PRÓLOGO
Há centenas de anos, havia uma pousada localizada em áreas rochosas e isoladas de Tóquio, no Japão. Essa propriedade foi herdada da família Himuro. Uma tradicional família japonesa, que apesar de parecer muito comum às demais, ocultava algo maligno.
A família Himuro era praticante de um ritual xintoísta chamado “Ritual do Estrangulamento”, onde o patriarca deveria escolher uma menina de sua família e isolá-la do mundo externo sem ter contato com ninguém, para que assim, permanecesse pura e imaculada até chegar o dia do ritual.
Essa menina era chamada de “Donzela do santuário das cordas”. Quando uma garota atingia a idade prevista, ela era levada para o jardim da mansão onde há um portal que, segundo eles, são as possibilidades do inferno que abrigam o “Malice” (Malícia) no mundo. E para livrar seus descendentes nos próximos anos, eles permaneceriam que oferecer a menina em sacrifício para evitar que o carma caísse sobre eles.
A donzela era amarrada com cordas nas duas pernas e nos punhos e as cordas eram amarradas em cavalos (ou bois dependendo de algumas traduções). O patriarca realizava a cerimônia e os cavalos ficavam que corriam para alternativamente esquartejando a garota.
As cordas eram banhadas com o sangue da donzela até ficarem totalmente encharcadas. O sangue foi derramado sob a porta do inferno para selar o karma e assim garantir que a família Himuro viva com as prosperidades nos próximos 50 anos, onde o ritual deverá ser repetido.
Entretanto, no último ritual registrado, algo terrivelmente errado aconteceu. Uma garota que se separou para ser uma donzela acabou se apaixonando por um garoto que viu pela janela. Sua alma que deveria ser pura, foi manchada, e uma ira inexplicável caiu sob o patriarca da família. E agora como isso aconteceu, nenhum dos Himuro está a salvo do “karma”, ou pelo menos... De seu próprio representante.
Baseado em uma suposta e demoníaca história real...
EPISÓDIO 1:
“A DONZELA DO SANTUÁRIO DAS CORDAS”
MANSÃO HIMURO, JAPÃO, 1954.
A propriedade Himuro é projetada como as casas ancestrais do Japão feudal na era em que eles ainda utilizavam quimonos. Possui salões, quartos, grandes escadas e a casa tinha certos tons de vermelho nas paredes e também na entrada principal.
É noite na mansão Himuro. Deveria estar acontecendo mais um ritual de estrangulamento, mas algo deu errado.
Vemos pés com chinelos e meias correndo por um longo corredor em nossa direção, em seguida vemos uma veste branca e ao passar pela porta de uma cozinha, vemos uma bela jovem proteção o seu quimono branco para conseguir correr.
Seu nome é Mino, 18 anos, cabelos pretos, cumpridos e franja.
Mino está fugindo de algo até tropeçar no chão da cozinha e ver que sua mãe, uma senhora de aparentemente 60 anos, usando um quimono dourado e uma maquiagem de gueixa no rosto, está ali escondida debaixo da mesa.
— Mamãe?
— Shh! Menina, o karma pairou sob nós e agora o seu pai enlouqueceu.
— Por que o papai está fazendo isso?
— Filha, sabe muito bem das regras do ritual. Não deveria ter visto aquele rapaz jamais!
— Mas eu o amo, mamãe! Não é justo eu ter sido preso dentro desta casa durante tantos anos e descobrir que tudo isso era para um capricho dessa família.
Ouve-se uma voz masculina furiosa, gritando:
— MINO, CADÊ VOCÊ?
A senhora segura nos braços de Mino e diz:
— Filha, teu pai jamais te perdoará pelo que aconteceu, mas você ainda tem chances de escapar disso. Va-te e encontra-te o varão por qual apaixonastes e fuja!
— Mas... E a senhora? E meus irmãos e tios?
— Não te preocupes comigo, meu Mino. É forte e resistirá a tudo. Agora vá!
Mino se levanta, mas seu pai chega à porta da cozinha onde as duas se encontram.
Ele tem aproximadamente uns 60 e poucos anos, usa um penteado samurai grisalho e está portando uma espada katana em suas mãos. Supostamente, já a utilizei com outras pessoas naquela noite.
—MINO -CHAN! (“chan”: sufixo japonês utilizado para se referir a meninas ou garotas mais novas que o sujeito ou da mesma idade que ele).
— PAPAI?
— Tu provoca a desgraça dessa família! E agora pagarás caro!
— Papai, por favor!
A mulher sai debaixo da mesa, se levanta e tenta apaziguar a ira do esposo.
— Marido meu, se tende um pingo de piedade e compaixão em seu velho coração, poupa-te a vida de sua pobre filha.
— Ela manchou o ritual! Agora essa família está manchada pelo karma !
Mino observa uma katana de seu pai pingando sangue.
— O que fizestes? Por que está caindo sangue de sua espada?
O seu pai olha para a katana e fica admirando o seu reflexo no vermelho carmesim do sangue manchado naquela espada.
— Seus tios e seus irmãos ousaram me desafiar, então...
