnee vai lidar com esse problema com muita calma e maturidade.”

“A gente está falando da mesma garota que quase marchou até sua sala para obrigá-lo a fazer dela líder?”

…

“Vamos mudar de assunto.”

“Obrigado.” Resmungou Jaune escorregando um pouco em sua cadeira.

Não queria segurar o garoto a noite toda em minha sala, já notei nele o hábito de revelar segredos quando fica irritado.

“Além de elogiar o senhor pelo seu esforço em alcançar seus colegas no primeiro mês, gostaria de informar que nossos três alvos foram avistados na academia Haven.”

Em resposta, Jaune se endireitou na cadeira e me encarou com seriedade e uma intensidade sobrenatural. Aí estava o jovem que revelou todos os meus segredos enquanto me dobrava as suas exigências.

“Qrow está de olho neles?”

“Sim.” Respondi aproximando a xícara até minha boca antes de continuar. “E não precisa se preocupar, Qrow é meu melhor agente e nem mesmo Salem tem ideia das suas habilidades de infiltração.”

Assim que terminei de falar, comecei a dar um longo gole de café esperando a resposta do jovem.

“Você está falando do poder que ele tem de virar um corvo?”

PUFFF!

Pego de surpresa, cuspi o café quente, pelo menos fui rápido e tampei a boca para não manchar os documentos importantes em cima da mesa. O lado ruim é que minha mão e roupas estavam cobertas de café.

“Como?”

“Não vou falar ainda, mas recomendo ficar de olho no diretor Leonardo Lionheart, ele é um traidor que mandará muitos Caçadores pára morte em um futuro próximo.”

A frustração e cansaço gerados pelos segredos do senhor Arc já estavam me dando nos nervos.

“Humpf.” Acho que sou mesmo um hipócrita. “Você acha que Salem já está em contato com ele?”

“Provável, a prova disso vai ser um Grimm Seer que esconde em um armário em seu escritório.”

Olho para minha xícara e reflito por um segundo sobre batizar minha bebida com whiskey sempre que marcar reuniões com o senhor Arc. Se tudo que ele fala for verdade e puder ser evitado, serei eternamente grato, mas ainda assim era estressante ter essas bombas jogadas em cima de mim de forma tão direta.

“Você quer falar mais alguma coisa ou posso ir embora?”

“Algum evento futuro que o senhor possa compartilhar comigo?”

“Hum…” Murmurou Jaune coçando sua nuca. “Quanto tempo até a excursão a forever fall?”

“4 dias.”

“Quanto tempo até os alunos das outras escolas começarem a chegar?”

“2 semanas.”

“Certo.” Murmurou Jaune de olhos fechados.

“Blake vai se revelar como um Faunus para seu time em algum dia nessas duas semanas.” Isso não era novidade para mim, o sobrenome Belladonna é conhecido no meio político, mesmo quando não se tratava de Menagerie. “Isso vai gerar muito atrito dentro do time RWBY, mas é algo essencial para elas crescerem como equipe. Assim que ela sumir, precisarei que você me arrume uma boa desculpa para me ausentar.”

“Posso saber o porquê.”

“Estou muito próximo da Ruby e Weiss, não faz sentido não me envolver.”

Que estranho, geralmente amigos próximos querem se envolver quando há um conflito interno como esse, talvez o senhor Arc seja um covarde.

“Elas precisam resolver isso entre elas, isso vai sedimentar a relação delas positivamente, a partir desse conflito elas vão ficar mais próximas.”

Dou um sorriso de alívio ante a resposta do jovem Arc, não é que ele não queria evitar problemas dos outros. Ele queria que elas aprendessem com o conflito e crescessem como indivíduos.

“Vou providenciar um álibi para o senhor se ausentar. Mas recomendo não ficar em Beacon, talvez sair de Vale seja uma boa ideia.”

“Relaxa, vou para bem longe…” A resposta do jovem foi pontuada com um sorriso que me dá calafrios.

“Algo mais de interessante?”

“Amanhã eu tenho meu treino especial com o Port?”

“Planejando tomar sua droga milagrosa depois do treino?”

Jaune arregalou os olhos e me encarou surpreso.

“Por favor, poucas coisas acontecem na minha escola sem que eu saiba.”

Em resposta, o jovem franziu o cenho me encarando, mas resolveu não me antagonizar. Um sinal de maturidade que fico aliviado em vê-lo demonstrar.

“Vamos fazer isso em um local seguro, longe de olhares curiosos.”

“O soro tem 0% de chance de erro.”

“Não questionarei seus métodos, mas é melhor ter pessoas de confiança por perto em caso de emergência.”

Ainda suspeitando de algo, Jaune coçou o queixo pensando.

“Quem são essas ‘pessoas de confiança’?”

“Apenas duas, eu e Glynda-.”

“Tô dentro.” Respondeu Jaune rapidamente me cortando.

Encaro o senhor Arc balançando a cabeça levemente desapontado com a conduta dele, apesar de tudo ele ainda era um jovem rapaz de carne e osso, ele podia ser convencido com charmes femininos. Quem sabe posso controlá-lo usando isso.

Me levantei da cadeira e encaminhei o jovem Caçador para o elevador.

“Tenha uma boa noite senhor Arc e obrigado pela cooperação.”