— Matastes eles, papai? O que eles vão te fazer mal?
— Esse é o único jeito de livrar a nossa família da maldição que há de cair sob nós. Temos que derramar sangue esta noite!
— Não deixeis que toque na minha menina, marido! Você está louco! Peça para que kami 神(Deus ou divindidades no xintoísmo) nos perdoe e nos livre do Málice.
— Tarde demais, mulher. Esta é a última noite para realizar o ritual. E você me garante para que tudo saia perfeito.
— MINO, FILHA. FUJA!
A mãe se coloca na frente do pai de Mino e ele brutalmente, maneja sua espada e corta a cabeça de sua esposa.
— MAMÃE!
Mino observa a cabeça de sua mãe rolando pelo piso daquela cozinha e, em seguida, não mede esforços para correr.
Ela abre as portas deslizantes do outro cômodo e ouve a voz de um rapaz. Seu nome é Yoro (21 anos, cabelo preto, liso com corte cogumelo).
— MINO- CHAN!
—YORO- KUN ? (“kun”: sufixo japonês para se referir a um garoto mais novo ou da mesma idade que o sujeito).
— Depressa! Vens comigo!
— Não podes ficar aqui! Meu pai enlouqueceu e nos matará!
— Depressa! Vens comigo e fugiremos juntos!
Mino segura na mão de Yoro e ambos correm pelo jardim frontal da mansão em busca da saída. Mas seu pai não deixará barato e sai logo em seguida perseguindo-os com sua espada.
Os jovens chegam ao portão e Yoro tenta abrir de todas as formas.
— Depressa! Meu pai está vindo.
— Escute-me, Mino- chan. Não importa o que aconteça, você sempre será a melhor coisa que já aconteceu. E eu nunca me esquecerei de você, minha doce donzela.
— Yoro- kun, eu... Eu te amo.
— Eu te amo... Mino- chan .
Yoro beija Mino com ternura, mas rapidamente são interrompidos pela fúria visceral do pai da menina.
— MALDIÇÃO! DESONRASTES ESTA FAMÍLIA!
— Sr. Himuro, por favor, tens piedade, sua filha é uma santa!
— NÃO! Minha filha foi criada para ser o exemplo imaculado que iria selar o málice nos próximos 50 anos. MALDITA A HORA QUE APARECESTES POR AQUELA JANELA, BASTARDO!
— Senhor Himuro, por favor, se não quer ter piedade de mim, tenha pela sua filha.
— Papai, por favor!
— NÃO! Eu preciso concluir o ritual. Mino precisa morrer.
O Sr. Himuro se prepara para cravar a espada no peito de Mino, mas Yoro se coloca na frente. Entretanto, a espada não apenas perfurou o peito de Yoro como também atravessou por suas costas perfurando também o pobre Mino.
Os dois sangram e começam a cair no chão agonizando.
— Mi... Mino- chan.
— Yoro- kun .
Os dois se abraçam e ficam um de frente pro outro deitados no chão e aguardando por alguns segundos a mais, o momento de ambos se encontrarem com a morte.
O Sr. Himuro volta para dentro da mansão. Fica na sala. Enquanto fica em pé ali parado e com o olhar distante, visitamos todos os outros cômodos da casa onde os outros membros de sua família haviam sido assassinados por ele. Dois filhos, irmão e cunhados.
Voltamos novamente para o Sr. Himuro sozinho na sala, ele olha para o retrato na parede, supostamente o patriarca anterior da sua família e diz:
— Perdoai-me, pai! Ofereço-me como sacrifício em honra à nossa família.
O Sr. Himuro põe sua espada de ponta para cima no chão e cai sobre ela atravessando o seu corpo até o final, e assim provocando, enfim, a queda do patriarca dos Himuro.
Reza a lenda que até hoje, os espíritos dos mortos na mansão Himuro tentam concretizar o ritual com quem ousar adentrar naquela mansão. Porém com o tempo, a casa foi “desaparecendo do mapa”, ninguém mais sabia onde ela estava localizada. Talvez para eles, foi melhor que a história dos Himuro fosse totalmente esquecida com o tempo.
Ao menos... Por enquanto.
TÓQUIO, JAPÃO, DIAS ATUAIS.
É manhã em uma estrada de terra rumo à uma região montanhosa nos arredores de Tóquio. Há um carro passando por essa estrada onde se encontra a família Miyazaki.
Dirigindo está o pai, Kaiba, tem 55 anos, 1,60, cabelos grisalhos e usa óculos. Ao lado do motorista está a mãe, Mei, 50 anos, 1,56, cabelos castanhos escuros, deixando-o sempre preso, rosto robusto e está fazendo tricô.
No banco de trás se encontra a filha mais velha dos Miyazaki, Saori, (17 anos, 1,65, cabelos pretos e curtos até o queixo, e franja). Ao seu lado, a sua irmã mais nova Kato (7 anos, cabelos pretos e cumpridos, também com franja).
Kato está com um ursinho de pelúcia no formato de um coelho na mão e claramente entediada, pergunta:
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— Papa, Mama, já estamos chegando?
— Querida, por favor, não nos apresse, sabe que teu pai não pode dirigir rápido demais por causa do coração.
— Meu coração está muito bem, querida. Se eu quiser, posso até acelerar esse carro pra chegarmos mais rápido.
— Ah, por favor, querido. Que exemplo vai dar para suas filhas! Não é, Saori?
Saori está com o fone de ouvido dispersa dos demais e olhando a paisagem pela janela.
— Saori? Saori, filha?
Saori percebe que sua mãe a está chamando e tira o fone de ouvido, assustada, porque não percebeu que estava tão “distante”.
— Ah, desculpa, mãe, o que disse?
— Você tá no mundo da lua, garota.
— Não, não é nada, é que...
O pai interrompe, dizendo:
— Certamente ela tinha algum namoradinho lá em Kyoto e agora está com saudades dele, não é?
— Pai? Claro que não, que horror!
— Fala a verdade, uma moça bonita como você com certeza devia fazer sucesso entre os jovens do colégio.
— Ai, gente. Vai começar.
Mei diz:
— Filha, não se preocupe. No colégio novo, você vai poder fazer novas amizades, vai poder terminar o seu ensino médio e logo ir para a faculdade.
— Não, mamãe. Não é nada disso, a senhora sabe que eu fui uma das primeiras a concordar que realmente deveríamos nos mudar para Tóquio.
— Então o que aconteceu que está tão pensativa, filha?
— Nada, eu só estava pensando... No Takeru.
COLÉGIO INTERNO ZHANHG LI, HONG KONG, CHINA.
Um grupo de alunos uniformizados estão atentos à aula de um professor em sala, ele explica algumas coisas no quadro e o sinal toca.
— Bem, nos vemos amanhã na próxima aula, garotos!
Na última cadeira, ao lado da janela, se encontra Takeru Miyazaki (17 anos, 1,70, cabelos castanhos escuros e lisos), o irmão gêmeo de Saori. Foi mandado para um colégio interno após supostamente ser denunciado por tráfico de drogas em Kyoto.
Todos os alunos saem da sala, porém Takeru continua pensativo olhando pela janela.
O professor percebe a inércia do jovem e se aproxima.
— Miyazaki? Senhor Miyazaki?
— Ham? (Assustando-se) O que aconteceu?
— A aula já acabou.
Takeru observa que não tem mais ninguém na sala de aula.
— Ah... É... Foi mal, eu já estou de saída.
Ele guarda seu notebook e materiais na mochila e se retira da sala um pouco desorientado.
Cortamos para Takeru dentro do banheiro da escola lavando o seu rosto. Ele para um pouco para olhar o seu reflexo no espelho até ouvir um barulho dentro de um dos box do banheiro.
Takeru vira para o lado e não vê nada. Em seguida, olha para o espelho novamente e pôde ver pelo reflexo, um pé feminino branco e pálido descendo pela brecha de baixo da porta do box. Em seguida vê descendo o segundo pé.
Ele olha mais acima e vê uma mão feminina branca e meio azulada segurando a porta. Takeru começa a suar frio, seu coração palpita mais rápido a cada segundo. Ouve o barulho daquela porta se abrindo, ele não hesita e sai correndo do banheiro. Quando ele sai, vemos novamente a porta do box daquele banheiro e não há mais nada lá.
Takeru anda pelo corredor desnorteado, um de seus colegas topa com ele.
— Ei, Takeru-kun. O que tá havendo contigo? Essa semana você tá estranhão, hein?
— Não é nada, Sato. Estou de boa.
— Está mesmo? Você tá pálido, parece até que viu um fantasma.
— Já falei, eu estou legal.
— Ok... Se você está dizendo. Ah, o diretor Li quer falar com você.
— Comigo? O que eu fiz dessa vez?
— Nem me pergunte, irmão. Melhor você mesmo conferir.
— Merda!
GABINETE DO DIRETOR LI, 10 MINUTOS DEPOIS.
O diretor Li é um senhor de 55 anos, com cabelos metade grisalhos e metade pretos, robusto e usa óculos. Ele se encontra em sua mesa e Takeru bate na porta.
— Entre, senhor Miyazaki.
— Diretor Li, me chamou?
— Sim, por favor, sente-se.
— Eu... É... (sentando-se na cadeira) Me desculpe.
— Me desculpe pelo o quê?
— Eu não tenho prestado atenção nas aulas ultimamente. Ando muito distraído e talvez os professores estejam reclamando de meu desempenho.
— Não, jovem. Muito pelo contrário. Não te chamei aqui para fazer reclamações e sim, para te dar boas notícias.
— Boas notícias?
— Sim, sim. O conselho do internato e eu analisamos ultimamente o seu comportamento e... Não vemos motivos de você continuar aqui por mais um ano inteiro.
— Espera... É sério? Mas, diretor Li, o que eu fiz em Kyoto, foi...
— ... O passado precisa ficar no passado, jovem. Sabemos bem o que você fez, foi errado sim, mas você se arrependeu e veio pra esse internato em busca de redenção e disciplina. E pelo visto, teve um desempenho muito melhor do que alunos que estão aqui há mais de 2 anos.