“Obrigado é o caralho, passa o cartão corporativo.” Respondeu Jaune apertando o botão do elevador.

“O quê?” Perguntei surpreso.

“Vou resolver o problema do Cardin para você, o mínimo que você poderia fazer é bancar o meu plano.”

“O senhor vai feri-lo fisicamente ou emocionalmente?”

“Acho que não.” Disse Jaune em um tom incerto.

Sem paciência para discutir com o jovem, decido entregar o cartão.

Assim que a porta começou a se fechar, me lembrei de um assunto que deveria ter tratado com ele, mas acabei esquecendo.

“Seu pai e sua mãe estão te procurando.”

De boca aberta e olhos arregalados, Jaune Arc me encarou mudo enquanto a porta do elevador terminava de fechar.

Foi satisfatório jogar uma bomba no colo do jovem de forma tão súbita e talvez ele pare de fazer o mesmo com Glynda e comigo agora que provou do próprio remédio.

[Cardin Winchester]

“Que merda!” Resmungou irritado.

O resto do meu time saiu para beber sem nem me avisar. A pior parte é que nem fico puto com eles, afinal eles podiam se ferrar por minha culpa…

“NÃO!” Gritei furioso.

A culpa era toda daquele loiro burro, tapado e covarde chamado Jaune Arc.

THWIP!

Minha linha de raciocínio foi interrompida quando algo se prendeu em minha perna.

Olhando para baixo, vejo uma gosma branca semi transparente grudada na minha calça, ela se estica puxando minha perna.

“Quem é o merda que fez-.”

“E aí Cardíaco!” Exclamou uma voz alegre e idiota.

Tentei andar na direção dele, mas o mesmo puxou essa estranha gosma me derrubando no chão.

“ARC!” Urrei de Raiva.

La estava ele sorrindo como um idiota, tentei me levantar, mas Jaune começou a me puxar pelo chão.

“Não tenho tempo para explicar Cardin.”

Confuso e um pouco apavorado, me debati e tentei recuperar o equilíbrio para me levantar, mas Jaune corria como um louco me puxando como um saco de batatas.

“Para porra!”

“Cardin, prepare-se para uma aventura incrível! Este é o episódio de 'Jaune e Cardin' UHUUUU!” Ele gritou acelerando a corrida.

Jaune me puxou para fora da academia em direção aos bullheads.

“Do que você está falando?” Perguntei incerto. “Você está rasgando minha calça, seu animal.”

“Relaxa, eu te faço calças melhores.”

“EU VOU TE MATAR!” Gritei ameaçando o idiota.

Mas ele apenas gargalhou alto como um louco.

“Não vai não! Hoje a gente vai ter a nossa reunião e você não pode dizer não.”

Jaune corria gargalhando como um louco, gritando que este era um 'Episódio do Jaune e Cardin'.

Ok… está decidido… hoje mato esse filho da puta.

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E aí gurizada?

Como sempre, gostaria de começar agradecendo a todos que me incentivam a continuar esta história com expressões de gratidão.

E eu gostaria de mandar um salve para quem pegou a referência do LOBO no último capítulo.

Lembrando que estou no twitter(X?) @AvipBr, lá vocês podem encontrar artes de AI das minhas fic.

Vamos aos comentários:

—Sommerscave:

Obrigado pelo capítulo, estou adorando até agora. Espero que o MC entre em contato com a família do Jaune em algum momento... De qualquer forma, estou ansioso por todo o treinamento que ele vai fazer em breve, tenho certeza de que ele pode dominar a Sombra e se tornar superpoderoso com todos os seus poderes...

—Response= Sempre tem um filho de Deus que adivinha alguma coisa que já está escrita no meu rascunho.

—Oniele: [esse deixei em inglês pq é mais engraçado.]

The hell Is "E aí gurizada"?

—Response= It is used to greet a group of people in a relaxed and friendly manner, often equivalent to "Hey folks?" or "Hi everyone?" in English. "Gurizada" is a regional term that refers to a group of people, especially young ones, in an informal and affectionate way.

—Ender1227:

Eu fico imaginando como Netuno vai reagir quando descobrir que praticamente todas as garotas populares do 1° ano gostam do mesmo cara (Jaune) e que ele não faz ideia disso.

—Response= Valeu cara, eu não tinha pensado nisso, mas agora que você mencionou, já estou inspirado para escrever cenas hilárias.

—RandomAsian00:

Cardin, o idiota arrogante, finalmente recebeu um pouco do que merecia, bom para todos os outros. Por outro lado, a maioria da tecnologia que Jaune cria usando seu semblante parece facilmente replicável, mas coisas mais exóticas como a fórmula Epstein realmente exigiriam toda a divisão de ciência de Atlas para decifrar. Isso significa que a tecnologia, se entregue a Atlas, poderia facilmente cair nas mãos de Arthur Watts, que na série tem acesso quase completo aos sistemas de Atlas durante a queda de Beacon e poderia entregá-la a Salem. Será sábio confiar neles assim?

—Response= {Será sábio confiar neles assim?} NEM FUDENDO!!

—manatherindrell:

Pyrrah yandere é ótima, mas ela vai ter que aprender a compartilhar.

—Response= Se não, haverá muito choro, sangue e outros fluidos corporais.