— Então significa que... Eu vou pra casa?
— Sim, mas por enquanto... Não comente com ninguém, não queremos trazer mau agouro para boas notícias. Sabe como é, né? Aguarde a confirmação de todos os membros do conselho e te informo a data de sua saída. Obviamente iremos entrar em contato com os seus pais para que eles fiquem sob aviso.
— Muito, muito obrigado, diretor Li. (Ele se levanta e o saúda no formato tradicional japonês) Essa notícia alegrou o meu dia. Muito obrigado mesmo!
— Disponha, jovem, disponha.
Li espera que Takeru saia e se assenta na cadeira, suspirando e dizendo:
— Pobre rapaz, tão jovem e já passou por tantas coisas. Melhor mesmo ele ficar ao lado da família.
MANSÃO HIMURO, TÓQUIO, JAPÃO- MEIA HORA DEPOIS.
A caminhonete dos Miyazaki estaciona do lado de dentro da propriedade daquela mansão. Com o tempo, a casa ganhou uma “incrementada” com cômodos e andares a mais, e alguns objetos que não existiam antes como o elevador velho de serviço e o celeiro nos fundos da mansão.
Saori desce do carro e fica encantada com a estrutura daquela casa.
— Ai... Meu Deus! Por que não me falou que era uma mansão enorme como essa, mãe?
— Tinha que ser surpresa né, filha?
— Mas isso deve ter custado uma fortuna.
— Foi o resultado da minha comissão e as vendas de ações que fiz em Kyoto, minha filha. Recebemos um desconto dos grandes pra financiar essa mansão e sem juros.- Disse Kaiba.
Kato fica olhando para uma das janelas e fala com sua mãe.
— Quem é aquela moça?
— Que moça, filha?
— Aquela ali na janela.
Mei olha para a janela no andar de cima e não vê absolutamente nada.
— Ai, querida, é só a cortina da janela. Precisamos tratar da miopia dessa menina, querido.
Saori pega seu celular e tira algumas fotos. Ela mira na direção da janela em que Kato estava olhando e quando aperta o botão pra tirar a foto, seu pai interrompe.
— Ei, ei, blogueirinha, depois você tira um tempo para seus seguidores, vamos colocar as malas pra dentro. Vamos?
— Tá bom, pai.
Saori guarda o celular no bolso de sua saia jeans.
Eles entram na mansão, Saori e Kato ficam admiradas com o que estão vendo.
— Uauu!! Essa casa é enorme, mana!
— É, Kato. Mas ainda sim é pequena pra caber uma cabeçuda como você.
— Eu não sou cabeçuda, você que é.
— Eu não, você que é, sua pestinha! Corre que eu vou te pegar!
Kato sai correndo pela casa e Saori vai atrás dela.
Mei as repreende.
— Ei, meninas! Não fiquem correndo pela casa, vocês ainda não a conhecem e podem se perder.
— Tudo bem, cabeçona. Vamos parar de correr senão a mamãe não vai dar lámen pra a gente comer hoje.
— Nós iremos mostrar os quartos que vocês vão ficar.
Minutos mais tarde, Saori está conhecendo o seu quarto. É grande, aconchegante, com uma cama redonda e cortinas de seda vermelhas na cabeceira.
— Ai, meu Deus! Que quarto é esse, mãe?
— Gostou, filha? Pedi pra deixarem a decoração mais ou menos parecida com o que você gosta.
— Tá brincando? Eu amei!
— O quarto da Kato vai ser o do lado, o nosso fica no fim do corredor, mas caso você queira trocar, o que não falta são quartos nessa casa.
— Pra mim está ótimo, mamãe. Obrigada!
SALA DE JANTAR, NOITE.
Kaiba, Mei, Saori e Kato estão felizes ao pé da mesa jantando o famoso lámen feito por Mei. Kaiba serve as meninas.
— Como se comportaram, as filhas mais lindas do mundo merecem um jantar digno.
— Oba!!! Vou comer tudo, papai!
— Isso mesmo, meu docinho. Coma pra ficar forte que nem o papai.
Duas horas após o jantar, Mei está colocando Kato para dormir em sua cama. Ela dá um beijo em sua testa, a cobre com o cobertor e, em seguida, se retira.
Ela está no corredor, se dirige ao quarto de Saori batendo na porta. De dentro, se escuta a voz dela.
— Entra!
Mei abre a porta. Entra. E a fecha em seguida.
— Oi, querida! Vim primeiramente avisar que amanhã vou levar você e a Kato para o novo colégio. O mais perto fica há uns 3 quilômetros daqui. De bicicleta vocês conseguem chegar lá em 15 minutos.
— Sem problemas, mãe.
— Ah! O teu pai já vai começar a trabalhar na nova construtora amanhã e eu também consegui um emprego em um ateliê. Mas eu só vou começar depois de amanhã, então tanto eu quanto o seu pai ficaremos muito tempo fora de casa durante os dias de semana. Peço que tenha um pouco de paciência para cuidar de sua irmã enquanto não temos condições de contratar empregados.
— Não se preocupe, qualquer coisa eu jogo a pestinha naquele elevador de serviço.
— Saori?
— Estou brincando, mãe. Vai ficar tudo bem. Pode confiar em mim.
— Bom, sendo assim... Vou me deitar. Boa noite, filha!
— Boa noite, mãe.
Mei se levanta, vai até a porta, mas, em seguida, decide voltar para a direção de Saori novamente.
— Saori...
— Sim?
— Eu... (Sentando-se na cama) Eu sei que sente falta do teu irmão e sei que mudar para Tóquio talvez tenha sido demais pra você, mas... Peço que tenha paciência conosco.
— Eu não estou brava, mãe. Muito pelo contrário. E sobre o Takeru... Eu nem sei se ele sente falta de mim, então acho que estou me preocupando a toa.
— Você sabe que foi para o bem dele, né? Que o mandamos para Hong Kong.
— É claro que sim, ele fez coisa errada e vocês quiseram corrigi-lo, pode ter certeza que se tivesse sido eu, vocês teriam feito o mesmo.
— Que bom que você entende. Mas agora preciso te fazer uma pergunta, mocinha.
— O quê?
— Nunca conversamos sobre isso, mas acho que está na hora de eu perguntar... Você tinha alguém em Kyoto? Algum garoto?
— Mãe? Claro que não.
— Tem certeza?
— Claro que tenho, não vou negar que tive sim alguns crushes na escola, mas nunca me envolvi com nenhum deles.
— Bom... Por um lado, isso me deixa aliviada. É que... Eu ainda não estou pronta pra te ver crescer, filha. Sei que tem 17 anos, mas... Espero que demore muito pra eu ter que lidar com isso, entende?
— Eu entendo, mãe. Não se preocupe, eu serei sempre a sua menininha.
Mei sorri e beija a testa de Saori.
— Bom, boa noite então.
— Boa noite, mãe.
COLÉGIO INTERNO ZHANG LI, HONG KONG, 23H30.
No quarto coletivo masculino onde há várias camas beliches enfileiradas como se fosse um quartel, está Takeru em uma dessas camas deitado e observando uma fotografia no qual podemos ver apenas um pouco do cabelo dele, e possivelmente há outra pessoa nesta foto.
Ele suspira, guarda a foto debaixo do travesseiro, vira para o lado e começa a pensar em várias coisas. Vozes de lembranças passadas se passam pela sua cabeça. Um semblante de nostalgia e também de solidão pairam sob seus olhos fazendo com que o jovem, aos poucos, liberasse pequenas lágrimas que violavam seu rosto.
Na calada da noite, ele escondia os sussurros abafados da saudade em seu peito, para que nenhum dos outros garotos saibam o que se passa na sua mente.
MANSÃO DOS MIYAZAKI, TÓQUIO, MANHÃ.
Saori está terminando de se arrumar em frente à penteadeira de seu quarto e ouve a voz de sua mãe.
— MENINAS! Vamos, caso contrário iremos nos atrasar!
— Já estou indo, mãe!
Saori pega a mochila, coloca nas costas e sai do quarto. Ela se aproxima da escada e quando chega perto dos degraus, sente uma leve tontura e alguns lapsos de memória envolvendo uma escadaria.
Ela se afasta, encosta na parede, fecha os olhos, suas mãos começam a tremer, tenta respirar, mas respira com muita dificuldade. Se levanta ainda encostada na parede, mas não se atreve a dar nenhum passo.
Ainda de olhos fechados, ela sente a mão pequena de Kato segurando na dela.
— Vamos, mana. Eu te ajudo!
— Kato?
— A mamãe me disse que de vez em quando você tem medo de descer as escadas, então ela disse que sempre que isso acontecer, era pra eu te ajudar a descer.
Kato segura na mão da irmã e a ajuda a descer degrau por degrau. Saori fica o tanto envergonhada, mas ao mesmo tempo emocionada com o carinho e ternura da irmã.
As duas descem até o final das escadas, Mei aparece e fica olhando pra elas.
— Tá tudo bem aqui?
— Mamãe, eu ajudei a Saori a descer as escadas como a senhora pediu.
Mei olha para Saori, ela não diz nada, apenas consente com a cabeça, pois está o tanto constrangida com a atitude da irmã.
COLÉGIO YAMATO, TÓQUIO, MANHÃ.
Uma professora em sala de aula pede para que os alunos façam silêncio. Todos eles se assentam em suas cadeiras e ficam quietos.
— Alunos, hoje quero que vocês conheçam uma aluna nova que acaba de chegar de Kyoto. Por favor, entre querida.
Saori entra na sala segurando a sua mochila com as duas mãos para frente. Ela já se encontra com o uniforme tradicional da escola.
— Esta é Saori Miyazaki, se mudou recentemente para Tóquio e agora vai estudar o seu último ano letivo aqui conosco. Saori?
— Muito prazer a todos! Sou Saori, tenho 17 anos, moro com meus pais e minha irmã mais nova Kato, e será um prazer estudar com vocês.
Todos em uníssono:
— Muito prazer, senhorita Saori!
— Saori, querida, procure uma mesa vazia e acomode-se.
— Obrigada!
Saori começa a procurar uma carteira vazia e uma das garotas mais atrás, uma jovem de cabelos castanhos claros usando ele amarrado em formato de rabo de cavalo e uma franja, acena pra Saori.
— Aqui!
Saori se dirige para aquela carteira que fica do lado da jovem. Ela se assenta e a jovem a cumprimenta.
— Muito prazer, eu me chamo Aeka Shijimori, os meus pais também são de Kyoto, bem vinda a Tóquio!
— O prazer é meu, senhorita Aeka. E muito obrigada.
— Não se preocupe, os alunos dessa escola são bem receptivos, vai se dar bem aqui.
— Isso me tranquiliza.
QUADRA DE ESPORTES DO COLÉGIO INTERNO ZHANG LI, HONG KONG.
Os rapazes estão encerrando uma partida de futebol. Um dos colegas acena para Takeru.
— Takeru, passa a bola pra mim!
Takeru tenta driblar o adversário para passar a bola para o seu amigo, mas decide tentar a sorte e acertar um chute. Mas seu chute acaba pegando torto na bola e ela bate na trave. O tempo acaba e o instrutor apita.
— JOGO ENCERRADO, MENINOS!
Takeru sai da quadra decepcionado com seu desempenho. Sato se aproxima dele.
— Por que não passou a bola, irmão?
— Ah não sei. Deixa pra lá. Vou pro chuveiro.
VESTIÁRIO DO COLÉGIO INTERNO ZHANG LI.
Takeru está tomando um banho quente antes que os outros alunos cheguem. Após ficar minutos em inércia deixando a água cair em seu corpo, ele desliga o chuveiro e enrola a toalha em sua cintura.
O banheiro fica cheio do vapor do chuveiro e Takeru ouve um barulho lá dentro.
— Sato? É você?
Nenhum sinal de Sato.
— Oi! Rapazes, é algum de vocês?
Takeru anda descalço pelo banheiro e procura de onde vem esse barulho. Ele está confuso e não consegue enxergar nada por conta do vapor. Abre passagem para os espelhos fazendo esforço para enxergar algo e quando olha bem para o vidro. Há uma mensagem escrita com o vapor.
“FOI VOCÊ”.
Takeru se assusta e cai para trás. Ele respira ofegante durante alguns segundos e, em seguida, os outros alunos entram de uma vez no vestiário. Aquele vapor intenso do chuveiro já não estava mais ali, os garotos estranham ao ver Takeru ali no chão só de toalha e com a cara assustada olhando para os espelhos.
Sato se aproxima dele, dizendo:
— Takeru-kun? Tá tudo bem?
Takeru olha para Sato, se levanta e, em seguida, sai do vestiário.
COLÉGIO YAMATO, TÓQUIO.
É hora do recreio e Saori está sentada no batente do corredor externo da escola com Aeka conversando.
— ... E nesse dia eu fiquei de recuperação em Matemática e quase surtei, tinha que ver.
— Nossa, Aeka. Que triste! É horrível ficar de recuperação em uma matéria.
— Nem me fale!
Duas garotas se aproximam e ficam em pé conversando na frente delas duas.
— Ai, para Sakura! Sabe que eu não gosto dessas histórias.
Aeka pergunta:
— O que tá havendo, meninas?
— Ai, Aeka, a doida da Sakura me contando essas histórias de terror, depois eu não durmo de noite.
— Não, mas eu estava falando pra Kaoro que essa história realmente aconteceu.
Aeka pergunta à elas enquanto Saori se mantém em silêncio, escutando.
— E o que é, Sakura?
— Foi um incidente de possessão demoníaca que teve há dois anos atrás em um asilo de freiras na Irlanda. Ouvi dizer que uma certa noite, todos os velhinhos daquele asilo ficaram possuídos por uma força demoníaca.
Saori não pode deixar de ficar intrigada com aquilo que escutou.
— Ai, que horror! Onde você ouviu isso, garota? – Pergunta Aeka.
— Como assim, gente? Vocês não ficaram sabendo? Saiu em todos os jornais. Vejam!
Ela mostra uma reportagem através de seu celular com a foto de várias freiras reunidas e os títulos em cada nota:
INCIDENTE MACABRO NO ASILO STA. ÁGATHA NA IRLANDA DO NORTE- VATICANO INVESTIGA CASO DE POSSESSÃO DEMONÍACA- MADRE SUPERIORA É PRESA POR SUPOSTAMENTE ASSASSINAR COLEGAS- INCÊNDIO NO ASILO STA. ÁGATHA, FOI OBRA DE SATÃ? .
— E vejam nessa outra reportagem, tem a foto dessa moça. Ouvi dizer que ela realizou um exorcismo sozinha.
QUEM É OLÍVIA BROWN? ENFERMEIRA DE 32 ANOS REALIZA RITUAL SAGRADO SEM AUXÍLIO SACERDOTAL.- SANTA OU UMA FRAUDE?
Saori após muito ouvir e ver aquelas informações, questiona:
— Mas... Vocês acreditam nessas histórias? Será que não é apenas um marketing exagerado pra poder promover o asilo?
Kaoro responde:
— Olha, eu não sei, mas só de pensar nessas coisas de fantasmas e demônios, eu já fico toda arrepiada. Vou maratonar todos os episódios de “Baby Looney Toones” e esquecer que tivemos essa conversa.
Kaoro sai. Sakura a segue. Aeka fala com Saori:
— Ai que doideira! Você não acredita nisso, não é, Saori?
Saori fica um tempo inerte olhando para o “nada”.
— Saori? Saori?
Aeka chama ela mais algumas vezes, e de repente, a sua voz fica grave e grossa, com uma entonação assustadora.
— SAORI!
— AHHHHH!
— Ei, calma. O que aconteceu?
— Não é nada, Aeka. Eu só... Eu não tenho dormido muito bem esses dias, mas eu estou legal.
MANSÃO DOS MIYAZAKI, TÓQUIO, 7 DA NOITE.
Na sala de jantar, Kaiba havia chegado mais cedo pra poder comer ao lado de sua família. Kato está animada contando tudo para os pais como foi seu primeiro dia de aula, enquanto Saori fica mexendo no macarrão sem comer ou falar uma só palavra.
— ... Que bom, meu anjinho! Papai tá orgulhoso de você. E você, Saori? Como foi teu dia?
Saori fica dispersa em seus pensamentos.
— Saori!
— Ham? Oi, pai!
— O que houve, filha?
Mei diz:
— Ela tá assim desde que a busquei na escola.
— Não, eu estou bem, é que...
O telefone de Mei toca.
— Mas quem será? Espera um minutinho, gente. Vou atender.
Mei sai um pouco da sala de jantar e fica na porta para atender a ligação.
— Alô? (T). É ela, quem gostaria? (T) Ow, claro, claro. Algum problema? (T) Ai, meu Deus! É sério? (Olhando para a família na mesa) (T) Não, pra mim está ótimo, não se preocupem que vamos providenciar tudo. Muito obrigada!(T) Ok, aguardo novamente o seu contato. Até logo!
Mei desliga o telefone e volta para a sala de jantar com um sorriso no rosto. Kaiba questiona:
— O que houve, Mei?
— Tenho ótimas notícias! Takeru foi dispensado do colégio de Hong Kong por bom comportamento. Ele vai voltar pra casa!
Kato comemora, enquanto Saori parece reagir com indiferença com a notícia, como se “tanto fez como tanto faz”, o seu irmão gêmeo voltar ou não para casa.
COLÉGIO INTERNO ZHANG LI, HONG KONG, 9 DA NOITE.
Takeru está escovando os dentes para ir deitar. Ele cospe na pia, lava o rosto e quando começa a se secar com a toalha, ouve aquele mesmo barulho vindo de um dos box do banheiro e uma voz distorcida o chamando.
— Por favor, de novo não, de novo não, de novo não.
Takeru fica de cabeça baixa para a pia. Suas mãos começam a tremer.
— Não é real, não é real, não é real.
Vemos algo se aproximando de Takeru enquanto ele está de costas virado para a pia.
Ele continua a sussurrar pra ele mesmo, até uma mão encostar na mão dele.
— AHHHHHHHHH!
— Calma, Takeru. Sou eu!
— Sato-kun?
Takeru se agacha na parede do banheiro com dificuldade para respirar, Sato segura em sua mão. Outro companheiro se encontra ali.
— Calma, Takeru. Você está tendo uma crise de pânico. Ryota, me ajuda aqui com ele.
— É pra já.
Enquanto Sato era alto, de pescoço longo e tinha o cabelo tingido de loiro, Ryota tinha quase a mesma altura de Takeru, branco de cabelos castanhos escuros e usa óculos.
Os dois amigos ficam um do lado do outro segurando na mão de Takeru.
— Por que estão fazendo isso? Por que estão aqui?
— Não é a primeira vez que vemos que você sofre de algumas crises, Takeru.- Disse Sato.
— É verdade, às vezes você chora à noite.
— Vocês... Já me ouviram?
— Algumas vezes, nunca falamos nada porque você sempre manteve essa pose de durão e não queria que você pensasse que a gente era babaca. – Responde Ryota.
— Por favor... Sato-kun, Ryota-kun... Não conte nada disso ao diretor Li e nem a ninguém. Se souberem que estou tendo essas crises... Não vão me deixar voltar pra casa.
— Pode contar conosco... Takeru-kun.- Disse Sato.
Os três jovens ficam mais um tempo ali naquele banheiro até Takeru finalmente se acalmar.
MANSÃO DOS MIYAZAKI, QUARTO DE KATO, MEIA- NOITE.
Kato está dormindo tranquilamente em sua confortável cama até ouvir uma estranha voz a chamando.
— KAAATOO... KATO!
Kato começa a mexer os olhos se esforçando para acordar.
— KAAATO... VEM BRINCAR COMIGO!
Kato, ainda sonolenta, fica sentada na cama, um pouco confusa.
— Mana? Mana, é você?
— VOU TE MOSTRAR ALGO BEM LEGAL, KATO.
A porta do armário do quarto começa a se abrir lentamente. Kato arregala os olhos e sente o ranger daquela porta torturando os seus ouvidos enquanto uma angústia involuntária domina o seu jovem coração.
A pequena garota fica angustiada, olhando para o breu que está dentro daquele armário.
— Sa... Saori-chan? É você?
A garota continua olhando para aquela escuridão. Quando nos aproximamos mais do armário, vemos um olho arregalado se abrindo no meio da penumbra do armário. O grito e choro de Kato é inevitável.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH!!! PAPAI, MAMÃE!
Saori ouve os gritos da irmã de seu quarto e imediatamente, se levanta da cama, corre pra lá. Já no corredor, ela se desespera buscando pela irmã.
— KATO! KATO!
Saori entra de uma vez no quarto e vê Kato chorando em cima da cama abraçada ao seu coelho de pelúcia.
— KATO, O QUE ACONTECEU? (Sentando-se na cama e abraçando-a)
— UM MENINO! TEM UM MENINO DENTRO DO ARMÁRIO!
— O quê?
Saori olha para o armário, a porta já está fechada novamente. Kaiba e Mei chegam em seguida.
— O que está acontecendo aqui?
— Saori, o que houve com a Kato?
— Eu não sei, mãe!
— Mamãe, tem um menino dentro do meu armário.
— O quê? Querida, você deve ter tido um pesadelo.
— Não, não era um pesadelo. Eu ouvi a voz dele. Ele disse que eu não devia estar aqui nessa casa, que eu sou uma intrusa e que se a gente não sair dessa casa por bem, eles vão nos expulsar por mal.
Saori olha para Kato assustada e, em seguida, olha para a sua mãe e ela olha para Kaiba, e os 3 ficam totalmente intrigados.
COLÉGIO INTERNO ZHANG LI, DORMITÓRIO.
Takeru está se retorcendo no beliche como se tivesse tendo um pesadelo. Seu rosto está suando muito e ele não entende o que está acontecendo. Vozes podem ser ouvidas, até que uma específica se manifesta ainda mais forte, dizendo:
— VOLTE E PROTEJA AS SUAS IRMÃS!
Takeru acorda de uma vez, gritando:
— SAORI-CHAN!!!
MANSÃO DOS MIYAZAKI, QUARTO DE KATO.
Kaiba fica olhando para o armário do quarto e fala com Saori.
— Saori, leve a sua irmã daqui. Eu mesmo vou me encarregar disso.
— Mas papai?
— Querido, o que pensa que vai fazer?
— Se realmente tem alguém dentro desta casa, é meu dever proteger minha família. Rápido, Saori! Tire a Kato daqui!
— Tá bom.
Saori pega Kato no colo e sai do quarto.
— PAPAI, CUIDADO! ELE TÁ AÍ DENTRO!
As duas saem do quarto. Kaiba se aproxima do armário.
— Querido, por favor, cuidado.
— Se realmente tem alguém aí dentro, você tem 10 segundos para sair desse armário ou eu juro que chamo a polícia!
Mei segura as duas mãos, aflita.
— Dez...
No corredor, Saori e Kato estão correndo desesperadas vindo na nossa direção. Enquanto correm, sem elas perceberem, lá no fundo do corredor, uma mulher vestida de branco passa caminhando de um lado para o outro até sumir de nossa vista.
— Mana, eu estou com medo!
— Calma, Kato. Vai ficar tudo bem.
As duas entram no quarto de Saori. Ela coloca Kato em cima de sua cama.
No quarto de Kato, Kaiba continua a contagem.
— Sete, seis...
No quarto de Saori, ela procura por seu celular.
— O que você está fazendo, mana?
— Vou chamar a polícia. Se houver algum invasor dentro de casa, ele precisa ser preso.
No outro quarto, Kaiba está terminando sua contagem.
— Três... Dois... Um...
No quarto de Saori, as luzes começam a piscar, Kato olha para cima e fica cada vez mais desesperada.
Saori, nervosa, pegando no celular, acaba acessando sem querer sua galeria de fotos. Ela abre a última foto que tirou do lado de fora da mansão no dia que chegou e seus olhos se arregalam como nunca. Ela coloca a outra mão na boca sentindo o ar lhe sufocando diante do que está vendo na tela.
No outro quarto, Kaiba abre o armário de vez e sua expressão de valentia e determinação, muda significativamente.
— Ai, meu Deus do céu!
E no quarto de Saori, ela continua imóvel fazendo para o celular, com o choro entalado na garganta sentindo que o mundo irá desabar em cima dela naquele momento.
— Meu... Meu Deus.
Kato aponta para algo e grita:
— MANA, CUIDADO!
Saori deixa o celular cair, vira para trás e se assusta diante do que vê, exalando um grito desgarrador.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH!
O pesadelo daquela mansão só estava começando.